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Capítulo 42: Todos são mentirosos.

— A primeira audiência já tem data.

Aqueles dias... aqueles malditos dias estavam sendo o inferno mais quente o qual Seonghwa já esteve.

Ele estava cansado. Ele não suportava mais seus advogados, não suportava mais as visitas dramáticas de seus familiares. Às vezes, Seonghwa pensava que deveria se conformar que iria ser condenado, então, meio que sua cabeça trabalhava para encontrar algum ponto positivo em estar preso. Mas nem sempre isso acontecia. Ele entrava em crise; ele preferia morrer ao passar anos de sua vida dentro de uma cela apenas por ter se defendido e priorizado o seu instinto de sobrevivência.

— Vou ser julgado pelo o quê?

Estava no único local que possuía acesso além de sua cela: a ala de visitas, onde encarava a outra pessoa atrás de um vidro — como se estivesse dentro de uma cabine — e se comunicava por telefone.

— Homicídio privilegiado — a advogada manteve uma postura, ela não demonstrava se estava satisfeita ou não com o rumo do processo. — Mas estamos reunindo provas para contestar. Seus irmãos, seus pais, seus amigos... todos estão colaborando ativamente. Temos uma lista de testemunhas que irão endossar o seu depoimento. Nós estamos trabalhando ferrenhamente, senhor Park.

— E a outra parte?

— Oh, eles... — a doutora Bae desviou o olhar, movendo-o para a sua pasta. — Eles estão assiduamente convictos de que você é culpado e com dolo.

O que queria dizer que a promotoria iria dar tudo de si, esgotar todos os elementos da acusação, visando a condenação do réu. Era o de praxe, mas naquele caso especificamente era pior pelo seguinte pressuposto que, a família de Juyeon jamais descansará até conseguir enjaular Seonghwa para sempre a fim de puni-lo pela morte do ente querido.

— O que eu faço? — Seonghwa se amaldiçoou por ainda guardar um resquício de esperança. — Você acha que vai demorar para a sentença sair, doutora?

— Eu vou te orientar sobre o que fazer, mas sinceramente... você só se defendeu segundo a sua versão, você deve sustentar o seu depoimento inicial até o fim. Nós vamos alinhar essa parte para que você fique tranquilo — ela sorriu na intenção de encorajar, mas a expressão apagada de Seonghwa prevaleceu. A prisão estava tirando o que de melhor ele tinha. — Esses julgamentos costumam ser bem longos... tem muita prova para analisar, muita gente pra ouvir e o juízo precisa ser extremamente cauteloso para que nada passe, para garantir que será um processo justo.

— Eu não queria ter matado ele — proferiu cabisbaixo. — Eu queria que ele morresse, mas não queria ter matado.

— Não é incomum as vítimas se tornarem réus, senhor Park. Você se defendeu, por favor, não sinta culpa por isso.

Era um sentimento tão ambíguo, tão persistente. A reclusão de Seonghwa fazia com que ele estivesse mais exposto a ser devorado por suas paranoias, por seus devaneios mais nocivos. Se questionou inúmeras vezes se, se pudesse voltar no passado, teria feito diferente. No entanto, se fizesse diferente, ele estaria vivo? Valia de algo estar vivo agora?

— Mesmo que eu seja absolvido, ainda assim estou condenado. Eu nunca mais vou ter uma vida normal. Meu caso se tornou público, todos sabem que eu sou um assassino.

— Em todas as sociedades existe essa espécie de retaliação, independente da culpabilidade do réu. Mas você pode ir para outro lugar se quiser, pode se preservar — ela aconselhou. — A empresa da sua família está passando por um processo de falência e recuperação judicial, mas ainda assim, mesmo que a empresa esteja falida, por se tratar de uma "pessoa jurídica" à parte dos fundadores, não quer dizer que vocês como pessoas físicas estejam falindo também e não tenham patrimônio particular e dinheiro. Seu avô disse que, caso você seja absolvido, vai colaborar para que você vá para o exterior.

GOOD BOY GONE BAD | WOOSANOnde histórias criam vida. Descubra agora