Capítulo 7

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Julia deve ter dormido porque ela se lembrava de sentar na entrada da casa de Paulo e a próxima coisa que ela viu foi o rosto do seu ex-namorado logo acima do seu. Ela se sentiu ser carregada para dentro da casa e depois o sofá debaixo de si. O sofá pareceu tão confortável ao seu corpo depois de cochilar sentada na entrada da casa que ela nem se moveu. Mas agora estava completamente desperta.

― Oi. - ela cumprimentou.

― Oi? - Paulo respondeu, sem saber o que deveria dizer.

― Desculpa aparecer sem avisar, eu tive um pequeno ataque depois de sentir o chão tremer. A primeira coisa que eu pensei foi que devia vir pra cá.

Ela moveu a cabeça e viu Alice fechando a porta.

― Oi. - ela cumprimentou.

Em vez de responder, Alice se virou para Paulo como quem diz: "Era essa aí que você estava procurando?"

― Alice, essa é a Julia. Julia, essa é a Alice, minha namorada. - Paulo fez as apresentações.

Julia se sentou e esticou a mão, depois de alguns segundos de hesitação Alice esticou a sua e elas apertaram as mãos.

― Agora que ela está aqui você pode me explicar a tal promessa? - Alice perguntou para Paulo.

― Claro, eu tinha me esquecido. A Julia e eu namoramos por muito tempo, desde o colégio, a gente estava junto quando a mãe dela morreu e quando meus pais morreram também. Nós ficamos sozinhos no mundo, só tínhamos um ao outro. - ele disse.

Alice tinha uma expressão que deixava claro como aquilo parecia um clichê de filme de segunda categoria.

― Enfim, pra encurtar a história, nós prometemos que estaríamos juntos se algo do tipo - ele fez sinais vagos com as mãos, querendo sinalizar a situação em que estavam - acontecesse.

Alguns segundos se passaram em que os dois se encararam enquanto Julia mudava seu olhar de um para o outro tentando entender a dinâmica do relacionamento deles.

― Algo tipo o fim do mundo. - Alice disse, por fim.

― Mais ou menos isso...

Julia se levantou e foi para o ambiente ao lado. Paulo perguntou sem se levantar do sofá onde tinha se sentado:

― Para onde você vai?

― Só vou dar um espaço para vocês conversarem sozinhos - foi a resposta.

― Pelo menos ela é educada! - Alice comentou.

Julia foi até onde ficavam as bebidas de Paulo, tirou o uísque da prateleira e pegou um copo. Ela servia e virava a bebida na boca como quem estava bebendo água, ou pelo menos algo mais fraco que uísque.

Ela já tinha bebido alguns copos quando Paulo entrou na sala seguido de Alice.

― O que você está fazendo? - ele perguntou.

― Parece bem óbvio pra mim. - comentou Alice, que foi até Julia, pegou um copo e se serviu de uma dose - Ao fim dos tempos! - ela levantou o copo e brindou.

Alice virou o copo e depois saiu da sala de volta para o sofá.

― Eu gostei dela. - Julia comentou entre um copo e outro. Ela tinha levantado o copo e acompanhado o brinde de Alice.

― Por que você está bebendo tanto assim? - Paulo perguntou.

― Acho que o brinde explica muita coisa. Ah, também o fato de eu estar na casa do meu ex-namorado, onde ele mora com outra mulher agora. Além do mais, eu estou tentando bater o recorde de Dylan Thomas. - ela virou outro copo, mais da metade da garrafa tinha ido embora.

― Tudo bem, nós não sabemos nada sobre o fim do mundo, foi só um terremoto. Não, ela não mora comigo, ela veio pra cá pelo mesmo motivo que você. E quem é Dylan Thomas?

― Ah, era um poeta galês. Quando ele estava morrendo, ele disse que tinha bebido dezoito doses de uísque e que isso devia ser algum tipo de recorde. Bem, não sei sobre a validade histórica desse recorde, mas eu acabei de ultrapassá-lo.

Ela tomou um último copo, guardou o resto da bebida no lugar, lavou o copo e se despediu.

― Acho que todos nós devemos dormir, não é? Pode ir pra cama, eu sei onde o sofá fica.

Os dois se encontraram com Alice sentada no sofá, encarando o nada. Paulo a chamou para ir para o quarto e assim eles foram para seus quartos. Paulo e Alice foram para o quarto principal e Julia foi para o quarto de hóspedes. Ela arrumou a cama, foi ao banheiro e por fim apagou as luzes para dormir.

Algo que ela não conseguiu. Apesar de toda a bebida que estava em seu corpo e de todo o cansaço causado pelo estresse, o barulho vindo do outro quarto a impediu de dormir. Além de alto, o barulho deixava claro para ela tudo o que acontecia atrás da parede, quase como se eles quisessem que ela escutasse. Julia virou de um lado para o outro na cama, mas o sono demorou a chegar, e quando chegou não trouxe os melhores sonhos.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora