Prólogo

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As cortinas de seda esvoaçavam, graças ao terrível tempo. O quarto estava tomado por gritos, a quentura tão ardente quanto as chamas das velas queimando a cera. Aias transitavam de maneira frenética dentro do cômodo, com bacias de água morna e lençóis brancos. A cada grito sofrido de Clarisse, as rajadas de vento batiam fortemente contra o fino tecido posto sobre a cama.

O meistre auxiliava a mulher de fios dourados e olhos violetas. Clarisse estava em trabalho de parto a noite inteira, e seu bebê ainda não havia nascido. As aias da princesa demonstravam sua preocupação e nervosismo perante a situação dolorosa em que se encontrava a Dayne. As contrações iniciaram pouco tempo depois de Qoren e Clarisse se retirarem para descansar.

Qoren esteve ao lado de Clarisse durante o início das contrações. Entretanto, sua esposa lhe pediu um favor, e o príncipe o acatou de imediato.

Em anos, sem dúvidas, esta foi a pior tempestade de areia que Lançassolar já enfrentou. As ruas da cidade estavam todas vazias, a plebe se protegia como podia da fúria da areia vermelha de Dorne. Enquanto todos se escondiam, Qoren Martell era o único que estava fora da proteção das paredes da Fortaleza de Lançassolar.

Do lado externo dos aposentos da princesa, podia-se ouvir suas lamúrias e um fraco choro. Suas aias já não suportavam mais ver a princesa naquele agonizante sofrimento.

— Meistre, a minha senhora está sofrendo, faça alguma coisa! — exigiu a mulher de olhos grandes.

Ella era a aia mais próxima da princesa e a mais cuidadosa com ela.

— A princesa está perdendo muito sangue, se continuar assim...

— Cale-se! Nada irá acontecer com a princesa.

Ella sequer deixou o meistre concluir sua fala. Ela pôs-se ao lado da princesa e segurou firme sua mão, enquanto com a outra estendia-se sobre a bacia em busca de mais panos úmidos.

— Você está indo bem, Alteza, continue se esforçando, faça isso por você e seu filho. Logo o príncipe chegará com ela.

Clarisse não aguentaria muito mais tempo, sua pele estava pálida e seu corpo coberto de suor. Ela já não tinha mais forças, e por mais que tentasse, a criança não saía, não importava quanta força ela fizesse.

— Qoren...

Antes mesmo de Ella responder, Qoren abriu abruptamente a porta dos aposentos. Ele retirou sua capa suja de areia e a largou ali mesmo, enquanto se dirigia para o lado da esposa. Junto com ele havia uma mulher de estatura baixa e cabelos negros.

— Vai ficar tudo bem, meu amor, eu a trouxe, ela irá salvar você e o nosso filho - Ele beijou as mãos de Clarisse, acariciando-as em seguida.

Clarisse temia que o parto fosse difícil, por essa razão pediu a Qoren para achar aquela mulher e levá-la até ela.

Seu nome era Maeva.

O estado da Dayne era delicado, e se não fossem tomadas providências logo, a vida dela e do bebê estariam em risco. Maeva aproximou-se da mulher de fios dourados, observando-a por um breve instante.

A mulher tirou o meistre de perto da loira usando de força.

— Você não está a ajudando dessa forma, apenas está deixando o processo mais doloroso.

Qoren segurava firmemente a mão da esposa enquanto depositava beijos em sua testa.

— Vocês, ajudem a princesa a se sentar.

Logo as aias obedeceram ao comando da mulher desconhecida por elas. Em seguida, ela ficou de frente para as pernas de Clarisse e rasgou sua anágua, deixando suas partes íntimas expostas.

— Alteza, sei que está sendo terrível e doloroso, mas empurre uma última vez, e desta vez use todas as suas forças.

A visão de Clarisse já estava turva, porém ela fez o que lhe foi pedido.

— Isso vai doer.

Foi a última coisa que Maeva falou antes de posicionar suas mãos na parte íntima da Dornesa. Clarisse fechou os olhos e concentrou-se em sua respiração, seguindo as orientações que lhe foram dadas no início. A dor era avassaladora, mas seu amor pelo filho que estava por vir lhe dava forças para continuar.

Os gritos angustiantes da princesa ecoavam pelos corredores da Fortaleza. No entanto, além da dor, havia uma determinação feroz em seus olhos. Ela estava determinada a trazer seu filho ao mundo. Qoren estava ao lado da esposa sussurrando palavras de encorajamento, lembrando-a de sua força e coragem. Suas mãos tremiam, mas ele nunca deixava de segurá-las com firmeza.

Quando Maeva viu a cabeça do bebê, ela mudou a posição de suas mãos e puxou os membros que estavam presos no canal da mãe.

Clarisse soltou um grito sofrido, enquanto o choro do recém-nascido encheu o quarto. Um choro frágil, mas cheio de vida. Qoren foi o responsável por cortar o cordão umbilical da criança.

— Parabéns, vocês tiveram uma linda menina.

Clarisse sorriu, demonstrando sua felicidade com a notícia. Já não suportando mais, ela desmaiou devido ao cansaço. Qoren logo se alertou, entretanto, Maeva o tranquilizou.

Devidamente limpa e empacotada, Qoren levou a filha para conhecer a mãe.

— Aqui, filha, essa mulher linda é sua mãe e com toda certeza você será tão linda quanto ela.

Clarisse soltou um riso fraco. Qoren levou a filha até a esposa, deixando a pequena nos braços da mãe. A Dayne admirou a filha, sorrindo ao ver seus fios ralos e suas mãos pequenas.

— Alisandre.

— Alisandre? — Qoren repetiu.

— Sim, o nome dela será Alisandre, Alisandre Martell. Ela será forte, destemida e deslumbrante.

— Alisandre significa grandeza, nossa filha será grande, meu amor. Ela será o sol da nossa vida.

— Ela será o sol e a lança.

Qoren beijou o topo da testa da esposa, virou-se para a filha e fez um carinho em sua pequena.

𝗧𝗛𝗘 𝗖𝗥𝗢𝗪𝗡, lucerys velaryon Onde histórias criam vida. Descubra agora