Capítulo 35: Mau presságio

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Os corredores de Lançassolar estavam agitados, com servos correndo de um lado para o outro e guardas presentes em todos os cantos do castelo. A fortaleza estava em um cenário descontrolado; Qoren ainda não havia voltado, e a vigília foi dobrada por questões de segurança. Andrômeda era tratada pelo meistre, enquanto Alisandre agonizava deitada sobre uma cama. O sangramento não parava, e eles não podiam lhe dar leite de papoula, pois ela precisava manter a consciência. A noite sombria parecia um mau agouro.

Danis corria entre as pessoas, seguindo o caminho para procurar por Madame Maeva. Daniela havia lhe feito esse pedido. Daniela soube que, quando a princesa Clarisse teve complicações no parto de Alisandre, Maeva foi quem a ajudou. Ela sabia que não seria fácil encontrá-la agora, depois de tanto tempo, mas esperava que as informações fornecidas por seus lagartos fossem verídicas.

Na Fortaleza, subindo aos céus, um corvo foi enviado para Pedra do Dragão, relatando o ataque a Alisandre e seu filho. Lançassolar estava frágil; Qoren estava fora, sua única herdeira havia sofrido um ataque dentro de sua própria casa, juntamente com sua prima. Os herdeiros estavam em risco, a Fortaleza cercada de guardas, mas, depois do ataque, o que poderia garantir que esses guardas eram de confiança? Andrômeda sabia que algo deveria ser feito o quanto antes.

Quebrando o repouso, vestiu uma camisa de algodão e uma malha de couro fervido. Empunhando sua espada, Andrômeda reuniu quinze guardas de Lançassolar que serviam com honra aos Martell. A jovem trocou a guarda dos aposentos de Alisandre, deixando dois dos guardas de sua confiança. Cinco foram distribuídos entre as entradas, e o restante ficou responsável pelas vigílias.

Andrômeda precisava ajudar Alisandre, mas, antes de ir ao encontro da prima, solicitou a presença de Daniela, pois sabia que ela poderia ser de grande ajuda. Andrômeda encontrou-se com Daniela na entrada da fortaleza, já impaciente com a demora. Quando Daniela cruzou suas vistas, Andrômeda se sentiu um pouco mais leve. A morena trazia consigo uma cesta, e Andrômeda não tardou em arrastá-la para dentro.

Alisandre gritava de dor. Os ferimentos já haviam sido suturados, mas a dor das contrações era persistente. Ela sabia que ainda não estava na hora, porém, não havia nada a ser feito além de tentar empurrar aquela criança para fora de si. Seus cabelos grudavam na testa suada; todo aquele esforço já lhe causava vertigem.

As serviçais corriam de um lado para o outro, trocando panos limpos e brancos. Agora, um pano úmido foi posto sobre a testa da herdeira, limpando o suor.

— Aguente só mais um pouco, Alteza — disse uma das serviçais, ajudando Alisandre a sentar-se na cama. As dores estavam ficando cada vez piores.

Andrômeda entrou com tudo, junto de Daniela. A morena correu até Alisandre, tocou seu rosto suado e pálido, fazendo um carinho singelo. Daniela rapidamente retirou de dentro da cesta um frasco com uma mistura, apoiou a cabeça de Alisandre para que ela bebesse todo o líquido. Aquilo ajudaria na recuperação após o parto. Andrômeda ajudou Daniela a iniciar o parto de Alisandre, que estava sendo complicado, já que o bebê não queria nascer.

Daniela sabia que não poderia esperar mais, caso contrário, a vida de Alisandre estaria em risco. Rasgando a seda das vestes brancas manchadas de sangue, ela se posicionou entre as pernas da loira. Andrômeda segurou firme a mão da prima, observando a cena em completa agonia. Sua amada prima agonizava em uma cama de parto.

— Segurem as pernas da princesa, e por mais que ela grite, não permitam que as feche. Entenderam? — perguntou Daniela às servas, que responderam com olhares preocupados.

— Sim — responderam.

— Vai ficar tudo bem, prima, eu estou aqui com você — disse Andrômeda, acariciando os fios loiros de Alisandre enquanto segurava sua mão.

— Lucerys... eu quero Lucerys, chamem Lucerys, por favor, eu imploro. — Aquilo partiu o coração de Andrômeda e de Daniela, pois sabiam que estava sendo doloroso demais para Alisandre suportar tudo sozinha.

Os pedidos sofridos de Alisandre cessaram, dando lugar a gritos agonizantes. Daniela havia introduzido lentamente seus dedos pela passagem da princesa. Alisandre fez força para tentar fechar as pernas, mas as servas as seguravam com firmeza.

— Escute, Alisandre. Empurre com força. Eu sei que, a essa altura, você está delirando, mas preciso que traga essa criança ao mundo. Faça isso por você, por seu filho que precisa nascer, faça por Lucerys.

As lágrimas escorriam sem parar de seus olhos; todo o corpo de Alisandre doía naquele momento. Ela cravou as unhas na palma da mão de Andrômeda e fez o que lhe foi pedido, empurrando com todas as suas forças.

— Isso! Andrômeda, ajude-a, empurre a barriga para baixo — disse Daniela. E Andrômeda fez o que foi pedido.

Daniela já conseguia ver a cabeça do bebê. Com o auxílio de Andrômeda e Alisandre empurrando, ela pôde puxar a criança. Segurou com cuidado os ombros, puxando devagar, até que viu os outros membros. Passou a mão por debaixo dos braços do bebê e o puxou, e ele chorava a plenos pulmões. Era um menino.

Alisandre ouviu o choro distante da criança e, com um sorriso radiante nos lábios, desabou nos braços de Andrômeda.

Daniela foi a responsável por cortar o cordão umbilical do bebê. A placenta saiu logo depois, enquanto Alisandre ainda estava acordada.

— Não se preocupe, Andy. Ela ficará bem, só está cansada.

— Isso conforta meu coração, mas só ficarei despreocupada quando ela estiver acordada.

Daniela entregou o bebê para que fosse limpo. Ele chorava muito; era tão frágil e pequeno. Andrômeda ficou encarregada de limpar Alisandre. Um banho rápido, e logo foi levada de volta aos aposentos para descansar.

Mais tarde, naquele final de noite, outro corvo subiu aos céus, desta vez com uma notícia boa: o herdeiro de Lançassolar havia vindo ao mundo, prematuro, mas saudável.

Um menino de fios ralos e loiros, com olhos cor púrpura. O primeiro filho do jovem casal de noivos. Nascido da aventura que mais tarde se transformou em um sentimento mais profundo: o amor. Embora não soubessem demonstrar, eles se amavam muito. Mesmo com tão poucos meses juntos, eles aprenderam que o laço que tinham não poderia ser rompido por nada e nem por ninguém.

O filho deles havia nascido da bravura de uma Martell inquebrável e do valente filho das marés.

𝗧𝗛𝗘 𝗖𝗥𝗢𝗪𝗡, lucerys velaryon Onde histórias criam vida. Descubra agora