Capítulo 57

6 2 0
                                    

A porta fechou atrás dos dois. Vestidos com aqueles macacões, tiveram que acostumar a visão ao brilho do branco sob a luz do sol. Paulo andava rapidamente e sabia que Julia estava tendo dificuldade para acompanhar sua velocidade, mas sua empolgação era grande demais para poder conter a distância entre um passo e outro.

Ao passarem pela clareira onde os pais estavam enterrados, Paulo fez uma pequena pausa para se ajoelhar e ter uma pequena conversa com os pais. Mesmo naquele momento não queria quebrar o costume que tinha desenvolvido desde a morte do pai.

Ei pessoal, eu sei que nas últimas semanas eu tenho vindo falar só de trabalho, mas era o que eu tinha para falar. O fim do mundo não é tão divertido como vocês me fizeram imaginar, dá trabalho demais. Mas é por isso que estou correndo hoje, talvez eu tenha conseguido. Talvez eu tenha arrumado uma forma para parar a destruição. Eu sei que pode ser muito pretensioso, mas se funcionar eu posso salvar milhões de vidas. É uma pena que vocês não possam ser salvos. Torçam por mim.

Esfregou a palma de uma mão no tronco do carvalho, era assim que ele sinalizava aos pais que estava de saída. A partir dali pediu que Julia o guiasse, pois não conseguia ouvir os barulhos que ela havia descrito.

Andando por alguns minutos, eles foram capazes de localizar o coelho, o pequeno animal estava preso por uma das patas dianteiras, mas parecia estar inteiro. A armadilha não era do tipo armadilha para ursos, que prende a vítima enfiando dentes de metal em sua carne. Aparentemente, o pequeno e assustado coelho estava apenas amarrado. Isso era um alívio, porém não diminuia a aparência assustadora causada pela proliferação do fungo sobre o pelo. As hifas do parasita estavam cobrindo quase todo o pelo do animal, fazendo com que Paulo não fosse capaz nem mesmo de distinguir com certeza qual seria a cor da sua pelagem.

― Tudo bem. Os outros animais estavam muito longe? Talvez fosse melhor se buscássemos os que estão mais distantes e voltássemos recolhendo os outros no caminho para a casa. - Paulo sugeriu.

Julia fez um sinal positivo com a cabeça e seguiu andando, tomando cuidado para não encostar no coelho. Andaram por menos de cinco minutos até que fossem capazes de distinguir os sons de animais. Com certeza eram animais que estavam agoniados, provavelmente na mesma situação do coelho que haviam deixado para trás ainda a pouco.

Depois de caminharem entre as árvores, sempre tomando cuidado com as raízes retorcidas que cruzavam o caminho, Paulo pode contar quatro animais: o coelho, um gato, que devia ter fugido de casa, não muito longe de um cachorro enorme, que tinha a boca espumando, o que deixou Paulo preocupado pela possibilidade de ser um cão com raiva, e por fim uma raposa.

Paulo retirou a corda que fazia papel de cinto do macacão e o usou como uma coleira na raposa. Enquanto faziam o caminho de volta ensinou a Julia como fazer o nó ao redor do pescoço do cachorro para que ela também o levasse como em uma coleira. Nesse momento Paulo chegou a conclusão de que o cachorro estava apenas apavorado, já que deixou que os dois se aproximassem sem nenhuma resistência.

Enquanto guiavam os dois animais na direção do lugar onde tinham visto o gato, Paulo ouviu um barulho que fez os pelos do pescoço ficarem arrepiados. Alguém estava andando com uma arma ali perto. Provavelmente a pessoa que tinha preparado as armadilhas, isso justificaria o fato de estar se preparando para atirar nos dois.

Rapidamente Paulo puxou Julia para perto de si e andou até ficarem escondidos por um grande tronco. Sem pensar duas vezes ele colocou uma das mãos sobre a boca de Julia para que ela não fizesse nenhum barulho e apenas sinalizou para que ela desse uma olhada por trás do tronco. Ainda com a mão impedindo que ela falasse algo, ele foi capaz de ver seus olhos crescerem ao localizar o que tinha causado essa fuga inesperada. Sem retirar a mão da boca dela, Paulo girou o corpo de forma sutil, fazendo com que os dois trocassem de lugar, Julia com as costas contra o tronco da árvore e ele logo à sua frente.

Te vejo no fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora