Capítulo 11

12 5 0
                                    

O que tá acontecendo? Será que tá acontecendo outro terremoto? Por que eu tô tremendo tanto?

Paulo abriu os olhos um pouco, tinha muita luz no quarto e seus olhos precisavam se acostumar. Não era nenhum terremoto, era Alice que o balançava pelos ombros, tentando fazer com que ele acordasse. Ele deu uma olhada em volta, a cortina estava balançando, o que indicava que alguém tinha acabado de abri-la. Ao virar para o outro lado do quarto, ele notou outra pessoa em pé ao lado da porta, era Julia.

Ele viu que o olhar das duas era de preocupação.

Quanto tempo será que eu dormi? Será que elas achavam que eu tinha morrido? Por que mais estariam tão preocupadas?

― Eu precisei vir aqui te acordar, sua ex queria fazer isso mas eu só deixaria isso acontecer depois de ela passar por cima de mim, quem ela acha que é pra vir dormir aqui e ainda querer te acordar cedo? - foi a primeira coisa que Alice disse, sussurrando para que Julia não a escutasse de onde estava.

― O que aconteceu? Quantas horas?

Ele se sentou e olhou para o relógio na mesinha que ficava do seu lado da cama. Não eram nem oito da manhã, o dia prometia não facilitar nada para ele.

― Por que você me acordou tão cedo?

― Já falei. Sua ex queria acordar você.

Ele voltou seu olhar para Julia. Ela se mantinha do lado de fora do quarto, quase como se houvesse um campo de força que a impedisse de entrar. Paulo ergueu as sobrancelhas, esperando ouvir alguma explicação e torcendo para que fosse uma das boas. Julia não aguentou mais e entrou no quarto, sua expressão era a de quem tinha sido empurrada para dentro e ao mesmo tempo estivesse correndo por vontade própria. Ela pegou o controle da televisão que estava ao lado da cama e ligou no canal de notícias internacionais.

Todos se voltaram para as imagens que estavam sendo mostradas, o ar do quarto de repente pareceu suspenso, como se ninguém conseguisse respirar. A manchete estampada, colocada eletronicamente por cima das imagens de destruição de diversas cidades ao redor do mundo era: "O MUNDO SOMA INÚMEROS DESASTRES 'NATURAIS' DESDE A ÚLTIMA NOITE".

Ainda sem dizer nada, Julia estica a mão para Paulo, oferecendo a folha que tinha usado para fazer anotações. Ele a pega e lê as linhas tremidas de informação em silêncio. respira fundo, se levanta da cama, desviando de Julia e entrando no banheiro. A porta é fechada com mais força do que era necessária, as duas ficam no quarto sozinhas, o clima entre elas ainda não é minimamente amigável. Elas conseguem ouvir a água corrente caindo da torneira dentro da pia.

Depois de alguns minutos, Paulo sai do banheiro com uma toalha nas mãos enquanto secava o rosto molhado.

― Que droga está acontecendo no mundo? - ele perguntou para ninguém em específico, parecendo desolado.

Parece quase injusto que o mundo esteja acabando e vocês não estejam aqui para sobreviver a isso.

Ele estava pensando nos pais, as duas pessoas mais anormais que ele conheceu na vida, mas pelo menos eram as duas mais preparadas para qualquer situação adversa que pudesse surgir. Eles se casaram e correram para uma casa afastada de tudo onde se sentiam mais seguros do que em uma cidade, tiveram um filho e o criaram ensinando todas as formas que sabiam de se escapar com vida de desastres naturais, ferimentos e coisas do tipo;o ensinaram a caçar e a sobreviver no mato, em corpos d'água e em ambientes inóspitos de forma geral.

E agora que parece que o jogo começou de verdade vocês não estão aqui. Ah, a ironia do destino.

Julia sabia o que estava passando pela sua cabeça, de forma constrangida ela se sentou ao lado dele e passou uma mão por suas costas, mas evitando mais contato que o estritamente necessário. Paulo não se incomodou e recostou sua cabeça no ombro dela. Alice, sentada na cama atrás deles, fez muito esforço para não puxar Paulo para perto de si, como se aquele toque pudesse queimá-lo ou feri-lo de alguma forma.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora