Capítulo 8

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Capitulo 8

Acordei em um susto. Ainda estava nua na cama, meu coração ainda batia, e o estalo do que parecia meu pescoço quebrando ecoava pela minha mente.

Levei as mãos até ele, considerando que se eu podia sentir meu próprio toque, eu ainda estava viva.

Eu não poderia dizer o mesmo sobre a arvore no pequeno jardim de lírios verdes e amarelos lá fora, já que pela bay window eu vi eles se afogando em chuva.

Vesti o moletom mais grosso que tinha e desci as escadas procurando algum café expresso, pensando que nem mesmo se estivesse fazendo calor na cidade de Cheserie eu iria para a aula hoje.

Talvez eu tivesse algumas coisas para processar.

Tinha um homem me perseguindo, bonito o suficiente para enganar uma idosa, rico o suficiente para enganar a polícia. E ele tinha acesso a minha casa. E ele estava tentando me matar.

Ri sozinha. Só coisa boa.

Era de fato algo que deveria me deixar aterrorizada.

Deveria, mas o trauma nem sempre manifesta o pavor no exato momento em que ocorre.

Talvez algum dia eu surte no meio de uma praça, ou da sala de aula, de qualquer forma, ficar em casa parecia mais viável que correr o risco.

Então como eu não tinha muito o que fazer em relação a isso e a polícia não estava do meu lado, sentei no sofá branco da sala com a xícara, que dizia no fundo "você foi envenenado", esquentando minhas mãos.

Aparentemente a cidade se acabava em água.

Um miado na porta da frente me fez revirar os olhos no momento em que me fez abrir ela.

Estava mesmo demorando.

Um gato preto me encarava. Olhos de fenda esverdeados. Nenhuma surpresa.

Se era o mesmo de ontem, ou de todos os outros dias em que me meti em encrenca, eu não sabia dizer, mas ele estava molhado, e tremendo. E sua especie meio que, de forma não solicitada, salvara minha vida algumas vezes.

Eu poderia simplesmente o deixar que se vire sozinho, mas eu ainda tinha um coração. Então acho que lhe devia pelo menos isso.

-- Entre, senhor bichano. -- Abri espaço para ele passar. -- Hoje você é bem vindo. -- O gato miou de volta, os olhos verdes nunca deixando os meus.

-- Se acomode aonde quiser, menos no sofá, vou pegar uma toalha para você. -- Ele miou de novo, se enroscando no canto do sofá, exatamente onde eu disse para não ficar.

Mas balançando a cabeça, fui até o armário embaixo da escada procurando alguma toalha velha, eu não ia discutir com um gato, e peguei alguns lençóis.

A chuva lá fora está forte demais para ir comprar ração, e ele é grande demais para beber leite. Duvido muito que o arroz doce lhe cairia bem. Será que ele gosta de frutas?

-- Você não vai me dá uma toalha velha né?

Derrubei as toalhas no chão em um susto rápido com a voz que, me fez chocar contra a mesa de mármore branco, quando o tom rouco de outro alguém me assustou.

Afinal, gatos não falavam.

Z.S estava alí. Sentado no meu sofá. Com os cabelos e as roupas pretas molhadas. E não tinha mais nenhum gato.

Olhei para a porta.

-- O que você fez com ele? -- Perguntei incrédula, ele bufou ao rir.

-- É sério que você é burra assim? -- Levantou uma sobrancelha e abriu os braços como se algo estivesse obvio. Não estava.

Mas seus olhos brilharam no momento em que os meus piscaram e já não era um homem. Era um gato. E quando pisquei de novo não era mais um gato. Era um homem.

Cuidado por onde anda.

O gato no beco.

Não encontramos sinais de arrombamento. Todas as portas e janelas estavam trancadas. Ninguém passou na frente da sua casa.

Um gato batendo na minha janela.

Um gato parecido pulando no rosto de James e lhe deixando uma cicatriz no rosto a alguns anos atrás.

Olhei para os olhos verdes de Z.S. Confusão rodopiava pela minha cabeça como um carrossel.

Os mesmos olhos verdes de todos os gatos que me acompanharam desde a morte dos meus pais. Mas esse não tinha pupilas de fenda. Embora parecessem carregar 100 anos no inferno consigo.

-- Não faz sentido... -- Dei um passo para trás, incrédula.

A risada que ele deu dessa vez me deixou alerta, talvez esse foi o momento em que o pânico acordou, pois corri para trás da mesa, agarrando a faca e apontando para ele.

-- O que você é? -- Minha voz foi quase, quase forte como eu esperava que fosse, mas um rasgado no meio dela entregou o medo que se alojava em cada centímetro dos meus ossos, perfurando e torcendo minha pele como agulhas enferrujadas.

A risada que ele deu antes de responder reverberou contra as paredes da casa amadeirada ao se levantar. Grande, prepotente, de preto e com muitos músculos, olhando ao redor como se fosse um deus jogado em um muquifo.

Isso me deixou levemente ofendida. E embora eu tivesse uma faca, ele tinha... Fora o rosto incrivelmente bonito e perigoso, ele tinha algo mais. Algo inventado, só podia ser, talvez eu finalmente tivesse ficado louca.

Ele ria muito aparentemente, eu deveria ter começado a desconfiar. Nenhuma pessoa normal em Cheserie ria tanto.

-- Um bruxo preso no corpo de um gato.

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