-- Guarso o que!? -- Era justo dizer que meu folego já tinha sido recuperado quando o de Zayan se transformou de novo na risada zombada ao olhar para o meu corpo molhado.
-- Guarsos. -- Ele disse. Como se fosse algo obvio, me oferecendo a mão para que eu levantasse.
Eu aceitei no momento em que um pensamento intruso se acomodou na palma dela.
Era uma escolha estúpida, sim, mas eu já estava sem crédito para escolhas de qualquer forma.
Então fiz o mais fácil, que era não pensar, no lugar, eu agi.
O puxei para baixo o amaldiçoando o suficiente para que seu corpo cedesse e caísse na água atrás de mim.
Mas o que aconteceu em seguida foi rápido demais para que eu pudesse raciocinar.
Embora Zayan tenha de fato tropeçado, pontos para mim, ele rodopiou meu corpo a tempo de que ambos caíssemos, eu na pedra, ele em cima de mim.
Pontos para ele, ou para mim, o cheiro de pinho me agradava, fazer o que.
Soltei sua mão no momento em que seu corpo esmagou o meu.
Tão paciente como um gato que teve a calda esmagada sem querer, Zayan envolveu meu pescoço com tanta força que jurei o ouvir quebrando.
Levei alguns segundos para perceber que eu ainda estava acordada, ainda estava respirando.
Embora o olhar que me encarava me fez acreditar que era melhor encarar o capeta.
-- Não seja estúpida. -- Ele alertou entre dentes. O verde dos seus olhos ficara tão escuro quanto as arvores no meio da noite.
Forcei um sorriso, ele não precisava saber que de todos os seus tons de verde, esse era o que mais me assustava. O verde que de tão nublado era preto, que lembrava o cheiro da visita de um ceifador.
-- Então o gatinho tem mesmo medo de água?
Esperei, esperei, esperei. O sorriso forçado ameaçando desmanchar.
Esperei até que ele quebrasse meu pescoço bem ali mesmo e me deixasse apodrecer na água.
Ele apenas saiu de cima de mim em um revirar de olhos.
Me levantei, o tecido barato completamente ensopado se grudava ao meu corpo como uma segunda pele, o tremor do frio deixando marcas aonde não deveria.
Zayan me olhou dos pés a cabeça, inclinando ela como um gato observa uma presa ao se prender no meu busto, como se travasse uma batalha interna.
Eu só desejava para que não fosse entre me jogar na água, ou me matar de vez.
Mas então ele suspirou impaciente e estalou os dedos. Um sobretudo preto caiu nos meus ombros no momento em que sua camisa sumiu.
Revelando a barriga malhada e... engoli em seco. Cheia de cicatrizes.
Eram sete espirais desleixadas em seu dorso, a cada quatro espirais um elemento diferente fora desenhado entre as linhas. Terra, ar, água e fogo. Terra, ar e água.
-- Por que excluíram o fogo? -- Apontei para sua barriga.
Uma risada sombria foi tudo o que ele me deu. Me encolhi no sobretudo, talvez eu não quisesse saber o que aquilo significava.
O vento soprou meus cabelos como se quisessem o secar, como se sussurrassem um segredo, como se tivesse mais para onde olhar.
Então olhei, a pequena ilha no meio de uma floresta escura e inabitada, as cachoeiras... Zayan...
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Cheserie Box
RomansaChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...