Uma coisa sobre cidades pequenas e esquecidas pelo resto do mundo: as festas são sempre nos mesmos lugares, com as mesmas pessoas, e embora exista certo conforto no conhecido, a ausência do desafio que só vem com o novo pesa mais.
Talvez fosse por isso que Zayan não me despertasse tanto medo quanto devia.
Ciryss ria de alguma coisa, seus amigos riam junto, cada um tentando manter os pontos com ele. Ele olhou para mim, eu sorri de volta, ele puxou minha cadeira para perto e seus amigos me deram sorrisos respeitosos. Nada mais.
Eles nunca fizeram esforço para me conhecer, embora os esforços deles em descobrir o que Ciryss via em mim continuassem presentes sempre que eu não estava.
-- E então? -- Ele me perguntou enquanto as pessoas no refeitório se acomodavam.
-- Então o que? -- O castanho dos seus olhos tomando um vislumbre de irritação.
-- A festa, Sabina. -- O tom de voz mascarando a impaciência era nítido para mim. Eu aprendi a ler cada nota da sua voz. Aprendi a me preparar para cada uma delas.
-- Aaaah. -- Forcei um sorriso fechado. Que festa? -- A festa, né. -- Mas Ciryss já deveria saber que eu não prestava atenção na maior parte das coisas que ele falava. Ele suspirou fundo, seus amigos ficaram tensos.
Me perguntei se eles tinham medo de Ciryss, não apenas da rejeição coletiva que viria se caso o líder do time de futebol os deixassem de fora da sua roda pessoal, mas da mudança de humor repentina, os comportamentos impulsivos que vinham junto ao seu temperamento. A influência de uma família rica em uma cidade pequena.
-- Vai ter uma festa hoje no Cazz Stop. -- Jake, Josh, Jonas ou seja lá qual fosse seu nome, respondeu no lugar dele.
-- Você vai, né? -- Era uma pergunta, mas ele não esperava de fato uma resposta, ao julgar pela forma como os olhos escuros dele desviavam de mim para Ciryss, ele já tinha deduzido que eu estaria lá.
-- Não. -- Eu me levantei ao dizer. Ciryss inclinou a cabeça para o lado e semicerrou os olhos.
-- Por que? -- Sua voz era cautelosa, apreensiva, como se tentasse medir as palavras que se perderam com o vento quando Eric entrou no refeitório e me cumprimentou com um aceno de cabeça. Nada mais que isso. O suficiente para que Ciryss contorcesse a boca em desgosto.
-- Aah qual é, Sab. -- Rirena murmurou, jogando o lençol de cabelos castanhos para frente do peito. -- Não seja careta, se eu também não tivesse mais pais eu não perderia nenhuma festa no Cazz Stop.
Rirena nunca foi gentil, ou cautelosa nas palavras, era a inconveniência em pessoa serpenteando por aí, e ninguém nunca fazia nada, nunca lhe falava nada, sempre pareceu existir uma força por cima dos ombros da garota capaz de persuadir até mesmo o vento.
No caso essa força eram os silicones caros em cada um dos seios ameaçando saltar para fora da blusa.
Eu lhe dei um sorriso torto ao responder, tão alto quanto ela: -- Me parece que nem mesmo com seus pais presentes você se conteve em fazer porno gratuito ao ar livre.
-- Sabina. -- Ciryss exclamou com uma nota de aviso na voz, eu franzi o cenho ainda olhando para ela. -- Com o cara que você traiu o namorado. -- Os olhos castanhos de Rirena se incendiaram.
-- Quem traiu o namorado foi você indo foder com o professor de álgebra.
O ambiente ficara silencioso quando a voz dela deu enfase para todas as palavras. Eric nos olhava do outro lado da cantina, o maxilar travado e os ombros tensos.
E talvez eu tenha merecido, talvez eu tenha merecido os olhares das pessoas queimando a minha pele enquanto eu caminhava para fora do refeitório, para fora do colégio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cheserie Box
RomanceChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...