Só voltei a respirar quando coloquei os pés no chão, e dando graças a deus que não encontrei o papai ou outra pessoa, assim, evitaria perguntas invasivas sobre o hematoma no meu rosto. Depois daquele episódio infeliz no quarto, abriu uma enorme cratera na relação com os meus irmãos, já tinha um espaço, e agora, acho que é difícil perdoá-los. Miguel como sempre defende a Maria Cecília, será por que eles compartilham o mesmo cinto do papai? Para serem assim, tão unidos, carne e unha, e eu? Sozinha no espaço. Sonia está vindo, ajeito os meus óculos escuros e meu chapéu de praia.
— Bom dia, senhorita, Rafaella! — Cumprimentou-se curvando-se. — Como foi a sua viagem?
Seus olhos castanho-escuro procuravam a sua filha atrás de mim ou dentro do carro, obriguei a Ana Clara pegar outro avião. Já bastava ela ir nessa viagem, agora tenho que dividir o mesmo espaço do que ela? Não repito o erro duas vezes. E também, ela estava muito estranha, foi acompanhada com os idiotas. Retrucaram a minha decisão.
— A sonsa vem no outro avião, acaso esteja procurando a sua filha. — Ajeitei o chapéu mais ainda — Daqui a pouco faz um lanche saudável, estou morrendo de mim. Ah, propósito! Quando a Maria Cecília convida a sua filha, ela tem que aprender a palavra "não". Fui claro?
Sonia engole em seco.
— Mas foi a Maria Cecília, às vezes, ela insiste muito.
— Então, Ana Clara tem que ser mais firme. Se a sua filha for em outra viagem, vou mandar o papai descontar o seu salário. Fui clara?
— Como água!
— Que bom!
Saio perto dela, posso ser até rude com as minhas empregadas. Mas estou fazendo o que for preciso para zelar o sobrenome da família, esse tipo de gente só serve para época de eleição. Coitadinho do papai, sendo obrigado a cheirar perfume barato. Subo as escadas, percebo que não tem ninguém em casa. Será que eles saíram? Abro a porta do meu quarto, vou logo na direção do espelho. Encaro o meu reflexo, cores verde e roxa faziam presentes, ambos das bochechas inchadas.
Acho que nem a maquiagem pode disfarçar essa monstruosidade que o Miguel fez comigo. Sento-me no banco, peguei uma base e cuidadosamente comecei a passar, está doendo bastante. Como vou me encontrar desse jeito com Heitor? Com essa cara? Estou parecendo um peixe baiacu. Eu estou uma verdadeira bagunça agora, mas ainda dá tempo. Só colocar gelo, aos poucos o inchaço vai diminuindo.
— Rafaella, está aqui o seu lanche. — Sonia entrou no quarto. — Os seus pais saíram com seus amigos íntimos, e os seus irmãos acabaram de chegar. Mas alguma coisa?
— Quero gelo.
— Sim, senhora!
Seus olhos arregalaram ao encontrar o meu rosto destruído, mas não falou nada. Só colocou a bandeja em cima da cama e foi embora. Com fome, peguei um pedaço de sanduíche natural e mastiguei lentamente. Não é à toa que recebeu muitos elogios vinda da Luíza. Aproveitando, imaginei qual vestido eu iria usar, por sorte o closet está aberto, levantei-me na cama, peguei o primeiro vestido. É azul, e tem uma abertura não muito grande na perna, elegante e simples. Gostei, vou usá-la nesta noite.
— Rafaella? — É a voz do Miguel.
Meu corpo tremeu e os pelos se arrepiaram ao escutar a sua voz, na última vez ele me espancou. Tomei coragem, se ele bater novamente, eu juro por deus que vou gritar bem alto.
— O que foi? Vai querer bater em mim de novo? — Perguntei saindo do closet.
Miguel está segurando um recipiente com gelo.
— Sonia comentou na cozinha sobre os hematomas no seu rosto, e eu vim me desculpar com você. Eu fui longe demais, deixei a raiva dominar naquele momento, e uma bofetada seria suficiente. Você aprenderia a lição.
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ESPOSA PERFEITA - LIVRO 1
RomantizmRafaella Cavalcanti cresceu no mundo de privilégios, sempre teve o que queria. Sempre foi uma boa filha e obediente, uma visita inesperada na festa de Ano Novo fez questionar o seu dever e as ordens do seu pai. Desde então, vive no prazer desconheci...