Capítulo 62

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Anastásia

Quando ele me lançou aquele olhar... Aquele olhar totalmente desorientado, e então, passou sua mão pela minha nuca e me aproximou dele, deixando que seus lábios tocassem minha testa e sua outra mão envolvesse minha cintura, eu não pude me conter e por Deus, eu não queria me conter, não tinha forças para fazê-lo! Não sei ao certo quanto tempo passamos lá, no meio daquele quarto, enquanto toda a festa de casamento acontecia do lado de fora, mas era como se aquele fosse nosso casulo, nossa bolha particular, a qual criava teias de aranha já que não ficávamos nela há tanto tempo. Simplesmente fiz o que não devia e deixe-me envolver por ele, o abracei, permitindo a saída de algumas lágrimas teimosas.

Existem coisas que o tempo não muda, nem apaga. Podem se passar anos, mas ao reencontrar aquele alguém que marcou sua vida, é como se a distância nunca tivesse existido. Sem contar que, é claro, esses momentos nunca vão sair da sua memória. Por exemplo, as sensações que eu sentia cada vez que meu corpo estava perto do dele, cada vez que nossa pele estava em contato uma com a outra, haviam sido trazidas à tona sem precisar de muito esforço. Existem aquelas pessoas que por mais distantes que estejam, ainda continuam perto. Aquelas que, passe o tempo que passar, dias, meses ou anos, serão sempre lembradas por algo que fizeram, falaram, mostraram, pelo que nos fizeram sentir. É isso... As pessoas são lembradas pelos sentimentos que despertaram em nós. 

Quanto maior o sentimento, maior se torna a pessoa. E Christian... Ele era a maior pessoa. Tudo que havia despertado em mim, tudo que já falou, demonstrou e deixou marcado em mim até hoje está vivo dentro do peito e principalmente gravado na mente. Eu podia dizer ao contrário, mas a verdade é: Não importa a quantidade de machucados que deixou em mim, não importa o quanto me feriu e desgraçou aminha vida, nada disso chegava ao ponto de ser maior que a felicidade, que o amor e paz que já me trouxe um dia. No fundo, bem no fundo, eu tenho é muita saudade de tudo que passamos, porém nunca iria admitir. O abracei de volta porque, mesmo negando até a morte, era aquilo que eu precisava no momento. E isso é engraçado e até mesmo irônico na dor, você sempre quer ser consolado exatamente por quem te machucou.

Anos sem vê-lo e quando o reencontrei, descobri que as borboletas do meu estômago continuam vivas e intactas, como se estivessem apenas esperando por um luz no fim do túnel.

Eu estava ciente de que se continuasse por mais um segundo ali, dentro daquele abraço, dentro daquele aconchego, perderia toda a firmeza de minha decisão, por isso resolvi que estava mesmo na hora de parar e voltar a ser uma vadia fria. Lembrei das razões do porquê eu estar chorando, do porquê meu peito doer tanto e do porquê ele pedir perdão silenciosamente com aqueles grandes mares azuis, e com isso me afastei bruscamente. Lembrei que fora por causa dele que eu já havia ficado sem forças para recomeçar, sem fé. Lembrei que ele me deixou com feridas, as quais eu ainda tenho medo que não se cicatrizem. Amor, dizem que é um sentimento lindo, fundamental, inexplicável. Mas que sentimento é esse? Que no início parece ser doce, depois se torna amargo. Que não vai embora quando você mais quer que ele simplesmente evapore, desapareça. Às vezes, e com isso digo quase sempre, me sinto incapaz, incapaz de esquecê-lo. Eu pensava que deveria fazer isso, deveria seguir em frente, esquecer, encontrar alguém que me faça acreditar de novo no amor, entretendo eu já havia tentado, muito aliás, e mesmo assim não deu certo. Algo me impediu e ainda me impede. E eu não seis e um dia me verei livre disso... Livre... Dele.

— Olha o meu desenho, dindaaaaaaa! — A voz de Ágatha me tirou de meus devaneios e agradeci por isso. Eu não deveria pensar muito nele, teria que tratar de focar no real motivo pelo qual vim para ficar três semanas: Minha família, amigos e especialmente minha filha. Eu não iria ficar por muito tempo, porém o aniversário dela é semana que vem e nunca comemoramos em Seattle. Ágatha realmente gostou do lugar e pediu para que comemorássemos pela primeira vez na casa de sua avó. Eu nunca poderia negar um pedido desses. Eu sei que provavelmente teria que aturar muitas coisas, e correr muitos riscos, por ter ficar perto de certa pessoa, mas eu daria um jeito.

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