Capítulo 31

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Já é quinta-feira e estou na casa do Henrique mais uma vez. Mas desta vez eu não vi o seu pai — possivelmente ele tenha saído para trabalhar ou talvez esteja em casa descansado. Quem atendeu a porta foi uma mulher que parecia ter por volta de uns cinquenta anos e um pouco mais baixa que eu, usando um uniforme cinza e uma touca branca. Ela havia me informado que o Henrique estava no quarto e que eu poderia subir até lá, pois ele já estava me esperando.

Por sorte eu já sabia o caminho e rapidamente cheguei até a porta do seu quarto. Mas antes que eu pudesse avisar a ele que de fato estou em frente a porta do seu quarto, eu pensei um pouco.

Eu ainda sinto um certo receio em estar em sua casa. Não sei ao certo explicar o que sinto, mas é como se a qualquer momento fosse acontecer algo. Será que hoje irá acontecer o mesmo que aconteceu ontem e ele vai me expulsar da sua casa?

Ontem quando eu cheguei em casa, eu fiquei pensando um pouco sobre o que ele queria me dizer. Será que era algo muito importante? Mas talvez vindo dele, eu acho que seria somente alguma besteira. Ainda assim, muitas coisas vêm à minha mente acerca disso, mas eu prefiro deixar de lado — talvez, mas será um trabalho em vão e eu tornarei a pensar sobre isso.

— Henrique? — Disse em um tom um pouco baixo — Eu cheguei!

— A porta está aberta, pode entrar — Ele respondeu, com sua voz rouca e um tanto arrastada — Por que demorou tanto para avisar que estava aí? Estava perambulando pela minha casa como um curioso?

Eu ignorei o que ele havia perguntado e então abri a porta e fui entrando. Vi ele sentado na cama com as pernas cruzadas e as suas costas apoiadas na parede. Ao seu lado há um notebook em cima da cama.

— Eu estava pesquisando alguns artigos, para que passássemos a dar início ao nosso trabalho — Ele disse, me olhando logo que eu entrei no quarto e fechei a porta — Eu queria terminar essa porcaria o mais rápido possível, mas pelo que eu vejo, vai demorar muito — Bufou.

— Você? Pesquisando artigos? É realmente você? — O encarei, ainda em dúvidas — Eu...

— O que foi? Eu posso ser um tremendo imbecil, mas eu sou inteligente! — Se defendeu — Você não me conhece.

— Pelo que eu conheci de você, eu vi que é um tremendo imbecil — Falei.

— Eu posso até ser...

— Ainda não sei quem é você ou o que fizeram com você...

— Ah, chega de bobagens!

— Calma...

— Você fica falando besteiras.

— Estou dizendo a verdade.

— Então por que não acredita que eu posso ser inteligente? — Ergueu as sobrancelhas.

— Não é pelo fato de eu não acreditar nisso, mas sim por suas atitudes — Falei.

— Hum... — Henrique apenas resmungou.

Isso me pegou completamente de surpresa..., aquele é realmente o mesmo Henrique? Como isso é possível? Eu me custo totalmente a acreditar que é realmente ele. Mas de qualquer forma, ele agindo assim será melhor para mim, afinal de contas, eu não quero ter que fazer isso tudo sozinho.

Antes que ele pudesse falar alguma coisa ou talvez até me mandar sentar na cadeira da escrivaninha, eu me adiantei e fui andando até lá. Tirei a mochila das minhas costas e pus no chão e logo me sentei na cadeira e girei.

— Que bom que já se sentou, eu já estava agoniado com você em pé no meio do quarto igual um bocó — O ouvi dizer.

Eu tentei retrucar, mas pensei um pouco e apenas perguntei:

— Então, os artigos são bons? — Me ajeitei um pouco na cadeira e girei, olhando para ele. Vi que agora ele está com o notebook no colo, concentrado na tela — ele realmente fica muito bonito quando está assim. Ele está usando o mesmo pijama de ontem, ao menos a calça é a mesma, mas a camisa é diferente, mas elas cobrem completamente os seus braços, assim como a outra.

Em mim me passa uma certa estranheza ao achá-lo tão bonito enquanto está concentrando, olhando para a tela do notebook, fazendo as pesquisas. Por que ele tem que ser tão 'idiotamente' bonito? Eu estou quase começando a me detestar por achá-lo tão bonito. Não devo pensar essas besteiras, ele é apenas um idiota qualquer.

Pensar no fato de o Henrique estar tão bonito enquanto se concentra é disperso apenas pelo pensamento de repreensão de que deveria ter vindo com uma roupa um pouco mais aconchegante, mas saí de casa tão apressado que eu não me lembrei que na sua casa tem ar condicionado. Talvez eu tenha ficado um pouco ansioso demais, novamente.

De uma certa maneira que eu não sei ao certo explicar, eu fiquei bem nervoso em vir novamente para cá. Algo que também me chamou um pouco a atenção foi o fato de que hoje de manhã, ele me mandou uma mensagem, para confirmar se eu poderia realmente vir à sua casa, mas ele não me xingou e nem fez piadinhas apenas perguntou qual o horário em que eu poderia vir e novamente vim para a sua casa à tarde.

Bom, eu acho que eu não deveria estranhar isso e sim comemorar. Eu deveria estar comemorando com toda a alegria do mundo o fato de ele não ter me xingado e nem feito piadinhas ao meu respeito.

— Eu achei alguns, mas eu demorei bastante para poder achar — Ele respondeu, ainda concentrado na tela do seu notebook — Eu estou achando que esse tema será difícil demais... — Ele me olhou bem pensativo e bocejou — Estou ficando cansado e entediado de fazer pesquisas.

Vi ele deixando o notebook de lado e se levantando, vindo até a minha direção e a única coisa em que eu pude pensar foi que ele iria me bater — mas por que ele iria me bater? Eu não fiz nada. Talvez ele iria me segurar pelos meus ombros e me chacoalhar como da última vez. Eu pude sentir o meu rosto ficar um pouco quente e as minhas mãos suarem. Esfreguei as mãos em meu calção e tentei disfarçar o nervosismo.

Eu estou ficando paranoico demais com essas coisas. Mas, com total razão eu me sinto assim. Às vezes eu sinto que sou uma galinha na toca da raposa.

Mas ele simplesmente veio onde eu estava e ligou o computador, vi ele se abaixando ao meu lado, bem perto de mim e pude sentir o cheiro de perfume — bem fraco, muito fraco, por sinal —, mas eu ainda posso sentir o meu corpo levemente nervoso e ansioso por conta do que eu imaginei que ele faria.

Eu preciso me controlar e parar de achar que ele vai me bater. Mas e se eu parar de pensar nisso e ele me bater?

— Pronto, agora você também poderá pesquisar e assim vamos agilizar tudo — Ele disse e rapidamente voltou para a cama, quase jogando-se sobre ela e pegando o notebook de volta.

Eu realmente preciso parar de pensar isso, mas ele é tão idiota que eu não consigo. 

Continua...

O Idiota do Meu Vizinho - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora