40_ O almoço.

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ㅡ E então, Saulo... ㅡ Meu pai falava sacudindo o copo de suco em sua mão enquanto observava atentamente o Saulo que estava do meu lado na cadeira.

Naquela altura, estávamos todos sentados a mesa almoçando. Pelo resto da manhã eu passei preparando o almoço com a ajuda do Saulo, enquanto isso o Samuel assistia desenhos.

Na maior parte do tempo eu ensinei várias vezes o Saulo a preparar, simplesmente, um arroz. O que resultou em água saindo da panela e o arroz quase queimando.

No final, eu obriguei ele a limpar toda bagunça enquanto eu arrumava o resto das coisas. Agora, estávamos no meio do almoço, todos em completo silêncio.

Eu odiava quando o meu pai dava uma de doidão e pai protetor.

ㅡ Você trabalha com o que? ㅡ Meu pai ergueu uma das sombracelhas.

ㅡ É sério, pai? ㅡ Fiz uma careta olhando para o homem sentando na ponta da mesa.

ㅡ Só estou perguntando, querida. ㅡ O tom de voz do meu pai, nitidamente, era de sarcasmo.

ㅡ Eu trabalho em um food-truk, senhor. ㅡ Saulo respondeu.

ㅡ Food-truk?

ㅡ É uma van que vende comidas, querido. ㅡ Minha mãe falou antes que eu abrisse a minha boca.

ㅡ E lá vende um monte de comidas legais e gostosas! ㅡ Samuel falou num tom animado me fazendo sorri.

ㅡ E você cozinha?

ㅡ Na verdade, não. ㅡ Saulo negou. ㅡ Eu só sei fazer sanduíches, mas o que eu faço lá é só anotar os pedidos. Eu sou um inútil na cozinha.

ㅡ Então você acha que a minha filha deve ser uma dona de casa que só cozinha por dois? ㅡ A pergunta do meu pai me fez revirar os olhos.

ㅡ Pai... ㅡ Repreendo-o. Ele só deu um sorriso debochado dando de ombros. Ele era tão cínico.

ㅡ Não, senhor. A sua filha cozinha muito bem, eu gosto da comida dela, mas ainda sim não acho que isso seja apropriado pra ela. Até porque ela é enfermeira, e passa mais tempo fora de casa do que eu. ㅡ Saulo respondeu em seguida me fazendo olha-lo surpresa. ㅡ Ela faz um trabalho incrível no hospital, e eu vejo o quanto ela chega cansada. Tenho orgulho dela.

Abaixei minha cabeça dando um sorriso tímido. Ouvir as palavras dele me pegou totalmente de surpresa.

ㅡ Hm. ㅡ Meu pai murmurou. ㅡ E os seus pais? O seu pai trabalha?

Pus minha mão na testa sentindo que aquela conversa não tinha chegado há um bom lugar.

ㅡ Pai, não é... ㅡ Saulo me interrompeu.

ㅡ A minha mãe trabalha como faxineira, mas ela está no hospital nesse momento por causa do meu pai que bateu nela. ㅡ Naquele momento, encarei novamente o Saulo surpresa por ele ter falado daquele assunto. ㅡ E o meu... meu pai está preso.

Um silêncio pairou pela cozinha assim que o Saulo terminou de falar. A minha mãe comia em silêncio, meu pai encarava o Saulo sem dizer uma palavra.

Toquei na mão do Saulo por debaixo da mesa me sentindo mal por a parte em que aquela conversa louca chegou.

Aquele almoço se seguiu em completo silêncio sem que todos voltasse a falar em outro assunto, ou qualquer outra coisa que rendesse mais momentos constrangedores. No final, a sobremesa foi posta na mesa até que todos terminaram e o Samuel foi brincar com os seus carrinhos.

ㅡ Você gosta do seu trabalho, Saulo? ㅡ Meu pai, com outra pergunta, quebrou o silêncio que se instalou pela cozinha.

ㅡ Sim. ㅡ Saulo assentiu. ㅡ Mesmo que não seja um trabalho que renda rios de dinheiro, eu gosto bastante de ter contato com as pessoas e saber que ela gosta do meu atendimento e da comida da minha parceira.

Um Teto para DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora