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Capítulo 27: Bons filhos não ouvem bons conselhos.

Seonghwa despertou em um ambiente silencioso. Por um instante, ele acreditou que estava morto e foi enviado para um plano além do humano e agora seria punido por todos os pecados cometidos em vida.

Mas, logo sua consciência retornou ao estado de normalidade e seu corpo inteiro protestou. Ele engasgou com um incômodo rarefeito e oxidável na garganta e começou a tossir ferrenhamente, inclinando a sua coluna para frente e dando-se conta, ao abrir os olhos de maneira abrupta, que haviam agulhas intravenosas penetrando a pele dos braços e uma máscara de oxigênio cobrindo seu nariz e boca.

Sua audição retornou num rompante estridente que ameaçou deixá-lo surdo. Usou as palmas para proteger as orelhas do som acufeno perturbador acompanhado por zunidos que prejudicavam o senso da captação do estímulo sonoro. Ele se encolheu sob o leito e lágrimas passaram a escorrer de seus olhos enquanto era açoitado pelo tinido que dava a impressão que haviam agulhas pontudas dentro de sua cabeça.

— Seonghwa! — uma pessoa o tirou da sua esfera de agonia quando o chacoalhou mais forte e desarmou as barreiras de proteção que foram criadas pelo medo. — Seonghwa, sou eu, Seoham... Seu irmão mais velho. Você me reconhece? O que você está sentindo agora?

O coração de Seonghwa afundou no peito. Ele puxou o oxigênio desesperadamente e sua garganta arranhou, seca. Como se lesse seus pensamentos, o seu irmão lhe entregou um copo com água e o ajudou a retirar a máscara de oxigênio, o auxiliando na tarefa de ingerir o líquido e refrescar o seu corpo que estava carbonizando como se estivesse com febre.

Seonghwa conseguiu se acalmar, embora lágrimas ainda se formassem na orla de seus olhos grandes e assustados. Ele encarou o seu irmão que ainda vestia as roupas formais do trabalho e foi retribuído prontamente. Então Seoham o acolheu em um abraço e Seonghwa passou a chorar e mais, sem entender o que estava errado, atarantado.

Suas memórias eram uma bagunça. Tudo o que ele conseguia lembrar era de um barulho alto e estrondoso, uma explosão de origem desconhecida e que lhe causava tremores, embora não estivesse mais envolvido no ambiente que foi acometido pelo rojão. Afastou-se de seu irmão para recuperar mais o fôlego, sentindo que ainda estava passando por um quadro de asfixia latente, respiração com um pouco de dificuldade e sentindo os pulmões queimando, as narinas machucadas e a garganta dolorida.

— Papai está voltando de uma viagem e logo ele vai estar aqui. A mamãe saiu um pouco para poder comer e levou a Hwajin junto — Seoham explicou sobre o olhar apavorado do outro, que não se deu conta os machucados que se estendiam pela pele dos braços, perna e abdômen. — Eu nunca vi nossa mãe chorar tanto. Estou feliz que você acordou.

Seoham era o filho mais velho da família Park, e até uma certa idade, Seonghwa conferiu toda a sua confiança e proteção a ele. Um dia, os dois decidiram que não se davam mais tão bem e simplesmente pararam de conversar intimamente, se limitando ao básico da convivência. Em um dia, Seoham era o seu porto-seguro e no outro, os dois eram desconhecidos que viviam na mesma casa. Não possuíam particularidades em comum ou interesses mútuos; logo iriam disputar a diretoria da empresa e se tornariam inimigos por isso. Logo Seonghwa era pessimista sobre a relação deles.

Se lembrava que, inicialmente, Seoham e Juyeon eram próximos como familiares de sangue e simpatizavam um com o outro. Quando o namoro de Juyeon e Seonghwa terminou, Seoham continuou conversando com Juyeon e até o ajudou a ingressar em inúmeras tentativas para reatar o relacionamento. Isso só mudou quando Juyeon começou a passar dos limites; Seoham o ameaçou e mandou ele desaparecer.

No fim, Seoham sempre colocaria sua família acima de qualquer coisa.

Estremecendo com a memória, Seonghwa abaixou a cabeça e limpou as lágrimas com a faixa que cobria suas duas mãos, atentando-se às escoriações e queimaduras. Ele não sentia dor porque estava medicado, mas o horror assombrou a sua feição desolada conforme descobria os ferimentos um por um.

GOOD BOY GONE BAD | WOOSANOnde histórias criam vida. Descubra agora