Capítulo 16

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Acordei em uma cama que não era a minha, com um sol que não fazia na minha cidade, escaldante ao ponto de me fazer pensar que eu iria de fato derreter.

Três das quatro paredes eram de vidro, e as nuvens flutuando me fizeram pensar que eu estava realmente mais perto do sol do que da terra firme. Zayan dormia do meu lado.

Tive tempo apenas de engatinhar até a ponta da cama antes que ele puxasse meu pé, me arrastando para de baixo dele, seu peito nu contra meu moletom, seus olhos de uma floresta selvagem contra os meus castanhos.

-- Aonde você pensa que vai? -- Ele ronronou, felino demais para um humano.

-- Você me empurrou de um precipício? -- Falei para mim mesma. -- Você me empurrou de um precipício! -- Agora falei para ele, tentando socar seu peito. Não querendo pensar muito sobre a pele macia envolvendo ele

A tentativa foi falha uma vez que ele prendeu meus braços a cima da minha cabeça. Revirando os olhos. Uma mania tão frequente quanto o sorriso lupino em seus lábios.

-- Você. -- Uma pausa. -- Fala. -- Outra pausa. -- Demais. -- Seus dentes cerrados em um gesto nada humano me fizeram hesitar. Engoli em seco.

-- Eu só tenho 5 vidas agora. -- Sussurrei me dando conta de que sua boca estava muito próxima.

-- E se continuar falando, vou me divertir muito em te deixar só com uma.

Franzi o cenho pensativa.

-- Isso não séria perigoso para você? Porque, veja bem, se você me-- Mas uma de suas mãos foram para o meu pescoço enquanto a outra ainda prendia meus braços.

Prendi os lábios para dentro em uma forma de o dizer que eu tinha entendido o recado. Ele me encarou, eu o encarei inquieta, ele enterrou o rosto na curva do meu pescoço.

-- Diga. -- Mas murmurou em aviso para que eu fosse breve. -- O que você quer saber? -- Seu halito fresco fez cosquinhas na minha pele.

-- Pode me explicar o que está acontecendo? -- Perguntei apreensiva, minha voz não passando de um sussurro.

-- Aquele carro não foi um acaso.

-- Honestamente, eu nunca acreditei em acaso, na verdade eu sempre achei que--

-- Sabina. -- Ele me interrompeu em aviso, meu nome na sua boca soando mais como uma oração. Era uma oração pedindo paciência? Provavelmente, mas eu exclui essa parte.

-- Você não deveria ter saído da escola. Só existe dois lugares seguros para você em Cheserie. Sua casa, e a escola. Qualquer local fora desses te torna um alvo fácil para os ancestrais.

-- Por que eles querem me matar?

-- Para eu não me libertar.

-- Mas você não é um gato agora, e ao que parece pode se transformar sempre que quiser, isso não me parece uma prisão.

-- Existem restrições na minha magia. -- Ele fez uma pausa, pensativo, e engoliu em seco antes de continuar. -- E existem brechas na magia deles. Eles só não sabem disso.

-- Então, você acha que--

-- Sabina. -- Ele resmungou.

-- Dá pra você parar de me interromper? -- Já sentia a raiva querendo queimar meu corpo.

-- Dá pra você calar a boca?

-- Me desculpe se estou confusa sobre qual é o meu papel nessa palhaçada.

-- São 06hrs da manhã!. -- Ele gritou, mas sua voz saiu abafada contra meu pescoço. -- Deixe as perguntas para outra hora.

-- 06hrs da manhã? -- Olhei para as nuvens e o céu límpido através das paredes de vidro. -- Com esse sol? Nem fodendo, já deve ser de tarde.

Ele desenterrou a cabeça da minha clavícula, apenas para encostar sua testa na minha.

-- Que boca suja você tem. Ninguém nunca te ensinou modos? -- A essa altura, eu não sabia se ele sussurrava pela proximidade, ou porque estava com sono ao ponto de sua voz ir se perdendo.

-- Eu acho. -- Falei com cautela. -- Que quero ir pra casa. -- Ele desencostou a testa da minha, uma mão ainda estava prendendo meus braços, a outra descansava acima dos meus seios. Não lembro quando foi parar ali, mas talvez nem ele lembrasse pela confusão do sono em seu rosto.

A cautela no riacho esverdeado em seus olhos se intensificou, esperei por uma risada, um semicerrar de olhos, um aperto nos meus pulsos, mas ele não fez nada, simplesmente me encarava, sem piscar nenhuma vez, me fazendo questionar se ele de fato estava aqui.

-- Ta. -- Ele disse, simples assim.

E antes que eu pudesse perguntar qual era a piada, ele colocou sua boca sobre a minha e o mundo rodou, meu corpo pesou demais quando ele abriu espaço entre os meus lábios com a sua língua, me fazendo afundar ainda mais na cama, minhas pernas em cada lado do seu dorso se apertando ao redor dele.

Um suspiro involuntário escapou da minha boca, o fazendo rir. Aquela risada foi a única coisa que eu ouvi antes de cair, porque eu de fato estava afundando na cama, até os olhos verdes de Zayan se tornarem mais azulados, e eu perceber que não era mais ele que eu encarava.

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