Minha Vida

Capítulo 3

Linda

Em vinte e dois anos nunca havia parado para pensar sobre a morte, para mim era um assunto complexo com o qual não queria lidar, quando se tem saúde ninguém pensa em quando ou como vai partir.

Há quatro meses atrás me permiti pensar e até mesmo desejá-la, me entreguei a dor e ao sofrimento, tudo que fazia era me encolher em minha cama esperando que em algum momento meu coração parasse de bater.

Foi minha amiga Gracie quem não me deixou afundar no luto. A Sra. Grayson permitia que ela viesse todos os dias para conversar comigo, ainda que só ela falasse, e pouco a pouco, com um senhor esforço, comecei a seguir em frente.

Porém, nos poucos minutos que se seguiram entre a batida do carro, me sentar e encarar os olhos azuis como um mar revolto do cara que me atropelou, penso que nunca quis morrer, pelo contrário, quero viver, só não descobri ainda a melhor forma de fazer isso.

Tudo o que veio à minha cabeça no momento em que o encarei, era que nunca havia visto um rosto mais bonito, foi um segundo de puro encantamento como nos filmes onde a mocinha vê o mocinho pela primeira vez e sente aquela conexão.

Pensei que ele era um anjo enviado para me resgatar.

Mas depois que abriu a boca, gritou comigo agindo com toda aquela arrogância e como se eu fosse de outro planeta pelo simples fato de não saber quem ele era, percebi que se tratava apenas de mais um imbecil prepotente e mal educado.

O estranho insistia para que eu fosse a um hospital, contudo, precisei me esquivar.

Como dizer ao cara que não tinha um plano médico ou como arcar com as despesas de uma consulta?

Com toda sua arrogância, não poderia confiar que ele mesmo pagaria, afinal de contas eu quem havia pulado na frente do seu carro, e tive sorte dele estar devagar.

Com muita relutância aceitou que eu não iria ao médico e me levou para casa.

Vi seu desconforto ao entrar em meu bairro, nunca deve ter colocado os pés ou até mesmo as rodas do seu caríssimo carro num lugar tão humilde.

Entrei em casa aliviada, e após um banho quente e me deitar, sabia que acordaria com uma leve dor no corpo, fora algumas escoriações, mas nada que meu próprio organismo não desse conta.

******

Não acordei com uma leve dor no corpo. Acordei como se tivesse sido atropelada por um caminhão.

Então flashs da noite anterior me fizeram recordar que eu tinha sim sido atropelada, só que não por um caminhão.

Minha mente viajou para o rosto do desconhecido com olhos de tempestade.

Meu primeiro pensamento naquela manhã foi como alguém poderia ser tão ridiculamente bonito, pena que ele era ao mesmo tempo tão, tão...

- Babaca! - Bufei.

Nunca ninguém me irritou tanto, nunca senti tanta vontade de gritar com alguém ou de retrucar as coisas que diziam.

Ele conseguiu em minutos o que poucos fizeram durante toda minha vida.

Seu rosto emburrado, seu sarcasmo e prepotência me fizeram querer soca-lo.

Me espreguicei, xingando ao sentir o corpo dolorido, a queimação nos ralados das mãos, e xinguei mais ainda quando olhei as horas no relógio de cabeceira e vi o quanto estava atrasada.

Tomei um banho rápido e me arrumei em tempo recorde. Pelo menos ajudava o fato de não ser fã de maquiagem.

Só pedia ao universo com todas as forças para não ter que estar na presença de Elliot, não estava com humor para lidar com ele hoje e por um bom tempo.

💕