Capítulo 14

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Tento puxá-lo, mas não consigo, é como se as suas mãos estivessem escorregadias, minha mão se solta de Akin e eu tento correr em sua direcção, mas nunca o alcanço, o meu medo e desespero tornam-se evidentes quando o perco de vista nesta floresta, corro para procura-lo, mas não o encontro, ouço sua voz clamando por minha ajuda e começo a gritar o seu nome, mas nunca o alcanço, sua voz continua a chamar o meu nome, mas já não o vejo.

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Acordo perturbado com o sonho que eu tive. Que sonho era aquele?
Lembro-me nitidamente da floresta aonde eu corria atrás de Akin, ficava perto do bairro aonde ele morava, mas era perigoso andar por aí sozinho. Noto que minha camisa está húmida e minha respiração acelerada, transpiro pelo corpo todo, levanto-me da cama e vou ao quarto de banho fazer a minha higiene matinal.

Após ter arrumado a cama, lembro-me que por estar preocupado com o sonho tinha me esquecido de fazer a oração, quando me ajoelho para orar sinto uma pontada no peito, como se houvesse algo de errado, como um mau pressentimento.

— Senhor Deus, obrigado por mais um dia de vida, por mais um dia em que o senhor me ajudou a levantar da cama e protegeu a mim e a minha família. Peço perdão por meus pecados, por minhas acções incorrectas e por qualquer mau sentimento que eu possa ter tido no meu coração. Seja o senhor a proteger os meus amigos, minha família e a mim, ajude-nos nesta nova fase da vida académica e por favor traga paz à minha alma e fale comigo, dê-me sinais de todos os tipos para que eu sempre perceba aquilo que o senhor quer me dizer. — Finalizo a oração, mas a minha preocupação continua presente.

Amanhã será o dia em que todos nós que entramos na Universidade de Cantilhena partiremos, mas por algum motivo sinto que devo me certificar se Akin está bem.

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Coloco uma roupa simples, uma camisa preta e um calção azul-escuro até aos joelhos, calço um par de ténis pretos e pego a minha mochila vermelha com alguns livros infantis que eram meus, vou levá-los para Zénny, Pedro e David, acredito que irão gostar, amarro o meu cabelo num coque e uma mecha se solta ficando perto do meu rosto e eu a afasto atrás da orelha.

— Mãe, até logo! — Despeço minha mãe com um beijo na testa e vou logo saindo.

— Até logo! Filho.

Fecho a porta principal da casa e vou à garagem pegar minha bicicleta. Enquanto pedalo em direcção à saída do bairro, fico a pensar no sonho que eu tive.
Deus me diga o que significa aquele sonho, sussurro para mim mesmo e espero que não signifique algum perigo. Lembro-me que durante a minha infância eu tinha sonhos assim e depois algo acontecia, mas os sonhos reduziram e nem todos eram como esse que eu tive. Lembro-me que uma vez quando eu tinha 12 anos, eu ouvia uma voz no sonho que me dizia para fazer coisas, como falar com alguém ou fazer algo por alguém, nunca consigo me lembrar da voz, mas parecia ser linda e me transmitia paz, eu nunca contei aos meus pais e nem à ninguém sobre isso, mas uma vez essa mesma voz cuja recordação tenho apenas da alegria e energia boa que me transmitia, me disse que eu conheceria Akin.

Paro e me encosto em uma árvore que fica no passeio onde haviam alguns bancos para se sentar e bebo água.

Um dos motivos pelos quais, gosto tanto de Akin e simpatizei com ele logo de cara, foi porque eu já sabia que iria conhecê-lo, eu sonhei com ele mesmo antes de encontrá-lo, no sonho eu via sua estatura física, mas como uma sombra, no tempo em que o conheci eu não era muito bom para fazer amizades, eu sofria "bullying" dos meus colegas e dos meus professores sem que meus pais soubessem, e eu orava para que Deus me ajudasse e me enviasse um amigo, que me entendesse e brincaria comigo, que compartilhasse dos mesmos gostos musicais que eu e que gostássemos das mesmas coisas, eu orava muito para Deus e ainda o faço, mas eu não conseguia interagir com mais pessoas que não fossem as de minha família, então em meios sociais em que não havia rostos familiares para mim, eu tinha ataques de ansiedade.

"Bairro Rirróis", observo a placa azul com letras brancas. Desço da minha bicicleta e começo a entrar no bairro guiando a bicicleta ao meu lado, a rua estava calma, com algumas pessoas na porta de suas casas a conversar, algumas me lançam olhares desconfiados e outras olhares de desprezo. Olho para as crianças que correm a minha frente e aceno para elas com um sorriso que me retribuem alegres. As pessoas do bairro já sabem que sou amigo de Akin, mas muitas delas não gostam de mim, desde sempre, mas não as julgo, as pessoas de nobreza não são as mais agradáveis. Aceno para avó Belita que está sentada em sua cadeira na porta de sua casa de madeira sempre a fazer peças de croché e ela sorri gentilmente para mim, como sempre.

Bato na porta e espero. Encosto minha bicicleta na parede da casa de Akin. Zénny abre a porta para mim e recebo um abraço muito fofo.

— Olá, princesa, tudo bem? — pergunto gentilmente me abaixando para receber o seu abraço.

— Tudo bem e com você? — Pergunta e me puxa para entrar, fechando a porta a minha atrás.

— Estou bem, onde está toda a gente? — pergunto olhando para a sala e vendo que os gémeos não estavam ali presentes para me encher de abraços e perguntas.

— Eles estão na cozinha a ajudar a mãe a preparar o bolo de chocolate! Vem. — Pouso minha mochila na cadeira e vou com ela para a cozinha, logo vendo o turbilhão de Pedro tentando convencer Tia Aminata a deixá-lo provar a massa do bolo.

— Calma Pedro, eu já disse para esperar! Deixa eu colocar o bolo no forno, o forno é novo não me faça quebrá-lo antes do tempo, deixa eu ver como isso funciona...—Tia Aminata observa o manual de instruções.

— Olá! Deixe-me ajudar! — Vou em sua direcção sorrindo e ela sorri para mim alegre, Pedro e David chamam meu nome e ficam perto de mim.

— Olhe, temos que deixar o forno aquecer por cerca de 30 minutos à... 180.º—Depois podemos colocá-lo no forno.

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— Akin não tem o costume de chegar à estas horas em casa, daqui há pouco já começa a escurecer, não é possível! — Se preocupa Tia Aminata.

Depois de termos comido o bolo de cenoura com cobertura de chocolate preparado por tia Aminata, ela me disse que Akin fora à cidade, tratar de sua documentação necessária para a Universidade, e geralmente esses processos tendem a ser demorados principalmente quando é para uma pessoa de classe mais baixa, embora a família de Akin tem tido mais estabilidade financeira, ainda podem ser alvo de algumas dificuldades, tais como essa. Ele estava fora de casa já quase o dia todo, e isso era preocupante porque Tia Aminata disse que ele saíra cedo para tratar exclusivamente de sua documentação, não tendo dito que iria a nenhum outro lugar, já liguei diversas vezes para ele e deixei mensagens, mas ele não atende as ligações e nem respondeu às mensagens.

Meu coração está apertado e a minha preocupação só aumenta, Zénny olha para sua mãe e para mim que estamos sentados à mesa, enquanto ela brinca com Pedro e David.

Onde é que Akin poderá ter ido?

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