Capítulo 4

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— A PRINCESA? Mas veja bem, não pode ser assim tanta coincidência porque eu vi as notícias de hoje, a família real estaria na cidade, pelo que percebi haverá uma recruta de guardas oficiais que obterão formação académica e militar para trabalharem no castelo ou ingressar em organizações internacionais, acho que é isso... E, além disso, como todos os anos lectivos, o Rei provavelmente fez um discurso de incentivo académico, geralmente para motivar quem terminou recentemente o secundário a fazer o exame de acesso na Universidade de Cantilhena.—Diz Miguel pensativo.

— Ainda assim não faz muito sentido que ela esteja cá, não creio que ela tenha feito algum discurso, poderiam só ter vindo o Rei e a Rainha, eu sei que eles costumam visitar todas as cidades uma vez ou outra por motivos políticos. Mas por que é que ela se dirigiu a mim? Ninguém, de nobreza em sã consciência, ficaria a conversar com alguém de classe tão baixa, é notável pelas roupas que uso, que estou numa classe social muito mais baixa do que a dela. E, além disso, ela quase me colocou em risco, se é que eles não irão a minha procura para me punir, mesmo eu não tendo feito nada.- Digo suspirando e meio irritado.

Eu e Miguel a essa altura já tínhamos estudado algumas matérias de Biologia, uma disciplina que eu até gosto, nos meus 9 anos sempre dizia que seria médico e cuidaria dos machucados das pessoas. Agora estou sentado na cama de Miguel de frente para ele que está sentado em sua cadeira giratória da escrivaninha onde está colocado o seu computador portátil.

— Akin... Vamos não digas isto, a minha família é da nobreza, mas sabes que te adoramos e sei que são poucos, mas tem boas pessoas da nobreza e se ela se dirigiu a ti, pode ser que viu o que eu vejo em ti, o que Lucy e meus pais e Jacir, vemos em ti, sabes que eu te amo como um irmão, não se vê nenhum mal em ti, tens um rosto que transmite leveza e paz, apesar de passares por dificuldades e teres sofrido imenso na vida, e, além disso, és bonito, acho bom que ela tenha te notado.- Ele diz a última parte fazendo graça e me fazendo rir, enquanto ele também começa a rir e se senta na cama ao meu lado tocando em meu ombro de forma amigável.

— Está bem, com as tuas lindas palavras não consigo mais ficar chateado -sorrio.

— Mas ainda tem algo que não percebi muito bem, tu notaste que ela estava vestida como alguém da nobreza, mas ainda assim, continuaste a falar normalmente com ela, digo devias estar muito distraído para teres andado com ela pelo jardim e- Reviro os olhos quando ouço Miguel dizendo isso e ele já começa a olhar-me com um sorriso insinuador e um olhar desconfiado.

— Já sei o que tentas insinuar, sim, eu fiquei encantado demais com a beleza dela. — Digo baixando a cabeça e tapando meu rosto com as duas mãos.

— AHHHHH eu sabia! Ela é mesmo muito bonita, eu a vi algumas vezes nas cerimónias realizadas no castelo real quando eu ia com meus pais, eu teria um crush por ela, se o meu coração já não estivesse ocupado...-Coloca a mão direita em seu peito, suspirando apaixonado e eu pego uma das almofadas de sua cama e atiro em sua cara.

Miguel fica desconcertado e logo em seguida pega outra almofada para tentar me acertar e eu me esquivo, começando a rir.

— Diz-me Miguel, o corajoso, quando é que vais te declarar para a tua donzela? Ahm?—provoco rindo. E ele continua a me perseguir para me bater com a almofada.

Até que em fim se atira sentado no puf porque estava cansado e continuamos a gargalhar pelas corridas no quarto e por ele não ter conseguido me acertar com nenhuma das almofadas que estavam no tapete, caídas.

Ouvimos alguém bater na porta e Miguel se levanta para abrir, ouço a voz da Senhora Anahi da porta dizendo alguma coisa e cumprimentando o Miguel e em seguida eu me levanto para ir cumprimentá-la e lembro-me de falar com ela sobre minha mãe.

Vou em direcção da porta e mal pronuncio um "Boa tarde", sinto um pequenino vindo se agarrar em minha cintura, pego Jacir em meu colo e dou-lhe um beijo na bochecha. Jacir tem a mesma idade que meus irmãos mais novos.

— Tudo bem pequenino?- Jacir responde um sim animado se agarrando em meu pescoço.

— Pode me ajudar a montar o puzzle que mamã comprou para mim?-pergunta com os olhos esperançosos.

— Posso, sim, Jay!- Confirmo e o deixo de novo no chão e vejo Senhora Anahi bem vestida e linda como sempre, está vestida com uma saia solta bege um pouco abaixo dos  joelhos e uma blusa justa floral e sandálias brancas de cano médio, tinha um fio de ouro que sempre usava, e brincos igualmente de ouro, anéis nas mãos e pulseiras coloridas no pulso com o relógio.

— Jacir deixe Akin respirar um pouco.—diz em tom leve de repreensão, abaixada na altura do pequeno.

— Está bem Mamã.—responde o pequenino.

— Vá trocar de roupa para comer, anda!- diz Sra. Anahi dando um tapinha em suas costas e fazendo cócegas em sua barriga, sorrindo e Jacir sai do quarto de Miguel, passa pelo corredor e vai para o seu quarto.

— Olá Akin!- cumprimenta Sra. Anahi, me dando um beijo na bochecha e me abraçando carinhosamente como sempre.—Espero que Miguel esteja te tratando bem.—diz olhando desconfiada para Miguel e ele revira os olhos rindo.

— Está, sim, Senhora Anahi.- Dou um sorriso tímido.

— Eu sempreee trato bem o Akin Mãe.- diz ele indo mexer em alguma coisa no seu computador.

— Humm, acho bom!—Diz ela—E como está Aminata? E sua irmã e seus irmãos?—pergunta querendo saber genuinamente. Sra. Anahi tem sempre um ponto vermelho na testa(Bindi) e cabelo curto até mais ou menos a altura do pescoço, seu cabelo é preto e brilhante como o de Miguel.

— Estão bem, graças a Deus. — Digo e pensando em pedir ajuda para minha mãe, apesar de já conhecê-la há alguns anos, ainda me sinto meio envergonhado em pedir ajuda, até mesmo com Miguel, às vezes tenho vergonha de estar a abusar da boa vontade deles de ajudar a mim e minha família, mas também não é como se eu tivesse muita escolha, são as únicas pessoas que conseguem ou podem ajudar-me em diversas situações da minha vida.

— Se precisarem de alguma coisa, contem sempre comigo! A Lucy deixou algumas marmitas de comida dentro do saco para levares à casa. — Diz ela sorrindo gentil e eu sorrio de volta meio constrangido com a mesma bondade que Miguel tem.

— Senhora Anahi, na verdade, gostaria de pedir-lhe ajuda... Minha mãe foi demitida, gostaria de saber se a Senhora pode ajudar minha mãe com alguma coisa, o que seja, ela só precisa de algum emprego!- Digo um pouco tímido.

— Oh Querido, eu sei, não se preocupe, eu tenho o emprego perfeito e, na verdade, quero mesmo falar com Aminata! E contigo também, gostaria de vos propor uma coisa...

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