Capítulo 24

11 1 3
                                    

Eu estava morrendo-eu estava morrendo-eu estava morrendo. Eu estava morrendo da mesma forma como meus pais morreram.

Era um castigo? O universo, deus ou seja lá quem rege esse maldito planeta, estava me castigando por não ter sido eu no lugar deles? Por eu não estar junto com eles, os condenando a uma anoxia?

O pânico se infiltrou em mim como a água gelada beijava a minha pele, fazia massagem na minha cabeça e se alastrava em meus pulmões. Não tinha espaço para gritar porque não tinha oxigênio para isso. Som nenhum saia, apenas bolhas e mais bolhas conforme o pânico sumia, minha visão sumia. 

Até que, com a visão embaçada, uma bolha grande surgiu na minha frente, descendo enquanto eu afundava devagar. Ela apenas encostou na ponta do meu nariz, como se pedisse permissão para se aproximar. 

Estreitei os olhos para ver melhor em meio a escuridão que chegava cada vez mais perto de me tomar para si, até que a bolha grande se dissipou em pequenas bolhinhas entrando nas minhas narinas. A escuridão se afastou. A nevoa na minha cabeça se dissipou junto. 

Eu estava... respirando? Ou talvez eu tivesse morrido e aqui era o paraíso. Não que eu merecesse ir para ele, mas as pedras onde agora eu estava encostada mais pareciam pedaços de nuvens. 

Fechei a mão em torno de algumas e as levei, tão rápido quanto a água densa do fundo da lagoa permitia, para a altura dos meus olhos. Não eram pedras de fato, mais pareciam capsulas de água, como se o vento tivesse moldado água cristalina e a prendesse com uma película de água verde cintilante. Era lindo e macio. Como se cada uma deles tivessem roubado um pedaço do brilho da lua que tentava infiltrar a margem. 

Um brilho amarelo enterrado entre as pedrinhas chamou minha atenção, me virei para que pudesse enfiar a mão entre elas e pegar a pedrinha diferente, mas ele afundou um pouco mais, e um pouco mais até que metade do meu braço estava enterrado ali.

Senti quando uma das pedrinhas foram esmagadas pela a minha mão, o barulhinho dela estourando só não era mais satisfatório quanto as partículas de brilho preteado que saíram de dentro dela, enluvando meu braço, fazendo carícias nele. 

Era tão macio que eu estava absorta demais para perceber que na verdade eu estava sendo puxada para dentro do mar de pedras por ele.

Tentei me desvencilhar, mas cada vez que me mexia, mais eu afundava, Até que meu rosto se enterrou nas pedras e comecei a ser sufocada por lufadas de ar gelada. 

Não era a água que me afogava. Era ar, forte e cortante ameaçando fazer meus olhos revirarem de agonia. Eu estava morrendo de novo. Talvez perceberam que o paraíso não era o meu lugar.

A agonia se alastrava por todo o meu corpo enquanto eu me debatia para me soltar, para que o ar sufocante explodisse de dentro da minha garganta enquanto eu gritava de dor e terror. 

Eu estava afundada entre as pedrinhas, o brilho da lua tinha sido tampado por elas enquanto eu era arrastada cada vez mais para baixo. 

Me dei um segundo apenas para perceber a maldita pedrinha diferente no meio delas, e apenas um segundo não foi o suficiente para que eu pudesse evitar que meu outro braço a estourasse  enquanto eu me debatia de horror.

E as partículas douradas que saíram dela o enluvaram, como um castigo, mas essas não eram macias quanto as prateadas, eram quentes, como se ameaçassem queimar minha pele. 

Acho que desmaiei por alguns segundos. O puro pavor de sentir minha pele queimando misturado com o de está sendo sufocada com ar dentro da água deve ter sido irracional demais para o meu cérebro.  

Mas quando os meus olhos finalmente se abriram eu não estava mais enterrada nas malditas pedrinhas. Eu estava flutuando para cima. As bolhinhas estavam entrando no meu nariz de novo, permitindo que eu respirasse, e um brilho peculiar estava de baixo de mim. 

Eram as partículas douradas me subindo para a margem. E embora fossem quentes, já não queimavam a minha pele.

Quando atravessei o limite da água, inspirei o ar tão fundo que minha cabeça ficou tonta. As mãos de Zayan me puxaram para cima antes que eu tivesse a chance de me segurar na rocha. Os dedos dele ainda tocavam minha pele quando percebi que eu não era a única ofegante.

O peito de Zayan subia e descia, o verde dos seus olhos se tornara claro demais, quase aquoso, e não tinha o fantasma de um sorriso no canto da sua boca. Não, ela estava entreaberta, puxando ar para dentro de si, os lábios rachados não eram mais vermelhos, estavam pálidos como se ele tivesse encontrado deus após ser banido dos céus. Balancei a cabeça, e pingos de água caíram no chão.

-- Que porra. -- Respirei fundo de novo, as palavras saindo entre cortadas. -- Foi que aconteceu?

-- Guarsos. --  O verde dos seus olhos voltava a cor natural enquanto o pavor neles sumia aos poucos, deixando apenas uma fresta de preocupação para as pedras no fundo da água.

Cheserie BoxOnde histórias criam vida. Descubra agora