Talvez eu não devesse entrar na minha casa invadida uma vez que existem seres por aí querendo me matar. Mas eu ainda não tinha aprendido a fazer escolhas sábias, e estava cansada demais para tentar tomar uma agora.
-- Seja quem for. -- Eu disse fechando a porta atrás de mim. -- Não estou no clima para-- Olhos verdes entediados do outro lado do sofá. -- Ah, é você.
Me contive em o xingar de filho da puta por ter me deixado do outro lado da cidade. Eu já tinha preenchido minha cota de xingamentos para ele enquanto pegava um táxi.
Mas os olhos de Zayan se estreitaram, apenas para abrirem com dureza. O verde claro ficando cada vez mais escuro. O verde que eu temia. Ah merda que porra eu fiz dessa vez.
-- O que foi? -- Perguntei receosa. Em um piscar de olhos ele estava na minha frente, levando a mão ao meu rosto. Me encolhi com receio do que ele poderia fazer, Zayan percebeu e deu dois passos para trás.
Talvez os acontecimentos recentes tenham me afetado mais do que percebi.
-- Você está sangrando. -- Ele observou. Levei a mão a minha testa, eu estava mesmo, tinha esquecido disso. Fiz uma careta ao lembrar da vizinha me olhando feio.
-- Quem? -- Zayan perguntou ao olhar casualmente para os pés e enfiar as mãos em seu sobretudo. -- Quem fez isso? -- E o olhar que ele me deu quando levantou a cabeça, apenas um pouco para que eu visse que seus olhos estavam completamente escuros, poderia ter feito o próprio diabo estremecer.
-- Não... -- Engoli em seco. -- Não importa.
-- Apenas um nome, Sabina. -- Ele sustentou o olhar, e eu acho que nunca o ouvi falando meu nome assim. Com tanta raiva e desprezo. Não por mim, mas pelo mundo.
Eu senti a ferida latejando quando minha cabeça doeu tanto ao ponto de que me deixasse tonta e precisasse segurar em algo. Zayan estava próximo antes que eu pudesse mexer um dedo.
-- Se não me contar. -- Ele acariciou meus cabelos, afastando a franjinha da minha testa. -- Eu vou arrancar de você.
Eu não sabia o que ele queria dizer com aquilo. Nem tive tempo de perguntar. A delicadeza com a qual Zayan agarrou a minha cabeça e sussurrou palavras indecifráveis não tinha nada a ver com a violência do poder que me açoitou.
Era como uma cobra verde se rastejando ao abrir espaço entre as minhas memórias e deixando outras entre as lacunas.
Eu em cima de Eric no seu carro. Zayan em cima de uma mulher com longos cabelos vermelhos e rosto antigo marcante. Leiselen? Não tive tempo, Eric e eu discutindo no caminho de casa fez esse pensamento se perder.
A minha discussão deu lugar a Zayan discutindo com um homem de cabelos longos e velhos. Eric puxando o freio de mão e me fazendo bater a cabeça...
Zayan abrindo a cabeça desse mesmo homem com as próprias mãos, as espirais se formando em sua barriga... Gritei quando o punho de Eric em cima de seu joelho ameaçou me golpear.
O golpe de alguma magia cortante desenhando a penúltima cicatriz que tinha na barriga de Zayan enquanto ele gritava.
Eu arfei quando a cobra saiu da minha mente, o ar não entrava, meu peito pareceu ter sido cortado. Teria caído no chão se Zayan não tivesse me segurado. Seu peito ofegante, mas não tanto quanto o meu.
-- O que foi isso? -- Consegui dizer, mesmo ao me espantar ao perceber que a noite já tinha chegado.
-- Me desculpe por isso. -- Ele disse ao me sentar na mesa de jantar. Minha cabeça doía tanto que a sensação era que meu cérebro tinha crescido mais do que deveria.
Zayan contornou a mesa e voltou com um lenço umedecido e o band aid dos minions.
Ele estreitou os olhos ao vê o desenho, depois olhou para mim com uma sobrancelha arqueada. O humor que voltava aos poucos não abrandou a raiva que ainda pesava em seus ombros.
-- Era o único que tinha. -- Eu expliquei quando ele abriu um e colocou na minha testa.
-- Combina com seu cabelo. -- Suspirei em resposta ao dizer:
-- Ouvi isso antes.
-- Quer que eu o mate? -- Ele estava falando de Eric. E a normalidade com a qual perguntou me deixou muda.
Ele olhava como se fosse capaz... O que eu estou pensando, ele é capaz, ele já tinha me matado. Mais de uma vez por sinal.
Um arrepio na minha espinha me contou que a morte que ele ofereceu não era misericordiosa, a lembrança do que vi enquanto ele lançava aquela onda de poder me confirmou isso.
-- Vocês tem um ditado. -- Ele descansou as mãos nas minhas coxas, o peso foi reconfortante. -- Quem consente se cala?
-- Quem cala consente. -- Corrigi.
-- Isso, exatamente. Então é um sim? -- Ele parecia esperançoso para que fosse. O sotaque sensual me cutucando na barriga. Estreitei os olhos para ele ao dizer:
-- Está querendo me proteger, bichano? -- Ele riu, tão atraente quanto conseguia ser. Era incrível como ele não parecia, ao mesmo tempo que o sorriso lupino dizia que, sim, ele era muito capaz de matar Eric como matara o senhor em sua memória.
-- Se ele estivesse em uma velocidade apenas um pouco acima. -- O sorriso sumiu tão rápido quanto tinha aparecido. -- Teria te matado. -- Seus dentes estavam cerrados com um ódio felino demais para um humano. Porque ele não era um humano.
Zayan pensou por um tempo, a expressão em seu rosto se suavizando ao dizer:
-- Isso acabaria com meus planos. -- Revirei os olhos ao descer da mesa. Zayan não se afastou. Sua boca ficou tão próxima que seu halito me deixou tonta de novo. Ele deve ter percebido isso, pois suas mãos se fecharam firmes na minha cintura.
-- Me peça e eu corto a garganta dele fora. -- Era uma criança implorando por um brinquedo, ou um deus revolto? Eu não sabia dizer, as duas imagens estranhas se mesclavam na minha visão embaçada.
-- Não faça isso.
-- Por que? -- Sua voz estava se perdendo conforme ele raspava os lábios nos meus. Meus pensamentos coerentes iam juntos.
-- Apenas não faça.
-- Peça que eu não faça. -- Engoli em seco quando sua língua raspou a minha boca, e todo me corpo se incendiou.
-- Não o mate. -- Eu levei meus braços aos seus cabelos. -- Ainda. -- A risada que ele deu reverberou por todos os meus ossos, mas foi quando ele me beijou, devagar e curioso, que fez meu sangue ferver.
Zayan movia seu lábios como se descobrisse um sabor diferente a cada dois segundos, e os sons que escapavam da sua garganta pareciam aprovar.
Ele me pressionou contra a mesa, e se pressionou contra mim ao me erguer e me sentar nela novamente. Sua boca esmagava a minha com a excitação de experimentar algo perigoso pela primeira vez, e isso me fez arfar.
-- Você fez algo errado, bruxinha. -- Ele sussurrou contra mim no momento em que me trouxe mais para perto de si, como se qualquer proximidade não fosse o suficiente. -- Deveria ter pedido e falado meu nome, Brina. Sou capaz de tudo apenas para a ouvir o dizer.
E então ele se dissipou em sombras, olhos sombrios me disseram que morte seria uma misericórdia para Eric.
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Cheserie Box
DragosteChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...