Olho para a Senhora Anahi e para Miguel que sorri para mim com gentileza, enquanto continuo olhando para eles sem saber muito o que dizer.
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Ainda estou com as lágrimas secas no rosto, fico de frente para minha mãe e dou-lhe o saco, minha mãe sorri aliviada e algumas lágrimas caem de seu rosto.
— Obrigada, Ngana Nzambi (Senhor Deus)! Ainda existem pessoas boas...— Diz minha mãe.
Minha mãe dá-me um beijo na testa e distribui os alimentos que estavam no saco, dá alguns pães para mim e eu como, porque eu estava com muita fome, dou uns pastéis para Zénny se alimentar e minha mãe come, após ter amamentado Davi e Pedro.
— Precisam de ajuda? — pergunta uma mulher que estava um pouco mais à frente de nós, tinha cabelo loiro e olhos verdes, se aproximou e nos olhou com atenção.
— Viemos de São Nicolau...— minha mãe responde e parece ter receio de dizer que não sabemos onde ficar, não conhecemos ninguém na cidade.
— Não temos onde ficar....— Digo olhando para a senhora, a nossa frente, esperançoso, ela sorri para mim e toca em meus cabelos, em seguida olha para minha mãe.
— Podem vir comigo, eu sei onde podem ficar.
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Senhora Anahi, acabou de me oferecer mais do que uma simples ajuda.
— Eu e Kauê já temos pensado nisso há muito tempo, nós pensamos que podemos vos ajudar mais, eu adoraria ter Aminata a trabalhar comigo nas lojas, ela se tornou minha amiga ao longo destes anos, nós vos amamos muito, muito mesmo, e queremos que vocês sejam felizes, eu sei que vocês têm uma vida muito difícil e...—Fala Sra. Anahi que se encontra sentada na mesa onde eu e o Miguel temos o costume de estudar, Miguel consola sua mãe que se emociona me falando sobre a sua proposta de ajudar minha mãe. Eu sabia que minha mãe ganharia muito mais a trabalhar com a Sra. Anahi e que conseguiríamos ter um melhor estilo de vida.
— Akin... Tu sabes que eu te considero um irmão e Jacir já nem se fala, às vezes até me troca por ti. — dá uma leve risada. — Vocês fazem parte da nossa vida e já vos consideramos família.
Eu abaixo a cabeça perante os seus olhares e não resistindo, deixo algumas lágrimas cair, Miguel me abraça de um lado e sua mãe do outro.
— Está bem — Digo sorrindo para os dois com lágrimas em meus olhos.
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Chego em casa, antes do anoitecer e dou graças à Deus por isso. O nosso bairro pode ser muito perigoso durante a noite. Eu impedia muito que Miguel ou sua família viessem em rirróis. Tem um grupo de ladrões que moram nas ruas de baixo do bairro, já me ameaçaram algumas vezes por terem me seguido e visto minha aproximação com a família de Miguel, eu me odiaria se eles alguma vez estivessem em perigo por minha causa e também eu recusava as ofertas de Caíque, o motorista de sua família para me trazer em casa.
— Mãe? Zénny? — Fecho a porta de casa e pouso os sacos sobre a mesa.
David vem correndo até mim, abraça minha cintura e em seguida mostra-me um desenho, onde estava minha mãe, Zénny, eu, ele e Pedro.
— Oh que lindo desenho! — Levanto-o e seguro-o em meu colo.
— Mano, eu também fiz um desenho! Olha! — Pedro tenta captar minha atenção a pular e balançar o seu desenho pelo ar. — Solto David e me abaixo na altura de Pedro pegando e vendo seu desenho e em seguida me ponho a rir do que desenhou, os retratos são os mesmos que os de David, a diferença é que Pedro nos desenhou como se fôssemos a família real, tendo desenhado coroas em nossas cabeças.
— Manooo, o que trouxeste nestes sacos? É comida? — Pergunta Zénny que surge de nosso pequeno corredor, mal olha para mim e já vasculha os sacos com curiosidade. Nossa sala é pequena apenas com uma mesa de madeira fina que tem quatro cadeiras igualmente de madeira, temos apenas uma pequena janela e uma mesinha frente ao pequeno sofá. Tudo na nossa casa é bem... pequeno.
Zénny capta atenção de Pedro e David que vão em sua direcção na mesa também a vasculhar os sacos.
— Miguel deu-nos roupas novas e Lucy preparou estas marmitas de comida. — Digo tirando logo as marmitas dos sacos, eu sabia deviam estar com fome, porque passávamos dias sem nos alimentarmos devidamente. — Zénny vá buscar os pratos e os talheres, meninos ajudem a mana. — Digo à (David) e Pedro, que seguem Zénny até à cozinha.
David e Pedro são gémeos e até são bem-parecidos fisicamente, mas têm personalidades distintas e minha mãe fez questão até de diferenciá-los nos nomes e nas roupas que usavam. Os dois têm pele mais clara e pálida, Pedro tem cabelo castanho-escuro com cachos que balançam na altura de seus ombros sempre que ele se move para fazer algo, e David tem cabelo crespo que faz um afro na sua cabeça.
Minha mãe sai do quarto e passa pelo corredor, passa pela cozinha, mas retrocede observando a movimentação e as vozes animadas dos meninos e de Zénny, se mantém olhando para eles com carinho e um sorriso meio fraco, que aperta meu coração. Ela em seguida baixa a cabeça e me percebe na sala quando olha para frente e sorri para mim, vindo em minha direcção e vendo os sacos sobre a mesa.
— Lucy deu-me essas marmitas de comida e Miguel deu-me este saco com roupas novas. — Minha mãe sorriu emocionada.
— Eles são mesmo boas pessoas! — sorriu e cruzou suas mãos, sussurrando "obrigada, Deus".
Zénny e as crianças voltam com as coisas e nos sentamos todos para comer. David e Pedro alternavam, quando era para nos sentarmos todos na mesa, temos apenas quatro cadeiras, então às vezes era David que sentava no meu colo ou da mãe, ou às vezes era Pedro. Era mais Pedro, porque é mais mimoso, dou um leve sorriso quando ele logo me segue para sentar em meu colo, enquanto David não se importando muito, senta-se numa das cadeiras.
— Senhor Deus, damos-lhe graças por nos manter vivos, damos graças por ajudar-nos em momentos difíceis e por nos manter fortes perante as adversidades, agradecemos-lhe por ouvir nossos choros e por nos enviar pessoas de bondade, que o Senhor abençoe esta refeição e a pessoa que a preparou, que nos proteja e nos mostre o seu amor. Amém. — Minha mãe encerra a oração e sinto um leve arrepio, como se fosse um vento penetrando na sala, mesmo a janela não estando aberta, acho estranho, mas ignoro.
Amém! — Dizemos em uníssono.
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Entre Laços
SpiritualAkin nunca imaginou que sua vida tomaria o rumo que tomou, entre laços de amizade, laços familiares e laços de amor, o jovem rapaz encontra o refúgio e a força que pensou que não existisse, em Deus. Sem pensar no que Deus reservou para ele, Akin ac...