Capítulo 2

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Paulo teve um dia muito cheio no consultório, parece que muitos acidentes estavam acontecendo hoje, havia alguns meses desde a última vez que teve tantas emergências para serem atendidas em um mesmo dia.

É verdade que havia trocado a pequena clínica de bairro por um grande hospital no centro da cidade no final do ano anterior. Também era preciso levar em conta que ele tinha conseguido terminar sua tese de doutorado e foi aprovado, publicando-a em uma revista científica bastante conceituada, o que tornou seu nome conhecido e aumentou a busca por consultas com ele.

Ele teve que cuidar de muitas fraturas no bloco cirúrgico do hospital, por algum motivo que Paulo não conhecia, o número de acidentes de trânsito tinha sido absurdamente alto para uma quinta-feira qualquer.

No momento em que teve uma pausa para almoçar entre uma emergência e outra, Paulo ouviu um grupo de colegas do hospital comentar algo sobre uma mulher maluca. Aparentemente essa mulher estava andando pelas ruas da cidade com sinais pintados em papelão, gritando mensagens um tanto assustadoras sobre o fim do mundo.

Ele não se importava com a animosidade com que a história se espalhou e afetou as pessoas que andavam pelos corredores do hospital. Não que ele não tivesse medo do final do mundo, todo mundo deveria ter, mas Paulo tinha sido criado por um casal de sobrevivencialistas que o tinham ensinado a sobreviver em quase qualquer cenário possível de apocalipse.

Paulo não contava isso para as pessoas, não era uma boa ideia, ele ainda se lembrava das reações que essa informação causava nas pessoas com quem Paulo achava ter intimidade o suficiente para compartilhar esse tipo de experiência.

Depois do expediente ele voltou para casa, tomou um banho (ele gostava de tomar banhos mais longos nos dias de plantão e com a água quente para ajudar a relaxar os músculos) e saiu novamente. Sua namorada o estava esperando na porta da casa dela para a noite de encontro.

Paulo tinha consciência de que seu relacionamento com Alice não era muito normal, pelo menos não da forma como ele estava acostumado em seus relacionamentos anteriores. Eles se viam poucas vezes por semana por causa dos trabalhos dos dois, ele médico e ela empresária, passavam algumas noites juntos geralmente na casa dele e saiam de vez em quando para manter a aparência de normalidade, mais para eles mesmos do que para os outros. Paulo também sabia que Alice podia ser um pouco ciumenta e controladora demais, mas ele relevava esse tipo de comportamento do mesmo jeito que a maioria das pessoas o faz, pensando "é só o jeitinho dela!"

Paulo esperou que entrasse no carro e seguiu pelo caminho indicado pelo GPS para chegar ao restaurante no qual tinham feito reservas. O rádio tocava sem parar e as músicas iam e vinham entre os estilos musicais, tocando ao fundo da conversa do casal. Ele só parou de falar por um segundo e prestou atenção na música quando uma das letras chamou sua atenção.

A música o fez lembrar da história da mulher maluca que dizia que o mundo estava acabando. E ao pensar nisso Paulo lembrou de uma promessa que havia feito há pouco mais de um ano, quando sua vida se encontrava em um capítulo completamente diferente do qual se encontrava agora. 

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora