Capítulo 6

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Alice ficou completamente apavorada quando a terra tremeu, foi como se tivesse esquecido tudo que ela soubesse sobre qualquer coisa. Quando já estava no carro ela pensou que tinha se sentido como uma boneca, vazia por dentro, quase como um fantoche e o fio que a movimentava era a mão de Paulo.

Ela não conseguiu se lembrar de muita coisa, foi como se tivesse sofrido um apagão, em um segundo ela estava debaixo de uma mesa tombada dentro de um restaurante e chão tremia ao redor dela, no segundo seguinte ela seguia em frente porque a estavam puxando.

Alice só voltou a si dentro do carro, no momento em que a parede do prédio caiu e fez o chão tremer mais uma vez. Ela ouviu os alarmes dos carros atingidos dispararem e ouviu o som horrível do carro de Paulo arrastando a lateral no concreto.

Como ele pode estar tão calmo? Nem uma pessoa com treinamento pra esse tipo de situação deve ficar tão calmo na hora da ação.

O caminho seguiu monótono até certo ponto, ou o mais monótono que se podia esperar depois de um terremoto, até que ele mudou de caminho.

Que tipo de promessa é essa que ele tem que cumprir quando o mundo parece estar acabando? Meu Deus!

Eles andaram o suficiente para ver mais destruição do que Alice já tinha visto em toda a vida. Em alguns lugares as pessoas estavam no meio das ruas e os carros tinham que diminuir a velocidade para não matar ninguém, em outros lugares havia acidentes de carros (nesses locais a responsável pela velocidade baixa era a curiosidade humana de assistir a desgraça alheia) e na maioria dos lugares havia ao menos alguns pedaços enormes que eram de prédios destruídos.

Em um momento Alice pediu para que Paulo parasse o carro um instante. Assim que ele parou ela abriu a porta e vomitou. Ele passou a mão pelas costas dela e perguntou se estava bem. Ela em vez de responder apenas apontou para um dos locais tomados por pedaços de paredes destruídas.

Ao seguir para o local que estava sendo apontado, Paulo notou um braço saindo de baixo dos destroços. Ela voltou para dentro do carro e fechou a porta, sinalizando para ele que estava bem. O silêncio entre eles parecia incômodo, porém, ao mesmo tempo, a situação não parecia adequada para qualquer conversa. Pelo menos até ele parar o carro. Eles tinham quase atravessado a cidade e de repente encostou próximo há um prédio pequeno, com quatro andares, daqueles que parecem ter os menores apartamentos do mundo.

― Aonde você tá indo? - ela questionou quando ele saiu do carro.

― Espera aqui, eu já volto.

Ele fechou a porta e deu a volta no prédio olhando para o alto. Alice o perdeu de vista quando foi para a lateral do edifício. Ela não sabia quem morava ali e sinceramente não estava ansiosa para descobrir. Quem quer que fosse estava botando os dois em risco, pelo menos até onde ela podia dizer. Não demorou mais do que alguns minutos para ela ficar entediada dentro do carro e resolver seguir os passos do namorado.

Alice fez a curva para a lateral do prédio onde Paulo tinha passado pouco antes, mas assim que ela olhou ao redor o viu descendo as escadas e vindo na direção dele. Sem parar ele a pegou pela mão e voltaram para o carro.

― Que lugar é esse? Que promessa é essa que é tão importante justo agora?

― A Julia, minha ex-namorada, mora aqui. - Paulo disse.

― Ah, claro, isso responde todas as minhas dúvidas! - ela comentou, emburrada.

― Ah, o sarcasmo. Bela forma de tentar lidar com isso. A promessa que eu fiz foi para ela, não precisa se preocupar, nós terminamos em bons termos e eu acho que a promessa ainda vale. - ele disse.

― Você acha? Você tá arriscando nossas vidas por simples achismo?

― Bem, até uns trinta minutos atrás ninguém esperava que a cidade fosse atingida por um terremoto, então basicamente tudo que vier depois dessa destruição vai ser baseada em achismo.

― Agora sim eu tô muito mais tranquila, obrigada! - ela disse e voltou-se para a janela.

Sério? O mundo acabando e a primeira coisa que ele lembra é de uma promessa que ele fez pra ex-namorada? O que ele tá querendo dizer com isso?

O caminho de volta agora parecia pior que antes, não era apenas silencioso. Mesmo com os barulhos das ruas ao redor deles o silêncio era mais forte, fazia o ambiente do carro parecer mais frio.

Talvez esse seja realmente o fim, se não do mundo desse relacionamento pelo menos. Olha o ambiente que nós criamos, isso não é saudável.

Finalmente eles chegaram à subida que levava até a casa dele, as casas da rua pareciam estar bem, o que dada a situação não significava muito, mas não parecia haver nenhum desastre maior como no centro da cidade. Algumas delas tinham vidros quebrados e algumas poucas rachaduras, mas nada que afetasse a estrutura das casas de forma permanente.

E então Paulo estacionou em frente de casa, aparentemente a única casa que não havia sofrido o mínimo arranhão com o terremoto. Todos os vidros estavam inteiros, nada parecia fora do lugar.

Exceto a mulher meio sentada e meio recostada em uma das colunas da entrada. Paulo correu para fora do carro e carregou a mulher para dentro de casa.

Alice ficou um pouco para trás.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora