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S/n Lyonne Point of View

— De qualquer forma eu acho que você deveria trocar esse perfume. - Camila diz emburrada.

— Não gosta do meu perfume? - Fiz bico. Estamos andando em direção à praia. Camila disse que alguns meses atrás havia saído sem rumo e achou uma cidade vizinha muito bonita com praia e restaurantes legais chamada Downtown. Decidimos vir hoje para conversarmos sobre o que faremos das nossas vidas. Ontem deixamos para pensar por outro dia, decidimos curtir juntas a companhia uma da outra e matar a saudade.

— Eu adoro seu perfume, mas ele é tão cheiroso que chama a atenção das sirigaitas. - Diz emburrada, pois há pouco tempo atrás uma mulher tinha dado em cima de mim bem na frente dela. A desculpa foi que eu estava muito cheirosa e chamou a atenção da mulher.

— Não seja tóxica, Dra. - Ela me olha com cara de poucos amigos.

— Não me estresse, eu sinto ódio de você por me fazer agir como louca. Desde quando eu sinto ciúmes?! - Resmunga baixo, irritada. Apenas fico quieta rindo baixinho.

— Então... - Desvio o assunto. — Quer almoçar primeiro e depois a gente vai até à praia? - Ela assente, entrelaçando nossas mãos. Meu coração acelera, esse simples gesto me fez ficar boba até demais. Caminhamos até a entrada do restaurante e nos sentamos já sendo recepcionadas.

— Se lembra do dia que eu apareci na sua porta com um vinho e o Phill estava na sua casa? - Ela pergunta, me olhando para ver se eu me recordo.

— Sim, que depois te levei a praia e você teve um ataque de pelanca. - A mulher revira os olhos e dá um tapinha no meu braço.

— Sim. Nem me lembre disso. Mas nesse dia na parte da tarde eu saí sem rumo e encontrei esse lugar, almocei nesse mesmo restaurante depois de nadar nua numa praia em frente a estrada do bairro de Downtown. Te contei essa parte também, não é? Mas enfim, você vai amar a comida, é muito gostosa. - Observo ela falar, parecia estar animada, me contando gesticulando e cheia de detalhes. Ela está super falante e eu amo isso.

Emendemos em uma conversa boa e fizemos nossos pedidos. O lugar é muito aconchegante, é espaçoso e aberto, com boa circulação de ar pelo ambiente, há luzes penduradas enfeitando o teto. Achei bem bonito. Nossos pratos chegam e comemos entre risadas.

— Quando foi que você decidiu que queria ser médica? - Estamos buscando tomar mais conhecimento uma sobre a vida da outra. Perguntas mais íntimas torna afinidade, mesmo que já estávamos conectadas, sempre é bom saber essas coisas. Compartilhar momentos e histórias fortalece os laços.

— Pra te falar a verdade eu não sei quando decidi pois era algo que eu sempre quis ser, desde muito pequena eu brincava com meus coleguinhas de aferir a pressão, cuidar de ferimentos falsos e rabiscar de qualquer jeito no papel para fazer a receita. Me achava o máximo escrevendo tudo repuxado para parecer letra de médico. - Rimos.

— Não existe um fato científico do médico ter uma letra feia, mas isso é tão comum que parece que vocês se reuniram e disseram "A partir da formação faremos a receita numa escrita mágica que para entender será necessário um padre e um tradutor" - Nego com a cabeça sorrindo.

— Realmente não tem uma base pra ter essa letra horrorosa, mas tem uma explicação bem convincente. Esse fato de ter a letra assim, é a consequência dos vários anos de estudos dos outros profissionais, passando pela graduação, residência, especialização e, em alguns casos, pós-graduação. - Ela me olha com atenção enquanto explico. — Segundo algumas pesquisas, a letra corrida do médico já começa a ficar ruim na faculdade. Os 5 anos de estudos exigem muita dedicação, e acaba que temos que correr para aprender todo o conteúdo transmitido nas aulas, com isso, os futuros médicos passam a fazer anotações rápidas e quase ilegíveis sobre os conteúdos apresentados por seus professores. A pressa em anotar tudo com detalhes torna a letra do médico muito ruim. Entendeu? - Ela levanta as sobrancelhas.

Welcome (Camila/You G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora