Julia viu o reflexo de alguma coisa se movendo atrás dela no vidro da janela e se virou na mesma hora.
Ela não teve nem tempo de gritar. Em um momento ela vê o braço de Alice na janela, levantado e segurando uma faca, no momento seguinte Paulo estava segurando o braço da namorada e gritando de uma forma que ela nunca viu.
Julia saiu daquele canto e voltou a se sentar na bancada. Sua mente estava rodando dentro da cabeça.
Ela ia tentar me matar? Sim, ela ia me esfaquear. Ela é completamente maluca!
Analisando todas as informações que tinha de Alice, Julia tentou traçar sua personalidade: controladora (claramente tudo aquilo era mais do que simples ciúmes de namorada), autocentrada no mais alto grau, mas ela salvou aquele menino no prédio dela, então ela não era única e exclusivamente uma pessoa má, ela simplesmente lutava dentro de si entre ser uma boa pessoa ou uma completa escrota. Ah, isso sem contar que ela era viciada em medicamentos e roubou um frasco da casa de Julia.
E se ela estiver certa no final das contas? Quer dizer, se eu não estivesse aqui com certeza a vida deles seria menos complicada. Né?
Ela esfregou os olhos, estava cansada. Cansada daquele ambiente em que não se sentia bem-vinda, cansada dos pensamentos invasivos cada vez mais recorrentes e fortes desde que saiu de casa na noite de quinta-feira. Cansada de tudo.
Julia sabia que nada daquilo era culpa sua. Ao menos a maior parte não tinha nenhum dedo dela envolvido. Talvez, e só talvez, as brigas entre Paulo e Alice tenham aumentado por sua causa, mas ela não sabia como era a relação deles antes de ela chegar, bêbada, batendo na porta e ficar na porta esperando por Paulo.
Voltando a si, Julia começou a ouvir o que Paulo e Alice estavam dizendo. Os dois tinham ido para o quarto, Paulo puxando Alice pelo pulso. Julia notou que ele tinha tomado a faca dela e a deixado no balcão, ao lado da pia. Ela se levantou e deu a volta na bancada, pegou a faca e a devolveu para dentro da gaveta.
O que eu devo fazer agora? Eu não vou voltar pra casa, na verdade eu não vou sair daqui, pelo menos até o Paulo me mandar embora. Geralmente uma pessoa que sofre uma tentativa de assassinato deve recorrer à polícia, mas será que os números de emergência ainda funcionam? Além disso, Paulo já controlou a maluca.
A primeira coisa não relacionada com o que tinha acabado de acontecer que passou pela sua cabeça foi assistir a um filme. Então ela foi até a televisão e escolheu uma animação que estava sendo transmitida em um canal infantil.
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Te vejo no fim do mundo
General FictionJulia, uma psicóloga com agorafobia (medo absurdo de lugares com muita gente) proveniente de ter presenciado a morte da mãe de seu namorado (na época), resolve sair de casa e encontrar as amigas em um bar. Quando ela está voltando para casa, um terr...