Capítulo 27

98 13 12
                                    

Ano 2001

Falta pouco para chegar ao meu destino, comprei as passagens em última hora. Eu estou com medo, não deveria deixar o Gael para trás sem nenhuma explicação razoável. Nosso relacionamento não deveria acabar desse jeito, quero ouvir a sua parte da sua história. Tem uma boa explicação atrás disso, tem que ter. Encosto a cabeça na janela, estou deixando o país com o coração machucado, algumas lágrimas temem a descer, não quero chorar em público mesmo com a poltrona vazia ao meu lado. Só quero dormir até chegar na rodoviária. Alguns minutos, senti uma pancada forte e a minha volta começou a girar, só escutava gritos e choros das crianças, senti uma sensação de vazamento entre as pernas. Depois, acabei dormindo, abrir os olhos e encontrei Heloísa chorando e orando, mas a expressão do meu pai dava medo.


— Rafaella? O carro está esperando minha querida!

A voz emocionada da Heloísa me tirou das lembranças ruins, as vezes sonho acordada. Parece que foi ontem o acidente de ônibus, trinta e seis pessoas só quinze sobreviveram, foi um milagre que tenha sobrevivido, o meu corpo entrou em choque térmico e entrei em coma por duas semanas.

— Estou pronta!

Levantei no banquinho, Heloísa ajudou a arrumar o vestido de noiva. Enquanto estava fora, Heloísa encomendou o meu vestido e preparou todos os preparativos da festa. A Maria Cecília foi modelo, mesmo que o nosso corpo não seja igual. A costureira aumentou 3x vezes as medidas, e deu certo, o vestido de noiva cabem perfeitamente em meu corpo. 

Estou bonita, parecendo uma princesa. Dou um sorrisinho forçado em frente ao espelho, hoje seria o dia mais feliz da minha vida, e então, por que não estou feliz? Está faltando algo.

— O seu pai está esperando dentro do carro. — Falou ajeitando o meu cabelo e colocando as mechas nas minhas costas.

— Eu não quero...

— Não discuta, pelo menos hoje. O Brasil inteiro está assistindo o seu casamento. As pessoas vão comentar o motivo porque o seu pai não está entrando com você na igreja, seja uma boa menina e fique calada, quando acabar a festa você mostra a sua infelicidade. Entendeu, mocinha?

Sem responder, fui à varanda. Uma limusine estava me guardando, e José lá dentro sentado com a sua expressão de desgosto, três dias depois quando acordei em coma. José deu um tapa, me chamou de vários nomes possíveis e uma frase que saiu na sua boca imunda foi um soco no meu estômago. No acidente, estava esperando um filho, um feto de quase quatro meses. Fiz a cirurgia de emergência, o feto já estava morto dentro de mim, nenhum sinal vital. O visitei no necrotério antes que o seu corpinho fosse cremado, era um menino, era um bebe feio mas era o meu filho.

José me fez prometer não contar nada para o Heitor. Esse segredo morreria com nós três, com bebe morto não deveria estragar o casamento prometido. Aceitei o acordo, e agora é só fingir que está feliz e ser uma esposa perfeita. E tudo se resolverá com o tempo, pra que chorar em leite derramado? É só esquecer a história, e seguir em frente, afinal, foi apenas um sonho ruim e que teve uma consequência trágica.

— Vamos!

Peguei o buquê de flores e saio do quarto, no caminho encontrei a minha irmã. Até que essa vadiazinha dissimulada está bonita, está arrumadinha parecendo gente, exceto pelo batom rosa. Virou uma mulher agora, ela e a empregadinha ganharam uma bolsa de estudos, e vão desaparecer na minha vida durante cinco anos.

— Está pronta? — Aproximei-me, e sussurrei ao seu ouvido. — Não estrague o meu casamento.

Dei um sorrisinho e saí batendo em seu ombro. Agora tenho que ir, tenho um papel para cumprir que foi designado.

ESPOSA PERFEITA - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora