Capítulo 27

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Eu não andei, nem procurei a chave do meu carro. Eu peguei um táxi e Ciryss pagou sem me dirigir nenhuma palavra. Nem mesmo quando tropecei na entrada da casa onde acontecia o velório.

Droga, quase que eu vou junto.

Olhei ao redor, torcendo para que as palavras tivessem ficado apenas na minha cabeça. Aparentemente sim.

Ao que parecia Ciryss também tinha muitas perguntas, considerando que ouvi Rirena perguntando para ele quem era o cara que estava comigo no Cazz Stop. Ótimo.

O resto do dia se seguiu assim. Eu sentada com alguns amigos de Ciryss, ele sentado com a família que veio para o fim de semana. Doses de tequila passando vez ou outra para a gente. Ninguém me disse nada uma vez que viram que Ciryss nem chegou perto de mim.

Estava quase considerando ir embora quando Crissy se sentou do meu lado na glamorosa bay window. O vestido longo tinha uma fenda ousada para um velório, e o diamante azul no meio de seus seios não adornava com o âmbar de seus olhos.

-- Sinto muito, Crissy.

-- Não sente não. -- Ela deu um gole na taça de vinho branco em suas mãos. Eu segurei firme a minha, me mantendo alerta.

Eu realmente não sentia, mas a ocasião não era sobre verdades.

-- Meus pais debocharam quando os seus caíram da ponte de entrada para Cheserie e se afogaram no rio. Ninguém da minha família te prestou condolências além de Ciryss.

Ela apontou com o queixo para o irmão que preparava alguma bebida na cozinha.

-- Nem apoio a namorada do filho que fez 14 anos no dia em os pais morreram e tivera que passar a morar sozinha. -- Ela deu outro gole. -- É mais que justo você não sentir nada.

O loiro queimado de seus cabelos contrastava com o vinho em suas mãos, e eu ponderei sobre jogar o meu próprio vinho no cabelo dela. Mas não tinha motivo para isso. Crissy só despertava o pior nos outros tão bem quanto o irmão.

Respirei fundo, aquilo era luto, e eu entendia a sensação. Então apenas descansei a mão em seu joelho exposto, os olhos dela correram para lá, maliciosos.

Não tirei a mão, mas não retribui seu olhar.

-- O passado de nossos pais não reflete em quem somos. Seja qual fosse o motivo que os seus tinham para odiar os meus até em seu leito de morte, não nos diz respeito. Então não me recinto se não me deram apoio quando fiquei sozinha aos 14 anos ao ponto de descontar na morte dos seus hoje, Crissy. Não sou eles, você também não, então eu sinto muito mesmo por você ter que passar por isso também. Ninguém merece essa dor.

Era verdade. Eu não sentia pelo senhor e a senhora Cipresno. Eu sentia por Crissy e Ciryss terem que vivenciar isso tão jovens. E embora eu realmente os odiasse pelas coisas horríveis que disseram que eu iria me tornar, especialmente após o envolvimento com Eric, eu...

Porra talvez Crissy merecesse sim um pouquinho da dor. Ela alimentara essa paranoia, não tão absurda, na cabeça de Ciryss sobre Eric e não me defendera uma única vez dos pais.

Suspirei ao tirar a mão de cima da perna dela. Na verdade eu não sabia como me sentir sobre isso. Percebi.

Não gostava de seus pais e talvez Crissy merecesse um pouco de dor, mas o senso moral me diz que é errado, então talvez eu esteja em um conflito interno sobre como me sinto e como deveria me sentir.

-- Aah, Sab. -- Ela deu um de seus sorrisos que diziam que ela sabia até mesmo os segredos do vento ao acariciar meu rosto com as costas da mão. -- Está vendo? Nem mesmo você sabe se acredita nisso ou não.

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