-- Você tomou banho hoje? -- Olhos âmbar grandes e incrédulos quase beijaram os meus.
-- Eu lavei o rosto. -- Falei com a voz embargada tentando lutar contra a luz branca do... Aonde eu estava?
Um olhar nas paredes azuis claras e na cortina branca tampando a maca que eu estava me responderam isso. Na enfermaria do colégio.
Os olhos de Crissy, que poderiam muito bem serem os de Ciryss, me olhavam atentamente.
Olhei para o irmão dela encostado na porta. Mesmos olhos, mesmo tom de loiro queimado, a mesma pele marrom e sedosa.
-- Tem certeza que vocês não são gêmeos? -- Ciryss revirou os olhos se aproximando no mesmo momento que a irmã dele se afastou.
Ele passou a mão no meu tornozelo e franziu a testa para a calça preta folgada quando perguntou:
-- Você está de pijama?
-- Eu disse que ela não tinha banhado. -- Crissy se aproximou de novo, parecendo frustrada. -- E como você sabe que isso é um pijama? -- Ciryss lhe deu um sorriso malicioso que a fez sair do quarto.
Era sempre estranho está perto deles. E nada tinha a ver com os nomes igualmente esquisitos.
-- Te encontrei desmaiada no chão da quadra. -- Mas não tinha preocupação em seu rosto, apenas a tentativa falha de esconder o julgamento.
Engoli em seco sentindo dificuldade em o fazer.
-- Achou que não ia ter problema nenhum ficar sem comer por tanto tempo e depois se entupir de doce?
-- Como? -- Dessa vez eu franzi a testa e Ciryss levantou uma sobrancelha.
-- A enfermeira disse que você desmaiou porque estava sem comer por muito tempo. Parece que seu donuts não fez milagre. - Ele soltou um suspiro, que poderia muito bem ser uma risada debochada.
Se eu pudesse apostar, diria que não existe mais marca nenhuma no meu pescoço, assim como o demônio de olhos verdes sumira com suas digitais pela minha casa.
Olhei para Ciryss e me perguntei se ele acreditaria em mim, até que ele levantou o bilhete na minha frente.
-- Quem é Z.S e porque você escreveu essa mensagem estranha? -- Então não era para ser um coração?
-- Você mexeu no meu celular? -- Arranquei o bilhete da sua mão enquanto ele revirava os olhos e me entregava o que restou dele ao dizer:
-- Achei que já tínhamos passado dessa fase, Sabina. -- Ciryss caminhou até a porta e olhou para o corredor através do vidro. -- A aula acabou, precisa de carona?
-- Posso ficar na sua casa? -- Ciryss fez uma vistoria por todo meu corpo, queimando o caminho com os olhos.
-- Só se você tomar um banho. - Bufei em resposta, mas soltei uma risada sugestiva logo em seguida ao dizer:
-- Vai banhar comigo? -- A risada curta dele esquentou meus ossos, não o suficiente para abrandar o frio na coluna sempre que a sensação do braço de Z.S em meu pescoço voltava.
-- Não. -- Ele saiu do quarto sem dizer nada além disso, mas levou minha bolsa consigo.
Acho que uma hora ou outra eu ia ter de lidar com os olhares incessantes, então apenas ofereci um sorriso desentendido para qualquer um que ousasse olhar por muito tempo. A fama não era tão legal assim.
Ciryss apertou meu ombro ao jogar os braços ao meu redor, e apenas quando Eric apareceu que eu entendi o porquê. O histórico não era muito bom e Ciryss parecia se divertir sempre que Eric nos via juntos.
-- Quer passar na sua casa para pegar alguma roupa? -- Perguntou quando chegamos em seu carro branco que eu jamais conseguiria pronunciar o nome, ou lembrar a quantidade absurda de zeros em sua etiqueta.
-- Gosto das suas. -- Lhe dei um sorriso que o fez revirar os olhos ao passar o cinto. -- Além do mais, as roupas da sua irmã sempre serviram bem.
-- Pare com isso. -- A voz dele foi gutural o suficiente para me fazer pensar que eu realmente deveria parar.
Eu deveria parar de fazer muitas coisas inclusive, como parar de faltar aulas, diminuir o consumo de doce de leite, parar o revezamento entre irmãos... Não era justo com nenhum dos dois, então talvez Z.S fosse meu karma.
Suponho que eu deveria pelo menos ficar agradecida, era um karma sobrenaturalmente bonitinho.

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Cheserie Box
RomanceChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...