( Narrado por Saulo )...
ㅡ Como assim você não contou para a Elizah, Saulo? ㅡ Spencer questionou andando de um lado para o outro na minha frente enquanto eu apenas o observava. Sabia que viria uma bronca daquelas enormes.
Já havia amanhecido, começado outro dia. Dia que se iniciou de um jeito que me deixou com um ar mais leve e mais relaxado depois do que aconteceu ontem na praça.
Agora eu estava na casa do Spencer, a Daniela tinha arrumado uma entrevista para fazer e os pais deles não estavam em casa. Felizmente, teria um tempo para conversar com o meu amigo sem que ninguém atrapalhasse.
ㅡ Não contei, Spencer, euem. Simples. ㅡ Dou de ombros fingindo que estava tudo bem. O que, na verdade, era nítido que não estava. A Elizah é enfermeira, entende sobre medicina e tá na cara que ela está desconfiada e é nítido que ela não vai sossegar até ter os exames na mão dela.
ㅡ E você diz isso na maior naturalidade? ㅡ Spencer me encarou. Eu conheço o Spencer faz anos, e esses anos fez com que a nossa amizade virasse uma irmandade maravilhosa. Spencer, como o mais velho, me dava bronca e dizia tudo que eu tinha de certo para fazer.
ㅡ É claro que não tá sendo natural, Spencer. ㅡ Cruzei meus braços. ㅡ Você acha que eu não tô preocupado?? Tá na cara que a Elizah não vai me deixar em paz até eu ir a merda do hospital.
ㅡ Mas você já foi, já sabe o que você tem, e mesmo assim não quer contar para a garota que você ama! ㅡ Ele reclamou. ㅡ Saulo, isso não vai dá certo. Ela é inteligente, teimosa, curiosa, insistente e ainda POR CIMA é enfermeira. Faça-me o favor, né! Não vai demorar muito para ela descobrir a verdade.
ㅡ Você é meu amigo ou o quê? ㅡ Encarei-o. ㅡ Não precisa jogar na minha cara.
ㅡ Como seu melhor amigo, preciso sim! ㅡ Ele bateu o pé no chão. ㅡ Saulo, você tá com um maldito tumor no cérebro. Faz dias que você já sabe disso, mas ainda sim não quer contar para a garota que claramente te ama ao ponto de sair do hospital correndo só pra ver você.
ㅡ Ah, eu sei... ㅡ Suspirei abaixando meus ombros cabisbaixo. ㅡ Me sinto mal por estar mentindo pra ela, mas eu não quero contar que o homem que ama ela está com um tumor cerebral.
ㅡ Mas não é mentindo pra ela que vai resolver as coisas, Saulo ㅡ Spencer me encarou sério. Uma coisa que eu sabia muito bem do Spencer é que ele odiava quando via alguém mentindo pra a outra. ㅡ Ou então eu vou contar para ela. E você sabe que é melhor ela saber por você.
ㅡ Não quero que ela saiba do meu terrível estado. ㅡ Murmurei. ㅡ Além disso tem a minha mãe... o Sammy...
ㅡ Exatamente, Saulo! Ainda tem a sua mãe e o seu irmão que precisam de você agora! ㅡ Spencer exclamou. ㅡ O seu pai não está mais com eles.
ㅡ Agradeço muito por isso, tá legal? ㅡ Ergui uma das sombracelhas. ㅡ Prefiro ele na cadeia do que machucando a minha mãe.
Olhei para o chão fixamente me lembrando do dia que eu passei mal e que prometi pra ela que iria no hospital no dia seguinte. E, naquele dia, descobri a verdade sobre meu estado...
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ㅡ Voltei, Sr Borges. ㅡ O médico de jaleco se apresentou na minha frente após passar uma hora depois do exame que fizemos. ㅡ Aqui está o resultado dos seus exames.
ㅡ E o que diz ai? ㅡ Esfreguei minhas mãos aflito esperando que tudo não passasse de uma fase ruim na minha vida.
ㅡ Fizemos uma bateria de exames procurando algo de errado com o seu organismo, felizmente não achamos nada nem algum tipo de doença. Mas... ㅡ O doutor olhou para a pasta em sua mão fazendo uma expressão triste. Meu coração deu um pulo na mesma hora. ㅡ Até que fizemos um exame na sua cabeça e detectamos um tumor.
ㅡ Tumor??? ㅡ Levantei-me da cadeira com os olhos arregalados.
ㅡ Infelizmente, você está com um tumor cerebral. ㅡ O doutor terminou de falar e abaixou a cabeça.
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ㅡ Eu te dou dois dias para falar com a Elizah, Saulo. Ou então eu conto! ㅡ Spencer bateu em meus ombros.
ㅡ Por que você quer que eu conte, Spencer??? Ela vai ficar melhor se não souber. ㅡ Franzi minhas sombracelhas me sentindo um idiota. Eu odiava estar naquela situação, odiava saber de uma doença daquele jeito, odiava me sentir um idiota por não contar a Elizah toda a verdade. ㅡ Não quero ver o rosto dela triste por minha culpa.
ㅡ Você não tá pensando nela.
ㅡ É o que eu mais tô fazendo. ㅡ Resmunguei desencostando minhas costas da parede antes de andar até a porta. ㅡ Eu vou pensar no que eu faço, ok? Vou buscar a minha mãe enquanto isso. ㅡ Falei fechando a porta, no entanto, pude ouvir a voz do Spencer.
ㅡ Você só tem dois dias!
Revirei meus olhos saindo da casa dele colocando minhas duas mãos no bolso da minha calça, andando na direção contrária para ir ao ponto que tinha a duas quadras dali.
[...]
Saulo- Dani, você me conhece muito bem. Por isso que eu quero que você me ajude.
Dani- A Elizah é minha amiga, Saulo, não quero mentir pra ela.
Saulo- Você não vai estar mentindo, Daniela! É só... fingir que não sabe de nada. E você faz muito bem isso.
Dani- Não precisa me jogar na cara.
Saulo- Vai me ajudar ou não?
Dani- Sim, querido Saulo. O que você quer que eu faça?
Saulo- Quero fazer uma surpresa pra ela. Preciso que você e os meninos me ajudem.
Dani- A Kath conhece ela mais do que eu, ok? Vou falar com ela.
Saulo- Ótimo! Você é incrível, Daniela! Muito obrigada!
Dani- Hm. Bye bye, Saulo!
Respirei fundo tirando o celular de perto da orelha, olhando para a frente percebendo que a minha mãe já estava saindo da sala. Diferente do que que ela chegou aqui, os machucados estavam menos visíveis. Isso me fez suspirar aliviado.
ㅡ Mãe! ㅡ Chamei-a levantando da cadeira e correndo até ela. Ao chegar perto dela abracei-a com vontade.
ㅡ Oh, meu amor! ㅡ Ela me abraçou em seguida. ㅡ Saulo, você tá tão magrinho. Tá sem comer?
ㅡ Ah... ㅡ Abaixei minha cabeça sentindo uma dor no peito ao imaginar a reação da minha mãe ao souber. ㅡ Tenho que lhe contar tanta coisa mãe, entretanto, você vai conhecer a sua nora e ver o seu filho que está morrendo de saudade de você. ㅡ Peguei a bolsa da mão dela, segurei o seu braço e puxei-a pra fora do hospital.
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Um Teto para Dois
RomanceElizah e Saulo se odiavam. Desde que se conheceram nunca se entenderam, com personalidades fortes e orgulhosas nem passava pela cabeça deles que um dia morariam juntos. Como um belo e velho clichê, o destino, ou não, fez com que um sorteio de divisã...