Capítulo 60

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Christian

Enquanto eu era arrastado em direção a festa do casamento, ninguém parecia perceber meu atordoamento, meu distanciamento em relação à todos. A questão era que meu corpo estava ali presente no meio de todas aquelas pessoas, mas minhamente estava em outro local e principalmente em outro alguém. Alguém que não estava ao meu lado. Estava tonto com todosmeus pensamentos e sentimentos à flor da pele, os quais, ambos, estavam bagunçados.

Minha filha, aquela doce menininha de olhos cinza claros exatamente como os meus, havia vindo falar comigo. Quase chorei em sua frente de tanta emoção. Não conseguia conter a alegria e especialmente meu coração que se enchia, tão rápido, de amor por Ágatha. Ela sorriu pra mim. Eu havia ouvido sua risada pela primeira vez e quem havia causado a mesma fora eu. Entendi o porquê de minha mãe, e todo mundo que a conhecia, se encantar tão fácil. Era como um anjo de tão delicada. Tão inteligente para sua idade! Ela falava tão bem e parecia esconder muitos conhecimentos dentro daquela cabecinha. A cor que seus cabelos eram iguais aos meus. O pequeno nariz era idêntico ao dela. As poses e as caretas eram exatamente as mesmas. Eu não poderia estar mais encantado. Quando ela cruzou os bracinhos e ergueu aquela gracinha que ela chamava de nariz, a mulher por quem me apaixonei parecia estar na minha frente, porém em uma versão menor. Minutos depois, Ana apareceu debraços cruzados e com o mesmo semblante. Minha vontade era de roubar as duas, abraça-las, beijá-las e em seguida me chutar por ter perdido tanto tempo longe.

Elas eram a minha família e eu não merecia nem um terço daquilo que estavam me concedendo. Mesmo sendo pouco em relação ao que eu realmente queria, que seria uma vida completa, moradia ao lado delas e todo carinho e amor que as mesmas poderiam me dar, ainda sim poderia ser considerado até demais jáque eu não merecia nem ao menos tê-las por perto.

E Ana... Deus, como meu coração batia acelerado por ela! Como eu precisava vê-la, como eu precisava sentí-la mais perto. Ela estava estupidamente mais bonita, como era possível? Claro que não era a mesma Ana que eu lembrava. O seu rosto, seu corpo e até seu jeito eram mais maduros, mais robusto, porém sua essência ainda continuava a mesma. O cabelo maravilhoso os olhos cristalinos, os quais, apesar de estarem furiosos e repletos de desprezo sobre mim, ainda continuavam sendo os mais bonitos que eu havia visto o corpo com aquelas curvas ainda mais atraentes e acentuadas do que eu lembrava. Tudo isso continuava tendo o mesmo efeito sobre mim. Lá do outro lado do altar ela me olhava... Não era o mesmo olhar apaixonado e cheio de admiração que ela costumava me dar, era diferente, na verdade, era indiferente. Era curioso, ressentido e intenso. Apesar disso, apesar de todo meu encantamento pela sua aparência impecável e dos longos minutos que trocamos olhares com intensidade, nada havia ocorrido bem. Anastásia devia pensar as piores coisas de mim já que interrompeu minha conversa com Ágatha por medo que eu a machucasse. Como ela sequer poderia pensar que eu seria capaz de algo assim? Como poderia sequer cogitar tal idéia absurda? Olhou para mim e me ameaçou, me proibiu de chegar perto da menina, me fitava de um jeito assassino como se estivesse prestes a pular no meu pescoço por apenas ter falado com minha própria filha. É óbvio que eu entendia todas suas razões, desconfianças e grosserias, mas não conseguia aceitar o fato de que me acharia capaz de fazer mal à aquele doce de pessoa. Meu próprio sangue.

— Cara, você está bem? — Ouvi Ethan perguntar, o que me fez sair de meus próprios pensamentos e fitar a festa local.

— Porque? Estou com a aparência muito horrível? — Perguntei olhando-me no espelho da sala pendurado na parede. Ajeitei meu cabelo e tentei parecer formal, elegante eapresentável. A mulher da minha vida estava presente, eu teria que fazer bonito.

— Tirando o fato de que você está com olheiras horríveis, perdeu bastante peso, está suando feito um porco e mal consegue respirar? Claro, você está ótimo. — Sorriu divertido e deu uma ajeitada na minha gravata. Revirei os olhos com isso e me distrai procurando Anastásia pelo ambiente, a qual já havia sumido do meu campo de visão. — Está procurando ela, hã? — Perguntou arqueando as sobrancelhas de um jeito malicioso. — Eu vi vocês conversando lá na frente da igreja e cara... Aquilo é a casa de Deus, um lugar de respeito, fé e religião, mas levando emconsideração a aproximidade de vocês, parece que não estão nemaí pra isso, não é mesmo? — Me cutucou com o cotovelo cheio de segundas intenções e naquele momento eu adoraria concordar com ele e dizer que estava certo, porém não fora o que ocorreu.

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