Pedaços de concreto e tijolo foram para todo os lados, a poeira me fez cobrir os olhos e perceber que meu suéter preferido ficara sujo. Ótimo. Atrás de mim já não tinha mais nenhum gato, mesmo assim gritei um obrigada para a escuridão do beco.
Respirei fundo, apenas para me xingar por ter feito isso quando engasguei com a poeira.
Ao levantar e olhar para o local onde eu estava a alguns minutos atrás me perguntei se deveria agradecer, ou amaldiçoar, alguma entidade, porque o chão afundou.
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Cheguei em casa e já não tinha mais nenhum gato no sofá, apenas um envelope em um verde quase branco, enquanto a cera que o fechava tinha o verde escuro encontrado nas copas de uma floresta antiga, e nela estava gravada as iniciais, não coração, "Z.S".
O envelope estava pesado, dentro dele tinha um celular novo, melhor que o meu antigo, e um bilhete, ainda com a minha letra, pregado na capinha amarela dizia: Cuidado por onde anda Z.S. E um número de telefone logo a baixo.
Me joguei no chão. Exausta. Exausta demais até para chorar, porque eu sentia as lágrimas vindo, mas elas não desciam, nem chegavam em meus olhos.
Então bati a mão na madeira do chão, bati bati bati até escorrer sangue e lágrimas de dor escorrerem no meu rosto.
Agarrei meus dedos machucados e chorei sobre eles, gritei para as paredes da casa desejando que o mundo acabasse em água, na mesma água que a vida dos meus pais se deu fim, porque fogo era gentileza demais.
Ao subir os degraus como se fossem uma montanha sem fim, entrei no quarto deixando as roupas caírem no chão e me afundei na banheira do banheiro anexo a ele, a água quente me fez soltar um suspiro prazeroso quando começou a relaxar todos os meus músculos.
Encostei a cabeça na borda e fui consumida por um sono sem sonhos, apenas uma escuridão confortável, relaxante, e quando meus ossos pararam de doer, resolvi que seria melhor dormir na minha própria cama.
Mas ao abrir os olhos fui recebida pelo mesmo verde escuro no selo do envelope. Ele estava sentado na borda da banheira como se estivesse me encarando a horas. Completamente entediado.
-- Oi, bruxinha Sabina. -- Um sorriso que me deixou aterrorizada. -- Tchau, bruxinha Sabina. - Um beijo na testa que me deixou paralisada.
Suas mãos em meus ombros me afundaram na banheira, e eu esperneei enquanto minhas unhas arrancavam a pele do seu braço. Literalmente arrancavam. Porque antes de apagar completamente, pude ver o sangue escorrendo e manchando a água. Manchando minha visão até se tornar tudo preto de novo.
Acordei na minha cama ofegante e, para o bem ou para o mal, não era no inferno. Embora o capeta me encarasse. E pro seu próprio crédito ele não tinha chifres e a pele vermelha. Tinha cabelos de nanquim e olhos de berilo.
-- Por que diabos você não morre? -- Ele estava encostado na porta do quarto, de frente para a minha cama, e parecia irritado.
-- Porque eu sou uma gatinha. -- Forcei um sorriso meigo, estranhando a aspereza na minha garganta.
-- Claramente. -- O olhar de um demônio me olhou dos pés a cabeça, trazendo ondas de arrepio por cada pele exposta que os olhos dele tinham um vislumbre, o sorriso de canto de um predador fez minha garganta fechar.
-- Meu deus. -- Puxei o lençol, me ocorrendo que eu estava de fato nua. -- Você tentou me matar... -- Sussurrei para mim mesma.
-- Sim -- Ele disse simplesmente, se aproximando e sentando na cama. -- Duas vezes, embora na primeira você só pegou no sono. -- Ele me deu um sorrisinho fechado. -- E se o que você disse for mesmo verdade, você agora só tem 6.
-- O que você quer? -- Perguntei puxando o lençol mais para cima, ele riu de volta.
-- Como assim o que eu quero? Matar você é obvio. - Franziu a testa em confusão -- Mas acho que vou ter que testar a teoria das 7 vidas.
-- Tem um alarme. -- Eu disse abruptamente quando o vi se aproximar, ele inclinou a cabeça para o lado e eu engoli em seco ao continuar:
-- Tem um alarme que vai acionar a policia aqui atrás da minha cama, se você se aproximar mais um centímetro eu aperto.
A cabeça dele ainda estava inclinada, ele ainda me olhava fixamente com aqueles olhos terrivelmente verdes rasgando o meio da noite. Então ele olhou para cima, sorrindo como um demônio.
-- Não. Não tem. -- Me deu um olhar que só se encontra em vilões sensuais, o sorriso do caos estampado em sua boca. -- Eles nem se quer vão vim se você ligar.
Seus lábios se fecharam em linha reta quando ele engatinhou na cama até que seu rosto estivesse tão próximo que eu poderia contar os cílios, a boca carnuda se destacava na pele pálida, o rosto era tao bonito que parecia ter sido esculpido no inferno. Porque nenhuma beleza daquele tipo era divina.
Seus dedos, assustadoramente macios, traçaram um caminho pelas maçãs do meu rosto, os lábios tão próximos que eu quase pude sentir o gosto deles. Talvez se eu mexesse os meus pudesse os sentir.
-- Por que você está tão relutante assim? -- A boca dele raspou a minha ao dizer, minha respiração raspou o meio da garganta e ficou presa ali, meus olhos se fecharam, não por medo, mas porque seus lábios pareciam veneno doce, extasiando todo tipo de dor que eu nem sabia está sentindo. -- Não é como se você quisesse viver.
Agora de fato ele sussurrava as palavras contra a minha boca, que se abriu um pouco mais, desejando um pouco mais. -- Com essa vida... -- Ele raspou a língua quente nos meus lábios. -- Eu estaria lhe fazendo um favor. -- Um soluço escapou de mim quando ele delicadamente levou a mão para meu pescoço, o agarrando enquanto meu coração esquecia de trabalhar.
-- Olhe para mim. -- Eu o fiz. Completamente hipnotizada com a voz que me fazia carícias como um amante. Sua pupila dilatada foi a ultima coisa que eu vi quando ele quebrou meu pescoço.
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Cheserie Box
RomanceChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...