Capítulo 9

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-- Certo. -- Eu disse ao pegar a faca da mesa e apontar em sua direção. -- Qual é seu patrono? -- Eu não tinha certeza do que falar, mas eu precisava falar algo antes de ter um colapso ou qualquer coisa do tipo.

-- O meu o que? -- Suas sobrancelhas tão pretas quanto o cabelo se ergueram em confusão. Na verdade poderia muito bem ser irritação, mas eu preferia olhar pro lado menos negativo da coisa.

-- O seu patrono, se você é um bruxo mesmo então qual é o seu patrono? -- Os olhos de berilo estavam confusos, me olhando com sobrancelhas franzidas e a boca em linha reta, então ele balançou a cabeça para mim em negação.

-- Harry Potter? -- Perguntei. -- Você não sabe o que é Harry Potter?

-- Eu deveria saber?

-- Ele é um bruxo! Se você é um bruxo mesmo, você deveria conhecer o maior bruxo de todos.

Ele deu um suspiro longo ao jogar a cabeça para cima, a garganta grossa ondulando, o maxilar trincado e sem paciência como quem tinha conhecido o sublime e sido jogado na chatice de ser humano.

-- Meu bem. — A paciência dele se extinguia aos poucos, porque o verde nos olhos escureciam. 

— Abaixe essa faca, você só vai precisar morrer mais 6 vezes. -- Ele deu um passo para perto, e com o celular escondido nas minhas costas, mandei um SOS para o número da emergência.

  Pelo menos espero que tenha sido um SOS. Pelo menos espero que tenha sido para a emergência.

-- Por que você quer me matar? -- Eu perguntei e ele bufou, completamente entediado ao levar as mãos para os quadris.

-- Porqueee -- Cantarolou a palavra -- Os ancestrais fizeram a gentileza de me prender na forma de um gato.

-- Você não está na forma de um gato agora. -- Balancei a cabeça, torcendo para que a policia estivesse a caminho.

  -- De qualquer jeito, se resolva com eles.

-- As 7 vidas da minha forma animal estão em você, você precisa morrer para que eu saia dela. Além do mais. -- Ele fez uma vistoria pela minha cozinha americana com piso amadeirado e paredes em um tom de beige desconhecido antes de prender aqueles olhos em mim novamente. -- Você tem uma vidinha de merda, e um namorado de merda.

Assassino, stalkear e bonito, não era uma combinação muito boa.

Eu preferia deixar a ideia de bruxo de lado por enquanto que segurava uma faca. E ele segurava os olhos em mim, com promessas piores que um corte.

-- Ciryss não é meu namorado.

-- Sorte sua, ninguém merece ter que gritar esse nome na hora do sexo. -- Eu senti meu rosto esquentando, e o sorriso debochado que se formou em seus lábios confirmaram que minhas bochechas estavam coradas.

-- Quantos anos você tem? -- Perguntou dando o ultimo passo antes de descansar os braços na mesa, agora me olhando na mesma altura, a pele ainda mais branca contra o sol, o cabelo sobrenaturalmente preto.

-- 19 - Por algum motivo eu disse apressada - Mas faço 20 em outubro, o que significa que ano que vem já vou ter 21 anos. -- Disse a mim mesma que só estava sendo tagarela porque estava nervosa.

Ele arqueou uma sobrancelha. Como se me perguntasse o por quê da explicação. Eu não tinha uma.

-- De qualquer forma, não é como se Z.S fosse um nome muito apropriado para isso.

-- O que andam ensinando na sua escola? -- Ele parecia quase indignado. -- Por acaso você não sabe o que são siglas? --  Sua voz puxava um sotaque desconhecido, e terrivelmente atraente, se ele não estivesse tentando me matar eu ficaria feliz em gritar até mesmo Z.S no meio da noite.

-- Eu me chamo Zayan -- O sorriso de canto perturbadoramente sedutor. -- Zayan Seillen. 

Era mesmo um ótimo nome para gritar.

-- Eu disse.

-- Você consegue ler a minha mente? -- Perguntei horrorizada, e ele fez uma careta se colocando completamente em pé.

-- Seu rosto é bastante expressivo.

Me pergunto que tipo de expressão eu tinha nele, de qualquer forma, as sirenes se aproximavam, e o olhar mortal de Zayan Seillen poderia ter me levado direto para o inferno, se Roger não tivesse escancarado a porta e encontrado eu, uma faca, e a porra de um gato preto me encarando no lugar onde ele estava.

-- Sabina... -- Roger suspirou fundo demais, esfregou o rosto com força demais e minha garganta se apertou demais.

Zayan se transformou em um gato em um piscar de olhos, o tempo exato em que meus lacrimejaram.

Deixei a faca cair na mesa quando me encostei na borda da pia e enterrei o rosto nas mãos, soluçando cada vez que uma pontada no peito ameaçava me deixar sem folego. Piorava cada vez que eu percebia que não tinha controle nenhum.

-- Sabina. -- A voz de Roger mais suave dessa vez se aproximou, mas eu não queria olhar, ele estava alí. Ele estava.

Queria dizer isso para Roger, queria gritar que o homem me perseguindo tinha acabado de virar a porra do animal na minha frente, mas quando a mão dele encostou no meu ombro e me disse que tudo ia ficar bem, eu queria gritar que eu não era louca.

Mas eu não era mesmo?

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