Capítulo 59

6 2 0
                                    

Paulo acordou se sentindo bem, aquela cama, aquela mulher do seu lado, tudo o lembrava das férias que passavam juntos anos atrás, ainda estudantes universitários. A letargia da pessoa que acaba de acordar desapareceu rapidamente quando notou um vulto no canto do quarto. Cutucou Julia para que ela também acordasse e tomou cuidado para cobrir o corpo dos dois com um lençol.

― Bom dia, pombinhos! - Marco disse, sentado em cima de uma caixa ao lado da cama.

― Como você entrou aqui? - Paulo perguntou, tentando controlar o tom de voz para não deixar o outro irritado. Era um risco desnecessário.

― As portas estavam abertas. Eu pensei em acordar vocês, mas pareciam estar bem confortáveis nesse sono. Deviam estar bem cansados depois de ontem, com toda aquela ciência no porão de vocês. - Marco respondeu.

Pelo menos parece que ele não trouxe a arma hoje, já é um avanço.

― Isso! Exatamente! A ciência pode ser muito cansativa. - comentou Julia ― Será que você pode nos dar licença para colocarmos nossas roupas?

― Claro, se isso incomoda tanto vocês. Mas só para saberem, o lençol não estava cobrindo vocês quando eu cheguei, então não tem nada que eu não tenha visto. - Marco disse e se dirigiu para fora do quarto, fechando a porta atrás de si.

Paulo pôde sentir o olhar de Julia fuzilando-o. Ele sabia que isso provavelmente não estaria acontecendo se não tivesse sido tão simpático com um estranho ameaçador no dia anterior. Mas agora não havia nada que pudesse ser feito, já tinham cativado Marco e, de fato, no dia anterior tinha permitido que ele acompanhasse o desenrolar de seus experimentos.

Observou enquanto sua companheira (Será que nós já entramos em acordo quanto ao fato de estarmos juntos de novo?) vestia uma roupa qualquer que estava espalhada no chão do quarto. Ele vestiu um dos macacões por cima da cueca e os dois se encontraram com o visitante na cozinha, preparando alguma coisa no fogão. Havia uma cesta cheia de frutas em cima da mesa. Frutas que nenhum dos dois via a meses.

― Eu trouxe um presente como forma de pedir desculpas pela forma como nossa amizade começou ontem de tarde. Eu vi que vocês não tinham uma diversidade muito grande de alimentos e já deviam estar cansados de comer as mesmas coisas todos os dias. - Marco disse quando eles se sentaram.

Paulo olhava Julia mexer nas frutas e arrumá-las em cima da mesa. No fundo da cesta, Julia achou dois pacotes de milho de pipoca e soltou um gritinho de animação. Paulo não viu essa reação desde que haviam chegado ao sítio, nem mesmo quando ele disse que em breve poderiam voltar para casa. Isso o deixou um pouco triste, até mesmo pipoca conseguia deixar Julia mais animada do que ele, por outro lado eles pareciam estar se dando bem de qualquer forma.

Os dois comeram em silêncio e aceitaram de bom grado o café que Marco preparou. As frutas estavam deliciosas e serviriam para sustentá-los por algum tempo. Ao terminarem, Paulo fez sinal para que Marco o acompanhasse para o porão. Antes de descer os degraus, Paulo trocou olhares com Julia para saber se ela também se juntaria a eles, mas notou que não ocorreria o mesmo que ocorreu na tarde anterior.

No porão, Paulo pescou outro macacão de dentro de um baú e entregou a Marco, explicando a importância de se usar um daqueles enquanto estivessem ali embaixo. Para sua surpresa, aquele armário em forma de gente começou a tirar suas roupas ali mesmo.

― Ei, calma lá grandão, o que você está fazendo?

― Vocês vestem isso só com as roupas íntimas, não? - ele perguntou, surpreso com a repreensão.

― Bem, sim, mas nós não ficamos semi-nus na frente dos outros. - Paulo respondeu, deixando a surpresa e a confusão marcarem sua voz.

― Pois então, nós dois somos homens, não é como se você não conhecesse outro corpo masculino.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora