Capítulo 53

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Paulo não se atrevia a permanecer desconcentrado por muito tempo além das horas em que estava dormindo. Geralmente suas poucas pausas eram feitas na hora das refeições e outras poucas vezes para ir ao banheiro. Por um lado, essas eram as condições ideais para se desenvolver qualquer coisa que produzisse um efeito minimamente decente contra a infecção fúngica.

Por outro lado, o lado humano, por assim dizer, era impossível manter a concentração por tanto tempo em uma única tarefa. Principalmente quando se realiza essa tarefa sem nenhuma companhia. Por isso Paulo chegou a oferecer um macacão para Julia, assim os dois poderiam se concentrar em suas respectivas tarefas no laboratório e ainda sim ter a companhia um do outro.

Talvez Julia não se sentisse tão sozinha quanto ele, talvez tivesse se acostumado com essa sensação depois de um ano de isolamento auto infligido.

Ou talvez ela não queira se intrometer no seu trabalho, que pode salvar várias vidas se tiver bons resultados.

Na mesma noite em que Paulo teve essa discussão interna, os dois assistiram aos noticiários como se tornou costume, e receberam com certo pânico a notícia de que alguns casos de infecção pelo vírus zumbi infectando humanos foram notificados em cidades pequenas em todo o país. Como se de repente todos os animais infectados tivessem resolvido dar um passeio na cidade mais próxima.

Paulo dormiu mal naquela noite. Em sua cabeça as imagens de destruição da sua cidade depois do terremoto e da inundação ficaram se repetindo como uma apresentação de slides. Algumas delas, Paulo soube imediatamente, eram apenas criações do seu subconsciente, pois mostravam pessoas com as peles acinzentadas e feridas enormes, mas que continuavam andando como se nada tivesse acontecido.

Deixa de pensar besteira, isso não passa da sua imaginação afetada por filmes hollywoodianos.

Depois de ter esse pensamento, a tensão diminuiu. Era óbvio que aquelas imagens na sua cabeça tinham como inspiração as dezenas de filmes de zumbis que tinha visto na vida. Quando analisava as coisas daquela maneira, Paulo imaginava que suas situações eram realmente muito fantasiosas. Afinal, em algum momento o fungo que se aproveita dos hospedeiros iria inevitavelmente causar suas mortes, já que não se importava com dores e lesões.

Se importar talvez não seja a palavra certa, o melhor seria dizer que o fungo não consegue sentir essas coisas.

Sua mente continuou vagando pelo universo cinematográfico dos zumbis. Em algum momento, sem que percebesse, começou a listar os filmes que já tinha assistido com a temática zumbi.

Tem aquele das líderes de torcida, tem o da guerra contra os zumbis, tem aquela série de televisão com mais temporadas do que deveria e aquele em que a menina se apaixona pelo zumbi, a gente tem que combinar que não foi a melhor ideia de filme com a ideia "inimigos para amantes"...

E a lista foi aumentando até que Paulo caísse no sono, ainda pensando nos zumbis do cinema.

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