Capítulo 61

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― Eu preciso que os dois parem de gritar. - disse Paulo. ― Julia arrume um curativo para a mão dele, use luvas, nós não sabemos se podemos ser infectados entrando em contato com sangue.

Ele observou enquanto a mulher fazia o que ele tinha pedido.

E agora? Agora eu tenho uma cobaia humana, mas que forma mais desgraçada de conseguir algo tão útil! Vou ter que acelerar a busca pela via de aplicação ideal, senão estaremos todos em risco.

A mão de Marco teve o sangramento estancado rapidamente e em questão de minutos estavam todos concentrados em seguir com os experimentos. Agora o fungo não era seu único inimigo. A partir de agora eles também lutavam contra o tempo. Paulo viu que ele não era o único que tinha se dado conta disso. Marco estava calado e introspectivo como nunca tinha visto, talvez essa fosse sua forma de refletir sobre um problema. Julia também parecia bastante concentrada, mesmo que estivesse mexendo nos diversos frascos, como se a resposta para seus problemas pudesse estar ali em algum lugar com o rótulo "Solução final".

As vias subcutânea e intravenosa não funcionaram. Não temos tempo para testar todas as outras. O fungo não atinge os pulmões, então a via respiratória pode não ser de muita ajuda, também temos a via intramuscular que provavelmente só apresentará o efeito local das que eu já testei. O que eu vou arrumar agora?

― Vamos lá pessoal, eu preciso que todos me ajudem a pensar. O fungo afeta os nervos, que tipo de aplicação eu posso fazer que vai acarretar a ação dos medicamentos nos nervos? - Paulo disse, mesmo tentando controlar a voz, o desespero era evidente.

― Você não tem nenhum livro de medicina aqui? De neurologia? Algo que possa ajudar nesse sentido? - comentou Julia.

― E se aplicar direto no meu cérebro? - Marco disse.

Senhor, que isso seja a ignorância dele e não o fungo falando, amém.

― Essa é uma mistura de produtos químicos nova, nunca testada em humanos apesar dos resultados relativamente positivos em animais. Se eu injetar essa coisa no seu cérebro você pode morrer.

― Nesse caso, é melhor não fazer o que eu acabei de sugerir. - Marco respondeu.

Julia tinha subido as escadas correndo, Paulo decidiu ir atrás dela para descobrir o que estava fazendo. No andar de cima, ele a encontrou no seu antigo quarto, procurando entre os seus livros. Paulo não tinha ideia do que procurar, mas se juntou a ela.

Como ele tinha imaginado, não conseguiu distinguir nenhum livro que pudesse ser útil, talvez estivesse enganado, mas não tinham o tempo necessário para ler todo aquele material em busca de uma informação tão específica. Em vez de continuar com essa busca insana, ele partiu para um material muito mais extenso porém fácil de catalogar. A internet.

Ligou o computador de Julia, que tinha ficado sobre o sofá quando tinham ido almoçar, e pesquisou sobre as vias de aplicação de medicamentos para o sistema nervoso.

Mais uma vez sua busca não apresentou nenhum resultado concreto, já havia se passado meia hora desde que Marco havia sido mordido e não tinham a menor ideia de quanto tempo levaria para a infecção se espalhar. Pensando em Marco, Paulo se deu conta de que o pobre coitado estava sozinho no laboratório. Seria melhor não deixá-lo sozinho, por isso Paulo voltou para o porão e rezou para encontrar algo usando o telefone ou mesmo realizasse um experimento nos animais que desse resultados.

Marco estava sentado encarando o nada da mesma forma há mais de trinta minutos quando Paulo desceu a escada para o porão. Ele ficou com medo de que o homem tivesse entrado em estado catatônico, porém quando viu movimento próximo, Marco reagiu, tirando os piores pensamentos da cabeça de Paulo.

― E aí amigão, como está se sentindo?

― Morrendo. - ele respondeu, tranquilo. ― Por que não podemos injetar esse troço na minha cabeça?

― Nós podemos, eu já expliquei, mas o risco de você morrer é muito grande. Além do mais você não está morrendo, lembra como nós matamos o fungo que estava na pele dos animais?

― E daí? Eles ainda não estão curados, estão?

― Não, ainda não, mas...

― Mas nada, eles continuam infectados. Aquele coelho parece um coelho normal para você? Porque para mim não parece. E a pior parte é não saber quanto tempo eu ainda tenho antes de ficar igual a ele.

É verdade, eu só consigo imaginar o desespero que ele está sentindo. Mas ao mesmo tempo nós não podemos julgar quanto tempo ele tem da mesma forma que não podemos julgar se o fungo afetou tanto assim as pessoas que foram infectadas.

Depois deste pensamento, Paulo mudou o foco de sua pesquisa no telefone. Digitou no pequeno teclado: "Quais são os sinais da infecção pelo fungo que controla os hospedeiros?"

Os resultados não foram os melhores, os casos já registrados no mundo apareceram na sua tela e não paravam de aumentar. Segundo outras pessoas que estavam buscando a cura em diversos lugares do mundo, o fungo iria causar extrema confusão quando chegasse ao cérebro, além de falta de coordenação transitória enquanto estivesse evoluindo pela medula. Depois disso, o hospedeiro ficaria sob total controle do fungo.

Nesse momento, já depois das quatro horas da tarde, Marco teve um espasmo na perna esquerda, fazendo com que chutasse a mesa e derrubasse alguns dos materiais que estavam ali.

O fungo tinha chegado na sua medula espinhal e ele começava a dar sinais de incoordenação.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora