Capítulo 68

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Julia não conseguia conter sua animação. Por todo o caminho Paulo tinha por vezes que pisar no freio, em dúvida se ela precisava ir ao banheiro ou só estava pulando no banco como uma criança ansiosa. Se bem que por aquela estrada não havia postos ou restaurantes em que pudessem parar em caso de precisarem ir ao banheiro, então mesmo que este fosse o caso, Julia preferiria esperar até estarem na cidade.

Assim como na ida para o sítio, a viagem durou menos de duas horas. Foi ainda mais rápida do que quando saíram da cidade, já que desta vez não caíram em nenhum tipo de armadilha que furasse os pneus do carro.

E pensar que este carro era de outra pessoa, e que Paulo o pegou dos homens que tentaram nos matar. Se bem que várias coisas estavam lutando contra nós naqueles dias.

Um pensamento surgiu na mente de Julia e ela não foi capaz de espantá-lo. Tudo bem, agora que Paulo tinha achado uma maneira de matar o fungo e todos os animais e pessoas infectados poderiam ser tratados. Grande conquista e tal, mas o que eles fariam quando chegassem na cidade? Paulo não tinha fabricado litros e litros da mistura, apenas um pouco de cada uma das duas e tinha a maneira de prepará-las anotada em seu caderno.

Mas ele não pretende produzir de pouco em pouco e sair por aí distribuindo. Ou pretende?

Com este questionamento, surgiu outro pensamento tão invasivo e preocupante quanto o primeiro. Mas quanto a isso era melhor expor sua ideia para que Paulo decidisse o que seria melhor para todos. Mesmo com a ideia fixa de que Paulo escolheria a melhor opção, como ela poderia dizer isso em voz alta, sem nenhum tipo de introdução ao assunto?

Ok, já sei o que posso tentar.

― Então, - ela começou ― Como nós vamos distribuir essa cura para quem precisa?

― Bem, já que você tocou no assunto, eu não acho que você vai gostar muito, mas eu estava pensando em... - Paulo tentou responder.

― Pois é, antes de você me contar sua ideia incrível, eu aposto que é uma ideia incrível, mas preciso dizer que seria uma pena se um de nós tivesse namorado algum CEO de uma empresa farmacêutica qualquer, né? - Julia disse, interrompendo-o.

― Era essa a minha ideia... - Paulo disse, dirigindo-lhe um olhar que dizia: "se você tivesse me deixado terminar".

― Ah, era. Neste caso nem é uma ideia tão incrível assim.

― An, não? E por quê? Ficou com ciúme de repente? - Paulo provocou.

― Ciúme não é exatamente como eu descreveria. Eu sei que provavelmente é a forma mais simples de produzir esses medicamentos em larga escala. É só que eu não fico nem um pouco ansiosa em encontrar sua ex-namorada homicida.

― Não tem problema. Eu posso te deixar em casa.

― Pois nem pense nisso. Eu quero ver a cara dela quando descobrir que eu ainda estou viva. Nada melhor do que irritar as pessoas que querem te ver mal.

Paulo riu, uma risada sincera, alta. Julia o encarou sem entender onde ele tinha visto tanta graça.

― O que foi isso?

― Olha, se você tivesse tido tanta força de vontade assim depois que minha mãe morreu... provavelmente nós nunca teríamos terminado.

― Tá bom. Primeiro de tudo: depois do que aconteceu com ela, a pessoa que queria me ver mal era eu mesma, não seria legal eu me irritar. Segundo: se a gente não tivesse terminado, você não teria namorado com essa psicopata de quinta e agora nós não teríamos uma maneira eficiente de produzir os medicamentos que vão salvar o mundo.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora