Capítulo 12

11 4 0
                                    

Alice não se trocou com tanta pressa como Paulo tinha pedido, ela não estava com pressa para sair e conhecer a casa da ex do seu atual. Além do mais ela já tinha começado a se questionar quais as roupas que ela escolheria para levar consigo.

Quer dizer, são tantas opções! E se estiver frio em um dia e depois ficar muito quente? E se chover?

Ela discutia isso apenas internamente. Normalmente ela faria esses comentários em voz alta para ver o que Paulo diria a respeito, porém ela nunca o tinha visto tão concentrado como agora. Ela supunha que era assim que ele ficava durante as cirurgias que ele realizava, não tinha como saber porque ela nunca tinha assistido nenhuma delas (Nem pretendo assistir, tá doido!).

Paulo saiu do banheiro e sinalizou para ela que entrasse se precisasse. Enquanto ela terminou de se calçar, ele saiu do quarto. Alice se jogou na cama de novo.

Isso está acontecendo de verdade?

Para testar sua dúvida e descobrir se estava sonhando ou não, ela foi até o banheiro, abriu a torneira e jogou um pouco da água gelada no rosto. Não sentiu nada de diferente. Deu tapas fracos dos dois lados do rosto. Nada.

Que droga!

Ela saiu do quarto para se encontrar com Paulo conversando com Julia. O tom dele era diferente com ela, Alice percebeu. Julia estava sentada no sofá e Paulo estava de pé recostado na moldura da porta da cozinha. Ele levantou os olhos para onde ela estava parada, na saída do corredor.

― Pronta? Vamos? - ele perguntou, já com a chave do carro na mão.

Julia se levantou e, dessa vez, Alice não fez nenhum esforço para passar na sua frente e ficar mais próxima de Paulo.

Eles percorreram o caminho em silêncio, de vez em quando prestando atenção ao que os noticiários do rádio diziam. O caminho não era longo, o que foi aceito com gratidão por Alice e provavelmente pelos outros, o silêncio era apenas o pano de fundo para uma tensão crescente.

Só quando Alice percebeu, pelos prédios e casas que começou a reconhecer, que estavam chegando a sua casa foi que se tocou de algo importante: ela não fazia ideia de como estaria o edifício em que ela morava. Ela saiu com Paulo na noite anterior antes de toda aquela confusão e até o momento não havia nem sequer passado pela sua mente que o prédio poderia não estar mais lá.

Por sorte, destino ou qualquer dessas coisas (não fazia muita diferença escolher qualquer termo, Alice simplesmente não acreditava nesse tipo de coisa), o prédio continuava lá, não tinha passado incólume pelo terremoto, mas pelo menos não tinha caído e enterrado várias pessoas. Ou o que seria pior, enterrado todas as coisas de Alice.

Paulo estacionou do outro lado da rua e eles saíram em direção à entrada. Alice tirou as chaves de dentro da bolsa, passou pela porta e a segurou para que os outros dois a seguissem para dentro. Morando no terceiro andar, todos concordaram que seria melhor usar as escadas do que correr o risco de entrar em um elevador que poderia ter sido danificado pelo tremor.

Essa ideia se mostrou verdadeira quando eles passaram pelo segundo andar e notaram que a porta que geralmente levava ao interior do elevador estava aberta, no entanto o elevador não estava naquele andar. Eles se aproximaram para verificar, Paulo, usando a lanterna do celular, observou o buraco escuro e os cabos do elevador que balançavam sem nenhum propósito. Ele apontou a lanterna para cima e não conseguiu ver nada mais do que aquilo que já estava vendo bem na sua frente. Tentou então olhar para baixo e notou um brilho que não tinha visto na outra direção.

Paulo se agachou para ficar mais próximo do chão, Alice se aproximou e também colocou a cabeça para dentro do buraco que deveria ser ocupado pelo elevador.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora