Capítulo 35

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Paulo acordou no dia seguinte com o pescoço travado. Aquele sofá realmente não era o melhor lugar para dormir. Ele se levantou e foi até a cozinha, onde colocou uma bolsa de água no microondas. Quando o microondas sinalizou o fim do tempo programado, Julia entrou pela porta que levava à varanda.

― Tudo bem com seu pescoço? Você não devia ter dormido no sofá.

― Bem, você dormiu alguns dias lá e não reclamou de nada. Eu estou bem, foi só uma noite mal dormida.

― Eu sou menor que você, eu consigo deitar no sofá sem quebrar meu pescoço. Não tem discussão para isso. Você não dorme nem mais uma noite no sofá. - Julia disse, enquanto abria a geladeira.

― E você vai simplesmente, da noite para o dia diga-se de passagem, aceitar dormir comigo na mesma cama?

― Você escutou o que eu acabei de falar? Eu vou ficar no sofá. Não tem problema.

Droga, não custa tentar certo?

Ela preparou um suco para os dois, também pegou ovos e preparou alguma coisa que Paulo não sabia ao certo. Deveria ser uma omelete, mas não se parecia com uma.

Pelo menos o gosto está bom!

Ele comeu em silêncio, pensando no que havia dito, sobre ter uma noite mal dormida. Era verdade, ele não tinha dormido bem, por um lado passou muito tempo pensando em como Alice estaria, onde ela estava, agora que não estava mais ali? O que poderia estar fazendo? Será que ela estava bem?

Mas depois de algum tempo sua mente se concentrou em algo de maior relevância, a viagem para o sítio. O ideal seria sair daquela casa em pouco tempo, de preferência antes do próximo fim de semana, se possível bem antes disso. No próximo fim de semana completariam dez dias desde o primeiro problema, que havia sido o terremoto que causou tanta destruição.

E depois causou a destruição da barragem. Essa foi a gota d'água, se me permitem a piada de mal gosto. Mas realmente foi o enterro dessa cidade. Ou o afogamento.

― Escuta, acho que a gente deveria começar a arrumar nossas coisas para podermos sair logo daqui. O que você acha?

― Eu não sou o expert em sobrevivência. É você, o que você disser é o que nós vamos fazer. Mas se você precisa tanto de uma opinião, eu concordo com você, acho que a gente poderia ir amanhã cedo.

Amanhã? Meu Deus, tudo bem. Acho que a gente consegue trabalhar com isso.

― Você acha que nós conseguimos arrumar tudo até amanhã de manhã? - ele perguntou.

― Eu não sei. Você acha que a gente tem tanta coisa assim para arrumar? - Julia devolveu a pergunta.

Os dois então decidiram por fazer uma lista do que deveria ser arrumado. Eles concordaram que as coisas de Julia só precisariam ser arrumadas dentro da mochila que ela tinha pegado em casa poucos dias antes. Paulo não teria que levar tanta coisa, afinal, eles estavam indo para a casa dele. Já tinha muita coisa dele lá.

Porém ele levaria algumas coisas, como alguns dos seus equipamentos básicos de consulta. E também levariam outras coisas da casa, por exemplo alguns livros para abastecer a biblioteca do sítio e as comidas que poderiam estragar se deixadas para trás.

Essa última medida deveria ser tomada apenas para não chamar atenção de animais nas redondezas e de pessoas mal intencionadas que poderiam sentir o cheiro de comida apodrecida e tentariam invadir a casa, por pensarem que está abandonada.

Se bem que não vai ter ninguém aqui por muito tempo, quem sabe se ela vai se tornar um imóvel abandonado ou não? Talvez nós nunca mais voltemos para cá, ou talvez, mesmo se voltarmos ela pode não estar mais aqui quando isso acontecer.

Sua linha de raciocínio o incomodou, Paulo não queria pensar na sua casa, sua primeira e única casa própria, pois o sítio era de seus pais, ou tinha sido pelo menos, sendo abandonada ou destruída.

Ele focou sua atenção na organização dos alimentos que deveriam ser levados. Para não estragarem rapidamente, Paulo os estava colocando dentro de uma bolsa com gelo. Quando se deu por satisfeito com essa organização, ele voltou sua atenção para os objetos que deveria escolher para levar.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora