Capítulo 24: A morte do rei

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Rhaenyra despedia-se de seu pai. Eles estavam a sós, pois a própria Rhaenyra pediu que os deixassem sozinhos nos aposentos de seu velho e amado pai. Viserys estava embriagado pelo leite de papoula que Alicent havia mandado que lhe dessem, enquanto Rhaenyra mantinha seu olhar afetuoso direcionado a ele. Ele acariciou o ventre da filha, abençoando sua futura neta ou neto. Segundo as especulações de Rhaenyra, desta vez seria uma menina.

— Visenya. — Rhaenyra falou para seu pai.

— E se for outro menino?

— Baelon. — Rhaenyra respondeu, recebendo um sorriso em troca.

— Ótima escolha, minha filha.

— Pai, eu preciso ir. Sua esposa cuidará bem do senhor em minha ausência. Prometo que voltarei logo para os preparativos do casamento de Jacaerys e Baela.

— Está bem, minha filha. Eu adoraria presenciar o casamento de meus netos, mas seu pai já está velho demais, talvez não dure até lá. Porém, ficarei feliz de partir sabendo que minha família está bem.

Rhaenyra sorriu, um sorriso sem graça que passou despercebido. Viserys, pelo contrário, ficou feliz. Ele se despediu da filha antes de cair em sono devido à quantidade de leite de papoula que havia bebido antes de iniciar sua despedida. A princesa herdeira sentiu um aperto no peito ao ver seu pai naquele estado, mas ficou agradecida por ainda tê-lo em sua vida, por ele ainda estar vivo, mesmo que cansado e velho.

Rhaenyra saiu dos aposentos de seu pai. Ela já havia se despedido de Alicent e de seus irmãos. Não havia necessidade de vê-los novamente antes de ir embora, então ela foi direto para a carruagem que a levaria de volta para a embarcação. Como estava com a barriga maior por conta da gravidez, não era adequado que ela voasse em Syrax. O mais seguro para Rhaenyra e seu bebê era voltar na embarcação, que levaria não só ela, mas também Alisandre.

Alisandre estava à espera de Rhaenyra, já que o marido da herdeira já havia voado mais à frente junto aos filhos. Rhaenyra recebeu auxílio para subir na embarcação de madeira, e logo após seus pés se firmarem dentro do barco, todos já estavam prontos para zarpar. As âncoras foram retiradas das águas, as velas foram içadas, junto com o vento que soprava. Alisandre se aproximou de Rhaenyra, que sorriu para sua futura nora.

— Você parece preocupada, querida. — Rhaenyra falou.

Alisandre olhou para Rhaenyra, que segurou uma de suas mãos e começou uma carícia. Era inacreditável o talento que a platinada tinha para acalmar a todos; ela inspirava maternidade. Rhaenyra a deixava confortável com um simples contato nas mãos. As duas caminharam para a proa da embarcação, se apoiando na madeira das barras do navio, sentindo a brisa batendo contra seus cabelos. A platinada tinha uma trança em seus cabelos, com alguns fios soltos, enquanto Alisandre mantinha seus cabelos completamente soltos.

— Meu pai...

— Eu entendo completamente, Alisa. — Rhaenyra suspirou. — Lembro-me perfeitamente de quando era mais jovem. Cometi vários deslizes que me prejudicaram, não só a mim, mas a meus filhos. Meus filhos sofrem as consequências de minhas ações até hoje.

— Como?

— É uma longa história, minha querida. Mas o mais importante é que eu não me arrependo de nada. Se eu me arrependesse, estaria me arrependendo de meus amados filhos.

— Entendo.

— Você se arrepende do que você e Lucerys fizeram?

Alisandre balançou a cabeça negativamente, indicando que não se arrependia. Isso era verdade; ela não se arrependia das noites de conversas, bebedeiras particulares, carícias e toques. Não se arrependia de ter tido relações com Lucerys, e com Rhaena, ou com os dois de uma vez só. Ninguém poderia julgá-la, mas eles apenas haviam contado sobre suas relações isoladas, sem envolver Rhaena. O importante era que Alisandre não se arrependia, e talvez nunca se arrependesse, porque de algum modo ela estava começando a gostar de Lucerys. Aquilo não era mais apenas um jogo entre os dois.

— Não, eu não me arrependo, Rhaenyra. — Alisandre fechou os olhos sentindo o vento bater em seu rosto. — E talvez eu nunca chegue a me arrepender disso. — Alisandre acariciou seu ventre. Mesmo que fosse tão pequeno, ali dentro estava o seu bebê, o bebê que ela e Lucerys fizeram.

— Que bom, agora descanse um pouco, minha querida. Não quero que meu neto ou neta estejam cansados. — Alisandre soltou uma risadinha, soltando a mão de Rhaenyra. Ela ganhou um beijo na testa da platinada, e logo depois a princesa herdeira se afastou, deixando Alisandre sozinha.

— Talvez eu esteja começando a gostar desse futuro casamento... Não me parece tão ruim quanto cresci imaginando que seria... — Ela sorriu e caminhou em direção às cabines.

Em Porto Real, os criados andavam de um lado para o outro. Fazia menos de uma tarde que Rhaenyra havia deixado a capital. Alicent estava trancada na sala do Conselho Verde, enquanto Viserys estava deitado em sua cama, morto. Após a partida de Rhaenyra, Viserys balbuciou algumas palavras para Alicent antes de morrer. Agora o rei estava trancado em seus aposentos, morto, apodrecendo.

— Tudo isso precisa esperar — declarou Otto Hightower. — Até a questão da sucessão ser resolvida. — Como Mão do Rei, ele tinha o poder de falar com a voz do rei e até de se sentar no Trono de Ferro na ausência do rei. Viserys concedeu a ele a autoridade de governar os Sete Reinos, e “até chegar a hora do nosso novo rei ser coroado” essa regra prevaleceria.

— Até nossa nova rainha ser coroada — disse lorde Beesbury.

— Rei — insistiu a rainha Alicent. — O Trono de Ferro, por direito, deve ser passado para o filho legítimo mais velho de Sua Graça.

— Sua Graça deixou bem clara sua vontade de coroar sua filha mais velha como sua herdeira e futura rainha. Eu e minha casa juramos lealdade à herdeira do trono, e pretendo manter essa promessa.

Quando o homem fez menção de se levantar para ir embora da sala do pequeno conselho, Alicent, já incomodada com o comportamento de lorde Beesbury e sua discordância, acenou para sor Criston Cole, que imediatamente se aproximou do velho homem, enfiando sua espada contra a garganta dele, matando-o imediatamente.

— Mais alguém ousa contestar a coroação de Aegon como rei? — Alicent perguntou, levantando-se de sua cadeira. — Vou encarar o silêncio como um ato de obediência.

Sor Westerling retirou seu manto branco e largou sua espada sobre a mesa do Conselho Verde. Alicent olhou perplexa.

— O que significa isso, sor? Você é o comandante da Guarda Real do rei!

— Exatamente, Vossa Graça, mas, por enquanto, o reino não tem um rei que necessite de proteção. Eu renuncio ao cargo de Comandante da Guarda Real. Não farei parte disto. — Com essas palavras, sor Westerling deixou a sala do pequeno conselho.

Criston Cole olhou para a rainha verde. Com um aceno positivo, ele foi atrás de sor Westerling. Não demorou muito para alcançá-lo. Criston o puxou rapidamente, com uma mão em seu ombro e a outra em sua espada.

— O que pensa que está fazendo? Já vai se aliar à prostituta dos negros?

— O que eu farei daqui em diante não lhe diz respeito, Cole.

— Claro, você só é mais um maldito traidor.

— Quem é você para falar isso? Você fala como se tivesse alguma honra. Ouça com atenção: até os ratos da Fortaleza de Maegor são mais dignos e honrados que você, Cole.

Com essas palavras, sor Westerling, ex-comandante da Guarda Real do rei, deixou a Fortaleza Vermelha para se aliar aos negros e à sua futura rainha. A única e legítima.

𝗧𝗛𝗘 𝗖𝗥𝗢𝗪𝗡, lucerys velaryon Onde histórias criam vida. Descubra agora