Capítulo 15

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Desperto com uma forte dor de cabeça. Sinto um cheiro forte de álcool que não é nada familiar, abro os olhos e a minha visão está meio turva. Volto a abrir os olhos e observo onde estou, parece ser uma cave, tento me mover e minhas mãos doem, meus pés e minhas mãos estão amarradas, olho melhor a minha volta e dou-me conta que perdi a consciência, olho por uma janela que tem na cave e vejo que já está escuro, por quanto tempo estou aqui? Minha família deve estar preocupada, o medo começa a surgir dentro de mim.

Minhas coisas estavam no outro lado da cave, atiradas no chão, perto de uma cadeira.

— Olha só quem decidiu acordar...—Ouço a voz de Alberto, fecho os olhos e suspiro irritado, olho para ele furiosamente, tenho dificuldades em realizar o que Alberto fez, agora as coisas começam a fazer sentido, ele e os seus amigos do bairro, me controlavam desde o momento que saí de casa, eu fui muito ingénuo em não tomar mais cuidado, eu sentia que algo ia correr mal, mas decidi ignorar.

— Calma, eu só quero conversar... Para chegarmos a um acordo, afinal me deves isto não é? Por não ter te cobrado nada nestes anos...—Alberto anda para mais perto de mim e fica de frente para mim. — Achas mesmo que te vou deixar partir para Cantilhena só assim? Sem nada em troca?

— Eu quero tudo o que é teu, ficaste nas sombras da família rica do teu amigo e nem partilhaste com as pessoas da tua comunidade? Que egoísmo! — Alberto sorri e nega com a cabeça.

— Partilhar o que eu não tenho? Deixa de ser idiota Alberto, se não conseguiste mudar de vida e continuas a te meter em problemas, a culpa é toda tua! — Digo sem levantar a voz, mas com um tom de voz severo e irritado.

Alberto dá-me um soco na cara e ouço alguém a gritar o seu nome, pela voz devia ser a mãe dele, Dona Alice.

— Acho bom que comeces a pensar bem na forma como falas comigo miserável, não penses que hesitarei em tirar a tua vida, claro, após conseguir o que eu quero.—Diz Alberto se retirando.

Tinha um monte de caixas empilhadas, objectos, brinquedos velhos e o lugar parece estar empoeirado, procuro algo afiada para ver se consigo cortar a fita preta com a qual ele amarrou minhas mãos e meus pés.

Me arrasto a tentar me aproximar de uma pequena mesa de madeira onde tinha placas de metal e vejo duas armas pousadas ali e imediatamente sinto medo, respiro fundo e tento pensar no que fazer. Ouço passos do andar de cima, não ouço vozes.

Minha pasta está atirada no chão e amanhã seria o dia em que eu partiria para a Universidade, baixo a cabeça e penso em Deus, mal posso acreditar na falta de sorte que tenho nesse momento. Ouço a porta se abrir e volto a me encostar na parede.

Alberto desce a escada e me lança um olhar sinistro enquanto está parado a minha frente.

— Vamos fazer o seguinte, é só tu me dares o que quero e ali veremos o que farei contigo. — Diz ele.

— Verás o que farás comigo? Deixa-me ir embora! Eu literalmente vivi na mesma situação económica que a tua, o que eu posso te dar? — Digo chateado.

— Deixa-te de mentiras. Sim, vivemos na mesma situação económica, até conheceres aquela família, sempre foste mais privilegiado do que as pessoas do nosso bairro, sempre com alguma ajuda deles. — Alberto diz e eu começo a sentir culpa, sempre me senti assim, eu sei que os pais de Miguel são boas pessoas e eu não podia impedi-los de nos ajudar, mas muitas vezes essa mesma ajuda deles, causava uma fúria das pessoas da nossa comunidade contra a minha família, eu sei que todos nós vivemos em situação bastante precária. Por isso, receber ajuda de fora, ainda mais de uma família considerada da nobreza, era como se tivéssemos um privilégio, mas isso não é assim, ainda assim passávamos pelas mesmas dificuldades, mas eles nunca queriam enxergar isso, mas agora muita coisa mudou, agora nossa situação económica de facto está melhor, minha mãe lutou muito para isso, quando trabalhava com o Senhor Tito, mas infelizmente a loja foi à falência.

Pensavam que nós nos fazíamos de vítimas ou que não sofríamos como eles.

— Deixe-os fora disto, não te atrevas a falar deles! — Digo nervoso.

— Ah! Essa gente rica nunca valeu nada! Sempre a viver as custas da pobreza do povo! Além disso, toda a gente sabe que agora a tua mãezinha trabalha com aquela senhora toda chique, já até têm comprado novas coisas para pôr em vossa casa, não é mesmo? Pensas que sou burro? — Pergunta ele e dá-me um soco que faz sangrar o canto da minha boca. O sentimento de culpa volta com mais intensidade, eu sei que se não conhecêssemos a Dona Anahi e se ela não tivesse dado esse privilégio à minha mãe, ela estaria desempregada e mesmo que encontrasse algum trabalho, ganharia mal.

— Eu sei que entraste na Universidade do castelo! Eu vi-te a tratar os teus documentos Akin. Vamos fazer o seguinte, eu só preciso de dinheiro e talvez eu te deixe ir embora.

— Dinheiro?

— Sim, 88.176 escudos, não seria nada mal.

— O quê? Onde é que pensas que tirarei toda essa quantia de dinheiro? — pergunto exasperado.

— Bem, tu talvez não, mas os pais do teu amigo Miguel sim.

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