-- Oops. -- Zayan disse, com um sorriso culpado, como se tivesse deslizado uma informação boba entre seus labios, completamente inabalado com o fato de que eu tinha puxado o freio de mão, o carro ainda em alta velocidade. -- Não estava esperando por isso, bruxinha?
-- Que porra você está falando? -- Minha voz soou grave demais, alta demais, ensurdecendo até mesmo os grilos que cantavam entre as árvores, provocando me ensurdecer, nem mesmo isso tirou o sorriso do seu rosto.
-- Meus pais--
-- Se suicidaram? -- Ele levantou uma sobrancelha. -- Nem mesmo você acredita nisso.
-- Saia da minha cabeça.
-- Não tenho interesse de está na sua cabeça, Canter. Me parece um lugar perturbado demais, até mesmo para mim. -- Provocou, com o mesmo olhar de quem via mundos entrelaçados, vidas mescladas e mesmo assim considerasse uma bola de pelos mais interessante que isso.
-- Se explique, Seillen. -- Falei entre dentes. Ele cerrou os olhos, inclinando a cabeça para o lado em um movimento tão felino que me lembrou sua outra forma.
-- Não depois de você explicar algumas coisas. -- Ele disse tão rápido quanto saiu do carro, quanto abriu a minha porta e me arrastou para fora pelo pescoço em um movimento fluído.
-- Onde está? -- Zayan me empurrou contra a porta, sua dedos deixando marcas em minha garganta, seus olhos mais sombrios do que a noite a nossa volta.
-- Onde está o que? -- Consegui dizer.
-- O amuleto. Eu sei que está com você. -- Isso não era bom. Na verdade, isso não era nada bom.
-- Que amuleto? -- Ele riu amargamente, me puxando para a floresta silenciosa.
Ele poderia simplesmente entrar na minha cabeça como já fez antes e arrancar essa informação, por algum motivo, ele não o fez, e duvidava muito que era por altruísmo.
Eu o encarei, encarei mesmo, como se eu fosse capaz de ver alem da sua pele e do seus ossos, e bem no fundo do mar verde em seus olhos, o vislumbre do menino de cabelos negros e olhos vivos me olhou com medo, me olhou com culpa.
Zayan não podia entrar na minha cabeça para isso. Percebi, seja qual fosse o tipo de brincadeira que seus deuses pregaram nele, ele precisava de mim, ele precisava que eu entregasse o que ele queria do modo tradicional, sem magia, sem truques.
A questão era, se Seillen tivesse chegado em mim como alguém decente, sem as ameaças e as punições, talvez eu entregasse a ele de bom grado sem muitos questionamentos, independente das consequências que eu fosse ter de lidar por ter feito uma péssima escolha.
Mas ele não sabia fazer isso, sabia? As cicatrizes brutais em seus olhos gritavam de fúria, tinham mais de 21 anos de ódio envenenando seu sangue. Zayan não conhecia gentileza, porque a criança que ele um dia foi, nunca foi apresentada a isso.
Então guardei essa informação enquanto, em alguns passos, e algumas tentativas de o morder, chegamos em Leisellen. As 7 pedras que flutuavam em direção ao centro rochoso não me causavam nada além de calafrios, a memória aterrorizava meu corpo.
Zayan me colocou de joelhos, onde eu conseguia ver o reflexo do meu rosto sob a superfície da água. Puro horror. Ele se abaixou, sussurrando no meu ouvido:
-- Lembra da ultima vez que você esteve aqui? Quer fazer uma visita aos guardiões de novo?
Franzi a testa para o reflexo dele na água. O borbulhar do fundo do rio se parecia com o borbulhar na minha garganta, a diferença era que esse rasgava a minha pele de dentro pra fora.
-- Me lembre de novo quem seriam esses guardiões.
-- Onde está o amuleto?
-- Como você espera que eu saiba!. -- A água ondulou com a minha voz, a mão de Zayan saiu do meu pescoço e correu para seus próprios ouvidos. -- Eu acabei de saber da existência dessa porra! Eu acabei de saber que meus pais foram assassinadas! Como você espera que eu saiba qualquer coisa.
Me coloquei de pé ofegante, Zayan estava... Zayan estava gritando? Estava, os gritos dele deram lugar a lufadas de ar tensas, fortes, e me dei conta de que seu terno não estava nele.
-- Zayan? -- Eu chamei receosa. Ele levantou a cabeça para me olhar, devagar, com... receio?
-- Você está doente? -- Eu perguntei, ele me olhou confuso. -- É a segunda vez que você... É a segunda vez que isso acontece com você, embora dessa vez tenha gritos.
-- Foi você. -- Ele disse, não tinha raiva na sua voz, embora estivesse dura. -- Foi você, você fez isso.
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Cheserie Box
RomanceChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...