Capítulo 46

80 9 4
                                    

Sentada com a postura ereta em frente ao espelho, meus olhos cheios de lágrimas e marcados pela violência de ontem. Tento o máximo possível esconder com corretivo e base, não quero que nenhuma pessoa saiba que estou passando nas mãos do Heitor. Hoje mesmo vou cortar os laços com a Catarina, vou dizer a ela que foi um grande erro ela ter vindo para o Brasil e que deveria esquecer que eu existo. Tentar recomeçar uma vida nova, longe de mim, longe desse país.

Meu coração sangra nas possibilidades de nunca mais vê-la, mas não tenho outra escolha além de seguir as ordens do meu marido. Ponho no lugar o corretivo, pego batom vermelho sangue e passo em meus lábios arroxeados, e finalizo a maquiagem no rosto sem vida e com semblante horrorizado.

Uma lágrima deslizou, limpei rapidamente.

Nem percebi a presença do Henrique atrás de mim, através do espelho o vejo que está de uniforme escolar. Com certeza ele deu ordens para o Henrique continuar indo para escola, aposto que ele sabia a minha real intenção de matriculá-lo na Suíça. O Heitor que me manter presa a todo custo, sob os seus comandos.

— Papai não quer ver o seu filho fora do seu alcance — Começou a falar — Não vou estudar no exterior, e ele conversou comigo que aceita a minha sexualidade. Isso sim, é um pai de verdade, e não a senhora que quer esconder o próprio filho do mundo.

Ignorei o Henrique. Não quero desperdiçar a minha saliva com ele, não quero discutir e contar toda a verdade para ele. Nunca vai acreditar na minha versão mesmo. Levantei-me no banquinho, fui ao closet e peguei um par de escarpins vermelho de salto quinze centímetros e uma bolsa da marca Gucci da cor preta. Desamarro o meu cabelo e deixo as madeixas bem feitas caírem nas minhas costas, voltei para o espelho novamente. Estou visualmente bonita. Estou sofrendo mas isso não significa deixar a minha aparência de lado, a minha beleza é o cartão de visita.

— Se apresse para não se atrasar. — Fui à direção e depositei um beijo na sua testa, a marca do batom vermelho ficou registrado na sua pele pálida — Eu te amo!

— Eu também, te amo mamãe!

Saímos no quarto, fecho a porta atrás de mim. No corredor escuto as vozes desagradáveis das novas moradores dessa casa, realmente ele cumpriu as suas palavras e agora tenho que suportar essa dupla traição, Maria Cecília não percebe que está sendo usada pelo seu amante? No topo da escada, as vejo rodeadas com os seus pertences. Ponho um sorriso falso no rosto e comecei a descer as escadas segurando os ombros do meu filho. No fim, Henrique correu e abraçou a sua meia-irmã, os dois sorriem. Que cena, linda! Só que não, é repulsivo só de olhar.

— Olá, Rafaella! — Maria Cecília ficou na minha frente, segurando uma mala de mão. — Eu não queria estar nessa situação, ele me obrigou.

Será mesmo? Será que as duas irmãs estão sendo ameaçadas e maltratadas pelo mesmo homem? Que irônico, seria engraçado, as duas sofrendo e comendo o pão que o diabo amassou. Miguel tem razão, está parecendo uma novela mexicana nos anos 90.

— Tudo bem, aproveite a mordomia! — Beijo a sua bochecha, e sussurrei ao seu ouvido enfeitados de brincos — Não quero a sua filha próximo ao meu filho, só não esquece que o Henrique é o filho legítimo perante aos olhos de Deus.

Maria Cecília engole a seco, e olhos com emoções mistas.

— Oi, tia Rafaella! Fiquei com saudade da senhora. — Laurinha veio até mim, e abraçou o meu corpo apertando-o — Muita saudade!

Tenho abraçá-la como fazia antigamente, mas não consigo. Parece que o amor que sentia por ela evaporou como toque de mágica quando descobrir a verdade. Mesmo sendo uma vítima dessa sujeira toda, igual a mim e Henrique, não consigo mais amá-lo como tia. E não sou obrigada a amá-la novamente.

ESPOSA PERFEITA - LIVRO 1Onde histórias criam vida. Descubra agora