Zayan estava do meu lado na forma de um gato. Ciryss estava do outro na forma de um idiota. A minha frente minha casa pegava fogo. Bombeiros esguichavam água enquanto os vizinhos arfavam.
-- O que aconteceu? -- Ciryss perguntou, ainda encarando o fogo se extinguindo.
-- Não sei. -- Menti, ainda sentindo meu sangue murmurar em revolta com o fogo que se apaziguava. -- Acordei em meio a fumaça.
Ele me olhou de esguelha, percebendo que eu estava uma total bagunça ainda com o vestido de ontem a noite, provavelmente o batom borrado, os cabelos ainda mais embaralhados em comparação aos seus que brilhavam no fim da tarde, os olhos âmbar atônitos. E raivosos.
Era um idiota. Mas o miado do outro lado do meu ouvido me fez pensar que talvez Zayan ganhasse nessa categoria.
...................
Os olhos de Roger foram cruéis ao me encarar, a mobília queimada não parecendo suavizar seu coração de pedra.
-- O que aconteceu, Sabina? -- Seus pés se grudavam ao piso de madeira coberto por goma de pirulito derretido.
Me encostei a mesa intacta. Ao que parecia o fogo começou no sofá. Com a carta que eu joguei de volta nele ao ouvir alguém batendo.
Coisas como a televisão e as almofadas se transformaram em uma versão meio escabrosa de si.
Eu mataria Zayan por ter destruído a única televisão aqui.
Mas fora ele quem destruiu? Lembrando o pensamento que tive antes do inferno tomar conta da minha sala, acho que não. Mas tudo começou a ir de mal a pior a partir do momento em que ele colocou as patas na minha casa. Na minha vida.
Então acho que eu tinha direito de jogar essa culpa sob seus ombros.
Roger me encarou, eu o dei um sorriso fechado, ele estreitou os olhos, meu sorriso sumiu.
-- Estou me perguntando. -- Ele levou as mãos aos quadris rechonchudos, levou os olhos ao que eram pirulitos amarelos por de baixo de suas botas. Um suspiro escapou da sua boca. -- Devo questionar o que é isso? -- Gesticulou incrédulo para a goma em seus pés.
-- Hmm. -- Cruzei os braços. -- Era um... trabalho da escola.
-- Trabalho da escola? -- Falou exasperado ao levantar uma sobrancelha.
-- Sim. -- Engoli em seco ao me aproximar dele fingindo casualidade. -- Por isso Ciryss veio aqui. Estamos fazendo juntos.
Isso ao menos explicaria a quantidade absurda de pirulitos.
-- Então se a senhora ou o senhor Cipriano te ligarem aterrorizados porque sumiu caixas e caixas de estoques de pirulitos. -- Pisquei um olho para ele. -- Já sabe que não precisa se preocupar.
-- Cipresno.
-- Hãn?
Roger revirou os olhos. -- Cipresno, Sabina. Senhora e senhor Cipresno. -- Ele bufou ao balançar a cabeça exasperado e murmurar: -- Cipriano, pelo amor de deus.
-- Qual deles? -- Perguntei, tentando uma gracinha, qualquer coisa para diminuir a sombra nos olhos dele. Não funcionou. Tinha algo errado.
Roger se virou para a mim devagar, a expressão dura em seu rosto fez a casualidade do meu vacilar.
-- Eles não vão ligar.
-- Ufa. -- Ofereci a ele um sorriso. -- Ciryss deve ter conversado com eles então sobre esse trabalho peculiar, por isso saiu com tanta pressa, Roger. -- Mordi e boca, péssima ideia, talvez Zayan a tenha deixado ferida enquanto... enfim. -- Foi para avisar a eles, considerando que chegariam a cidade hoje mesmo.
Me arrependi ao bater o pé no chão, meu salto começando a grudar na goma. Senti os ossos arderem de novo.
Ótimo. Vamos ver se língua de gato é de fato áspera para limpar essa bagunça.
-- Eles não vão ligar, Sabina, porque o menino Cipresno não saiu para avisar a eles sobre esse trabalho. Saiu para cuidar das coisas do velório. Seus pais estão mortos.
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Cheserie Box
Roman d'amourChaserie não é uma caixa de Pandora, mas para o azar de Sabina Canter, a semelhança entre o tamanho da cidadezinha e os segredos guardados com o vento alegam que poderia ser. Uma vez em que olhos verdes de berilo espreitam entre o vão da port...