Capítulo 39

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Uma das sensações mais tristes que alguém pode sentir, com certeza é a solidão. Pensar que estás só neste mundo imenso, sem ter com quem contar, sem ter uma casa para ir, sem ter pessoas com quem possas sentir-te bem. Imagino que muita gente se sente assim. Felizmente cresci com muito apoio emocional, meus pais instauraram a fé cristã como base da nossa família, mas também o amor e a comunhão. Souberam me ensinar a humildade de pedir ajuda, de respeitar as pessoas, me ensinaram o carinho de notar quando alguém precisa de um abraço e o cuidado de perguntar se a pessoa quer receber esse gesto de nossa parte.


Meu pai sabia ler minhas expressões faciais, mesmo que eu dissesse que tudo estava bem, só para não parecer fraco ou chorão. O facto dele me abraçar mesmo sem eu pedir me fazia bem, porque era o que eu precisava, mas tinha vergonha de pedir. Ao longo dos anos, aprendi também a sentir quando minha mãe precisava de um abraço, quando meus irmãos chorassem ao se magoar quando brincavam, eu os abraçava. Posso dizer que o toque físico foi uma das linguagens de amor que aprendi com os meus pais.


Eu acabava de me arrumar para sair nesse dia com o clima agradável, um sol brilhante e um vento refrescante. São 7h da manhã, Miguel organizou tudo para conhecermos vários pontos turísticos da cidade de Cantilhena. Por isso temos que estar prontos tão cedo, a cidade é grande e tem muita coisa para se conhecer, e do jeito que meu amigo é entusiasmado e curioso, claro que não podia deixar de programar várias coisas para um só dia. Suspiro com um sorriso no rosto. Tenho saudades dele, mesmo ele estando tão perto de mim, dediquei todo o meu tempo e atenção à Rafael nos últimos tempos, e sei que ele precisava, agora que o vejo a melhorar vou tentar dividir a atenção com meus outros amigos. Cultivar boas amizades, com pessoas que se preocupam connosco e nos querem bem, é a melhor coisa.

Mensagens on:

Miguel: Mano, já estás pronto? Estou muito entusiasmado para os passeios de hoje!!😁😁 tenho a certeza que nos divertiremos muito! Ah, não te esqueças do protetor solar! A cidade tem um vento fresco mas é sempre bom usar!😊

Eu: sim, já estou pronto Miguel, e não me esquecerei do protetor solar, obrigado por me lembrar 😄

Miguel: De nada, só mais uma coisa, sabes do Rafael? Ele disse que ia pensar se ia ou não. Ainda não obtive uma resposta da parte dele, podes te certificar de que ele está bem? E se ele vai connosco?

Eu: sim. Farei isto, não te preocupes, eu vou ter com ele daqui há pouco.

Mensagens off.

Rafael tem mostrado sinais de melhoria. Ainda não tem convivido sempre connosco mas já o vejo menos taciturno. Não comentou nada sobre a saída que realizaremos em grupo e continua apenas se comunicando mais comigo, embora já responda às mensagens dos demais e já está voltando ao "normal" aos poucos.

Mensagens on:

Rafael: Akin? Estás aí?

Eu: sim, bom dia Rafael tudo bem? Eu ia mesmo ir ter contigo, Miguel quer saber se hás de ir connosco....

Rafael: Bom dia. Eu estou bem, acho eu... Eu não tenho muita certeza se já estou preparado para enfrentar os outros... Posso falar contigo? Preciso conversar contigo e preciso da tua ajuda. Embora esteja indeciso com a saída, me preparei para ir, caso eu tenha alguma coragem...

Eu: Claro que podes vir falar comigo, fico aqui à tua espera, eu e o pessoal, vamos sair daqui às 8:00h. Ainda tenho algum tempo, e talvez eu consiga convencer-te- a vir connosco.😇

Rafael: Está bem.😇

Hoje vesti um calção casual de cor verde ( cargo shorts) e uma camisa preta. Ouço toques leves na porta do meu quarto e me levanto para abri-la.

— Entra Rafael! —Digo de maneira simpática.

— Tudo bem contigo Akin? Desculpa não ter perguntado quando mandei mensagem e já agora também quero me desculpar por fazer com que tenhas te afastado dos outros por minha causa.— Diz Rafael sentado na cadeira que tem no meu quarto.

— Eu estou bem Rafael. Não te sintas culpado por isso e nem peças desculpas! Eu me preocupei contigo, e estava a ajudar um amigo. E como eu já disse antes, eles sentem a tua falta, eu sei que ainda te sentes inseguro para voltar a estar no meio deles, mas eu estarei lá ao teu lado, não sintas medo, nem receio, nem ansiedade, todos gostamos muito de ti, e só te queremos bem. —Digo calmamente.

Ele tem o olhar para baixo e parece pensar em alguma coisa durante um tempo e em seguida olha para mim.

— Eu quero ir... Tens razão, eu não posso estar a evitar os meus amigos, e já me sinto mal por ter passado todo esse tempo ignorando-os, sei que os magoei...— Ele diz com um semblante triste. Eu me levanto e toco em seu ombro fraternalmente.

— Eles perceberam que tu não estavas bem, e entenderam por bem dar-te certo espaço quando não conseguiram se aproximar para ajudar, mas eles sentiram-se mais aliviados de saber que eu estive por perto, claramente ficaram magoados e preocupou-os muito a tua ausência, mas eles estão muito felizes de estares a melhorar, e também já voltaste a te abrir um pouco não é? Estás a ir muito bem! — Digo gentilmente.

Vejo a hora no relógio e já são 7:40h.

Então, vamos nos arrumar? —Pergunto para ele, Rafael se levanta e faz um aceno positivo com a cabeça. Me viro para retirar o meu telemóvel da tomada e Rafael me chama.

Akin? —Olho para ele. — Muito obrigado. —Diz ele com um sorriso e parece um pouco emocionado.

Me dirijo até ele com um sorriso gentil e toco em seu ombro e ele me abraça fortemente.





Ester recebe Rafael com sua alegria e bom humor característico.

-Rafa!!!! Que bom te ver amigo.— Dá-lhe um abraço aberto e apertado.

Miguel mostra um sorisso para mim e me dá tapas no ombro, em seguida dirige-se até ao Rafael e abraça-o com carinho, todos os outros fazem o mesmo.

Zuri vem em minha direção e estende sua mão para mim me cumprimentando.

— Como estás Akin? — Pergunta ela com gentileza e eu aperto sua mão.

— Estou bem Zuri e tu? — Pergunto de forma educada depois de soltar sua mão.

— Muito bem! E animada para o dia de hoje. —Ela sorri simpática e eu retribuo o sorisso.

Ela tem um sorriso encantador.

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