Capítulo 7

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A Senhora Laura nos trouxe em uma igreja.

" Igreja evangélica" estava escrito em letras grandes em cima da porta grande e dupla. Eu não gostava muito de ir nas igrejas, eles rejeitavam minha mãe porque ela não conseguia dar ofertas nos domingos, eu e Zénny fomos baptizados quando meu pai estava em vida.... Meu pai lia a bíblia em voz alta e cantava louvores, eu gostava de ouvir sua voz a cantar e de cantar com ele.

Depois que ele morreu, as coisas complicaram e minha mãe orava muito, ajoelhada até de madrugada e chorava, mas parecia ser inútil porque Deus não a ouvia.

Enquanto minha mãe com meus irmãos no colo segue a Senhora Laura que está segurando a mão esquerda de Zénny, eu fico um pouco atrás.

Mãe? Chamo minha mãe um pouco receoso.

Filho, venha! Não tenha medo, ela é uma boa mulher. Minha mãe vem até mim e me tranquiliza e a Senhora Laura olha para trás e sorri para mim.

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— Veja bem, Lucas pense no amor como uma acção. Por que é que todos os domingos, quando encontras Sara a cumprimentas com um abraço? Poderias simplesmente olhá-la e passar por ela, sem nem mesmo dizer um "bom-dia", mas em vez disso decides parar e dar-lhe um abraço, certo? — pergunto para Lucas, um menino de 10 anos que adora fazer-me perguntas sobre cada versículo bíblico que lê.

— Mas, eu não passaria pela Sara sem cumprimentá-la porque eu a conheço e ela é minha amiga e mamãe me ensinou que seria uma falta de educação não cumprimentar as pessoas. — Responde Lucas determinado e vejo Sara sorrindo para ele e em seguida levantando seu braço, como as crianças sempre fazem quando querem falar algo.

Apesar de eu ser jovem demais para ser professor nos meus 18 anos, a pastora julgou que fosse uma boa ideia eu ensinar na escola dominical.

— Pode falar Sara. — Digo incentivando-a com um gesto.

— Eu concordo com Lucas e também acredito que ficaria chateada se ele não me cumprimentasse. — Responde Sara.

— Muito bem! Sara e Lucas. Vocês desenvolveram aqui uma boa reflexão, cumprimentamos as pessoas conhecidas porque temos carinho por elas, então me digam, o que isso tem a ver com o amor? — pergunto e vejo seus pequenos rostos pensativos.

— Lucas cumprimenta Sara porque gosta dela e, porque não gostaria de magoá-la não a cumprimentando, quando gostamos de alguém, nos preocupamos com os sentimentos da pessoa, e isso não seria amor? — Pergunta Sabrina e eu aceno positivamente com a cabeça:

— Sim, a preocupação com o sentimento de outrem também é uma forma de amor, muito bem Sabrina.

— Jesus, no livro de Mateus, diz que devemos amar ao próximo como a nós mesmos. Esse amar pode significar respeitar aos outros como gostaríamos de ser respeitados, tratar aos outros como gostaríamos de ser tratados, tratar com educação, acolher quem é rejeitado, não  sermos preconceituosos com quem parece diferente de nós, como Lucas e Sara preocupam-se com os sentimentos um do outro, assim devemos nos preocupar com os sentimentos daqueles que amamos. — Explico finalmente, com as crianças me escutando de forma atenciosa.

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— Até a próxima Lucas! — me despeço com um abraço.

— Então Bruna, o que vai ser hoje, um abraço ou um aperto de mão? — pergunto, como sempre faço quando me despeço das crianças da escola dominical.

— Um abraço! — Responde Bruna como sempre muito amorosa. Dou-lhe um abraço e quando a solto ela ainda me despede com um aceno de mão.

Mantendo um sorriso em meus lábios, após ter me despedido das animadas crianças, arrumo minhas coisas, que se encontram sobre a mesa da sala de aulas da igreja.

Pego minha pasta, a mesma pasta castanha que anda sempre comigo e saio da sala. Ando pelo corredor da igreja e vou em direcção à porta da sala aonde acontece o culto de Domingo, vejo que o culto terminou e as pessoas saem, se despedindo da Pastora Laura.

Vou até à saída para esperar minha mãe e vejo Zénny com Pedro e David no pátio aonde as pessoas da igreja ficavam a conversar no final do culto. Eles também iam à escola dominical, mas era em outra turma com a Senhora Antónia.

Avisto minha mãe a sair da porta principal da igreja, ela nos vê e acena e a pastora Laura olhando em nossa direcção também acena sorrindo para nós que retribuímos o gesto.

— Vamos? — pergunta minha mãe quando chega perto de nós. Assentimos e logo nos portões da saída vemos o carro familiar no qual Miguel está encostado nos esperando com um  sorriso.

Já faz algumas semanas que minha mãe aceitou trabalhar com a Senhora Anahi. As lojas da Sra. Anahi são muito conhecidas pelo país.

Os clientes adoraram a parte de peças e objectos de artesanatos feitos por minha mãe e minha mãe também trabalhava no atendimento da loja.

— Bom dia, família! — cumprimenta Miguel sorridente já se abaixando para cumprimentar David e Pedro que correm em sua direcção, após abraçá-los, Miguel dá um "high-five" em Zénny e em seguida um abraço e cumprimenta minha mãe e eu com um abraço.

Entramos todos no carro. Cumprimentamos Caíque que se encontra no volante e dá partida no carro.

Estávamos bem vestidos principalmente com as novas roupas que temos, com o dinheiro que minha mãe ganha agora, conseguimos comprar roupas novas. Hoje vamos para a festa de aniversário do Senhor Kauê, pai de Miguel. Apesar de gostar muito da família de Miguel, ainda me sentia meio sem jeito de estar com as pessoas de seus círculos sociais, então prefiro ficar um pouco quieto.

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"High-five": Seu significado varia de acordo com o contexto de uso, mas pode incluir uma saudação, parabéns ou celebração.

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