Capítulo 41

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Paulo andou na direção do carro sempre atento aos edifícios e carros ao seu redor, não deixaria que pensamentos sobre o futuro o impedissem novamente de notar possíveis perigos. Carregando algumas sacolas um tanto pesadas, era meio difícil se locomover e prestar atenção ao ambiente ao mesmo tempo

Sua visão periférica registrou o movimento dentro do carro, Julia balançava os dois braços tentando chamar a atenção.

Meu Deus, eu acabei de imobilizar aquele braço.

Logo depois de pensar isso ele se deu conta de que Julia tinha consciência da importância de movimentar um membro machucado o mínimo possível, portanto a única razão para ela fazer algo desse tipo era que estava tentando lhe dizer algo.

Antes de pensar no que poderia estar errado, Paulo sentiu uma dor lancinante no ombro esquerdo. Sem sequer pensar nas consequências, ele virou subitamente para trás, girando uma das bolsas que carregava. Acabou por acertar uma mulher, que devia estar escondida dentro de algum daqueles prédios aos pedaços.

Paulo se aproximou da mulher, que estava no chão e levantou novamente as bolsas, quase a acertando de forma brutal, mas desistiu no último segundo como se tivesse lembrado que Julia o aguardava para continuar sua viagem. Ele virou de costas para a mulher e caminhou na direção do carro.

Já dentro do veículo, depois de colocar as sacolas no banco de trás, Paulo se sentou com as costas voltadas para Julia e as pernas ainda do lado de fora.

― Eu preciso que você puxe essa faca daí.

― Eu não vou fazer isso, não. - Julia respondeu, o pânico surgindo em sua voz.

― Eu não vou conseguir dirigir enquanto essa faca estiver cravada no meu ombro. Na bolsa branca aí no banco de trás você vai encontrar uma caixa pequena, abre e pega um dos adesivos dentro dela.

Paulo conseguia perceber a hesitação nos movimentos de Julia mesmo sem observá-la. Ele ouviu o zíper da bolsa ser aberto, e imaginou que Julia já estivesse pegando o adesivo de dentro da caixa.

― E o que eu faço com esse adesivo? Quer dizer, eu não vou simplesmente colar ele em cima do corte, vou? - Julia questionou.

― Puxa uma das pontas, você vai ver que não é um grande adesivo, são várias tiras de fita. Isso é um tipo de curativo para cortes, sejam eles acidentais, causados por violência ou cortes cirúrgicos. Você cola uma ponta em um dos lados do corte e tensiona ele o suficiente para as bordas do corte se aproximarem. Depois continua fazendo isso até o fim do corte, alternando o lado em que cola a primeira ponta.

Jesus, é muita informação para alguém sem nenhuma noção do que está fazendo. Espero não confundir nada.

Paulo não teve tempo de pensar em mais nada. Uma dor tão excruciante como a facada atravessou seu ombro. Julia havia retirado a faca.

― Você podia ter me avisado. - ele disse, com a voz sussurrada das pessoas que sofriam de dores fortes.

― Fica quieto, se não eu vou acabar colando o adesivo no lugar errado. - foi a resposta.

Paulo esperou que Julia o indicasse quando tivesse terminado de arrumar o curativo. Para sua surpresa, ela não demorou tanto quanto imaginava. Mesmo que a surpresa fosse genuína, ele preferiu não fazer um comentário a respeito disso, podia até imaginar qual seria a resposta de Julia, algo nas linhas de: "O que você estava esperando? Eu já fiz vários curativos na minha vida, quem você acha que limpava meus cortes e botava curativos neles, eu não tinha ninguém lembra?"

Então para evitar qualquer tipo de desentendimento, Paulo ficou calado. Mais uma vez a caminho do sítio, os dois puderam relaxar um pouco, deixando suas preocupações em um canto de suas mentes. A direção era a pior parte, Paulo estava com o ombro dolorido e todo o lado esquerdo de seu corpo doía quando ele tinha que dirigir por uma curva e Julia, por mais que quisesse ajudá-lo, sabia que era melhor ele dirigir com dor do que colocar o carro e suas vidas na mão dela, já que dirigir com uma única mão enquanto a outra repousava em uma tipoia não era a melhor ideia do mundo.

Paulo prestava atenção ao caminho e tentava observar tudo o que Julia fazia, ela tinha começado a mexer nas coisas do carro. Primeiro ligou o rádio em busca de alguma estação que estivesse tocando música em vez de falando sobre o iminente desastre mundial; depois começou a procurar por objetos no assoalho do carro, nos porta-copos e também no porta-luvas.

― O que você está procurando? Eu não acho que vá achar nada de interessante aí, esse carro era de outra pessoas, a gente não sabe de nada que pode estar aqui dentro. - Paulo comentou depois de alguns minutos.

― Exatamente! Eu estou procurando qualquer coisa que possa indicar quem eram essas pessoas. Eles deviam estar desesperados para juntar a coragem de atacar pessoas. É provável que tenham perdido muita coisa essa semana, isso se não tiverem perdido tudo.

― Bem, não sei se perderam tudo, mas acabaram de perder um carro. Você acha mesmo que pode descobrir quem eram eles simplesmente observando o lixo que deixavam dentro do carro? Pra mim isso parece mais adivinhação do que algum tipo de técnica psicológica, quer dizer, você poderia descobrir algum comportamento, do tipo se eles fumavam ou não, mas não acho que vai ter uma grande revelação só por saber que tipo de coisa eles levavam dentro do carro.

Antes que ele pudesse argumentar de alguma outra forma Julia apontou bem no meio do seu rosto e riu histericamente. Paulo diminuiu um pouco a velocidade e olhou para o que Julia estava balançando bem na frente do seu nariz. Era a habilitação de um dos homens, provavelmente aquele era o dono daquele carro.

― E daí? Agora você sabe o nome e o endereço de um homem que nos atacou e que agora está deitado no meio da rua no centro da cidade. O que você vai conseguir com essas informações? Afinal, até onde nós sabemos o endereço pode não existir mais, e ainda por cima, esse homem pode ser o que foi morto pelo companheiro imbecil. - Paulo disse, tentando não soar grosso frente à descoberta de Julia.

― É, provavelmente não vai me servir de nada, mas pelo menos agora eu sei o nome de um dos homens que tentou nos matar. - ela respondeu e ficou um momento em silêncio, refletindo ― Você está certo, não serve pra absolutamente nada.

Paulo então, a observou abrir a janela e deixar o documento voar pelo lado de fora.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora