ㅡ E então, Saulo... ㅡ Meu pai falava sacudindo o copo de suco em sua mão enquanto observava atentamente o Saulo que estava do meu lado na cadeira.
Naquela altura, estávamos todos sentados a mesa almoçando. Pelo resto da manhã eu passei preparando o almoço com a ajuda do Saulo, enquanto isso o Samuel assistia desenhos.
Na maior parte do tempo eu ensinei várias vezes o Saulo a preparar, simplesmente, um arroz. O que resultou em água saindo da panela e o arroz quase queimando.
No final, eu obriguei ele a limpar toda bagunça enquanto eu arrumava o resto das coisas. Agora, estávamos no meio do almoço, todos em completo silêncio.
Eu odiava quando o meu pai dava uma de doidão e pai protetor.
ㅡ Você trabalha com o que? ㅡ Meu pai ergueu uma das sombracelhas.
ㅡ É sério, pai? ㅡ Fiz uma careta olhando para o homem sentando na ponta da mesa.
ㅡ Só estou perguntando, querida. ㅡ O tom de voz do meu pai, nitidamente, era de sarcasmo.
ㅡ Eu trabalho em um food-truk, senhor. ㅡ Saulo respondeu.
ㅡ Food-truk?
ㅡ É uma van que vende comidas, querido. ㅡ Minha mãe falou antes que eu abrisse a minha boca.
ㅡ E lá vende um monte de comidas legais e gostosas! ㅡ Samuel falou num tom animado me fazendo sorri.
ㅡ E você cozinha?
ㅡ Na verdade, não. ㅡ Saulo negou. ㅡ Eu só sei fazer sanduíches, mas o que eu faço lá é só anotar os pedidos. Eu sou um inútil na cozinha.
ㅡ Então você acha que a minha filha deve ser uma dona de casa que só cozinha por dois? ㅡ A pergunta do meu pai me fez revirar os olhos.
ㅡ Pai... ㅡ Repreendo-o. Ele só deu um sorriso debochado dando de ombros. Ele era tão cínico.
ㅡ Não, senhor. A sua filha cozinha muito bem, eu gosto da comida dela, mas ainda sim não acho que isso seja apropriado pra ela. Até porque ela é enfermeira, e passa mais tempo fora de casa do que eu. ㅡ Saulo respondeu em seguida me fazendo olha-lo surpresa. ㅡ Ela faz um trabalho incrível no hospital, e eu vejo o quanto ela chega cansada. Tenho orgulho dela.
Abaixei minha cabeça dando um sorriso tímido. Ouvir as palavras dele me pegou totalmente de surpresa.
ㅡ Hm. ㅡ Meu pai murmurou. ㅡ E os seus pais? O seu pai trabalha?
Pus minha mão na testa sentindo que aquela conversa não tinha chegado há um bom lugar.
ㅡ Pai, não é... ㅡ Saulo me interrompeu.
ㅡ A minha mãe trabalha como faxineira, mas ela está no hospital nesse momento por causa do meu pai que bateu nela. ㅡ Naquele momento, encarei novamente o Saulo surpresa por ele ter falado daquele assunto. ㅡ E o meu... meu pai está preso.
Um silêncio pairou pela cozinha assim que o Saulo terminou de falar. A minha mãe comia em silêncio, meu pai encarava o Saulo sem dizer uma palavra.
Toquei na mão do Saulo por debaixo da mesa me sentindo mal por a parte em que aquela conversa louca chegou.
Aquele almoço se seguiu em completo silêncio sem que todos voltasse a falar em outro assunto, ou qualquer outra coisa que rendesse mais momentos constrangedores. No final, a sobremesa foi posta na mesa até que todos terminaram e o Samuel foi brincar com os seus carrinhos.
ㅡ Você gosta do seu trabalho, Saulo? ㅡ Meu pai, com outra pergunta, quebrou o silêncio que se instalou pela cozinha.
ㅡ Sim. ㅡ Saulo assentiu. ㅡ Mesmo que não seja um trabalho que renda rios de dinheiro, eu gosto bastante de ter contato com as pessoas e saber que ela gosta do meu atendimento e da comida da minha parceira.
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Um Teto para Dois
RomanceElizah e Saulo se odiavam. Desde que se conheceram nunca se entenderam, com personalidades fortes e orgulhosas nem passava pela cabeça deles que um dia morariam juntos. Como um belo e velho clichê, o destino, ou não, fez com que um sorteio de divisã...