Capítulo 31

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Julia assistia àquela cena como se estivesse vendo um filme, um filme mudo. Não porque a cena não tivesse som, mas porque parecia que ela tinha perdido a capacidade de escutar. O que estava acontecendo era um drama digno das novelas mexicanas, uma mulher com ciúmes, tomada por uma raiva assassina, isso tudo porque em sua cabeça, as suas inseguranças indicavam que seu namorado a deixaria pela ex-namorada.

Não que isso fosse verdade, Julia não conseguia imaginar que Paulo tivesse o mínimo interesse em estar novamente em um relacionamento com ela.

E mesmo que estivesse interessado, eu não estou, né? Eu não quero voltar com ele, nosso relacionamento foi ótimo, o único que eu tive na vida e acabou por uma razão. Nós ainda somos amigos, tentar retomar um relacionamento que tinha razões para acabar é algo fadado ao fracasso, certo?

Ela pensava em tudo aquilo que tinha acontecido nos últimos três dias, será que existia a mínima chance de Alice estar certa?

NÃO! Deixa de ser idiota, como alguma coisa poderia ser sua culpa? O mundo está acabando, afinal de contas.

Mas a sensação era forte demais, ela não conseguia controlá-la.

― Você acha que se eu não estivesse aqui, as coisas poderiam estar melhores? Quer dizer, se eu não tivesse vindo pra cá, você ainda estaria namorando. - ela perguntou, olhando nos olhos de Paulo.

Ele correspondeu ao seu olhar e, como se a simples ausência de Alice quebrasse todas as inibições anteriores, sentou-se ao seu lado no sofá e a abraçou, algo que não tinha feito nos dias anteriores.

― É claro que eu ainda estaria namorando com ela, mas como você pode ver, não teria sido a escolha mais inteligente da minha vida. Se você quer saber, isso foi ironicamente a melhor coisa que poderia ter acontecido.

― Ah, claro, quem nunca sonhou em ser quase assassinado pela nova namorada do seu ex? - Julia respondeu, sorrindo fracamente.

― Não foi isso que eu quis dizer, você sabe. Mas ela ter feito isso me fez enxergar que ela não é a pessoa certa pra mim, talvez não seja a pessoa certa para ninguém além dela mesma. E poderia ter sido pior, se a gente já estivesse no sítio ela teria onde esconder um cadáver sem deixar rastros. - Paulo retrucou.

― E você se convenceria tão facilmente de que eu simplesmente levantei um dia e resolvi voltar para a cidade completamente destruída? - Julia perguntou, querendo entender a última parte do comentário dele.

― Sinceramente? Você desapareceu ontem sem dizer nada pra ninguém. - ele respondeu.

― Para com isso. Eu não desapareci, eu fui para a varanda dos fundos.

― Ainda assim, eu não vi você comentando com ninguém. - ele insistiu.

― Vocês estavam no quarto, pelo amor de Deus, eu não tenho ideia do que vocês estavam fazendo e nem quero saber. - Julia respondeu, irritada com a falta de lógica de Paulo.

― Ah, se te surpreende tanto, àquela hora da manhã a gente estava dormindo. - ele disse, em tom de explicação ― E se você quer saber, tinha muito tempo que nós não transávamos.

― Jura? Então o que eu acabei ouvindo na noite em que cheguei aqui foi o quê? Vocês estavam brincando de pega-pega? - ela disse, irônica.

Paulo se afastou um pouco e a encarou, envergonhado.

― Você ouviu? Desculpa, não queria te incomodar.

― Imagina, não foi a melhor noite da minha vida, mas vocês tinham a vida de casal de vocês, eu que era a estranha no ninho. Além do mais, não acho que você teria conseguido impedir que sua namorada fizesse tanto barulho igual ela fez. - ela comentou, sorrindo novamente.

― Olha só, será que a gente pode parar de chamar ela de minha namorada? Eu não sei se você percebeu, mas nós terminamos já tem uns dez minutos. - ele respondeu, também sorrindo, mas o seu transparecia um pouco de dor.

― Meu Deus, é tão recente que eu ainda não me acostumei com a ideia de chamá-la apenas de maluca quase assassina! - Julia respondeu, provocando Paulo.

Ele não respondeu. Ela voltou sua atenção para o filme mais uma vez. Paulo ficou sentado ao seu lado, também assistindo ao filme. Ela alternava seus olhos entre a tela e Paulo, para ela que sabia analisar as pessoas, em especial aquela pessoa do seu lado, Paulo parecia calmo demais para alguém que tinha acabado com um relacionamento que já durava meses.

Tudo bem, os pais dele o treinaram para sobreviver a vários tipos de desastres diferentes, talvez eles também o tenham treinado para sobreviver a um coração partido sem dar sinais disso.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora