Prólogo

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Pov Enid

Quando menor, papai sempre me dizia que o dinheiro não compra a felicidade. Contudo, com uma mente mais madura, eu penso que não me importaria em entristercer-me no interior daquela majestosa mansão.

Eu observava cada mínimo detalhe luxuoso, tão distanta de minha realidade. Meu encaixe ali era desajustado.

De fato, o dinheiro podia não ter poder aquisitivo sobre a felicidade, todavia, possuia sobre alimentos e a manutenção do lar. Sendo assim, com papai debilitado, eu devia ser nosso novo pilar de sustento.

Nevermore era um polo de inúmeras possibilidades e ofertas de sucesso, entretanto, a julgar por minhas últimas experiencias frustradas de emprego, eu não me denominava boa o suficiente.

A verdadeira culpa não era, de fato, dos meus antigos empregadores, afinal, pedir a uma recém graduada em enfermagem, para organizar uma reunião empresarial, era algo fadado ao fracasso.

Por este motivo, não contive minha alegria e otimismo quando recebi um telefonema de Bianca Barclay, interessada em uma entrevista comigo. Aquilo renovou minha esperança, quase que totalmente esgotada. 

- Existem processos específicos e essenciais para que The Crow funcione adequadamente, eles podem parecer desafiadores, mas você parece ser uma garota altamente capaz, ao menos foi o que seus reitores me informaram sobre  -sorriu com gentileza, voltando seu olhar a mim.

- Eu agradeço -retribui o gesto. Alegre por saber da indicação de meus professores de faculdade.

Ao final do longo corredor, por onde caminhavámos, surgiu um rapaz alto e loiro, vestido em um terno elegante. Ele deu passos largos em direção de Bianca, sussurrando algo, unicamente, ao alcance de seu ouvido.

- Senhorita Sinclair, eu preciso me ausentar por alguns minutos, se incomodaria de passar este tempo sozinha? -murmurou um tanto culpada e eu neguei, demonstrando que estava tudo bem.

A mesma concordou e seguiu o cacheado. Analisando seu perfil físico, lhe definira como um segurança, ou algo assim. E eu quase me lembrava de passar pelo mesmo, quando adentrei os portões daquele estupendo lugar, me distraindo com o belo jardim que o cercava.

A curiosidade se apossou de mim e uma necessidade de explorar seus metros quadrados idem. Desde pequena imaginava como seria pisar no hall de The Crow, o coração de Nevermore.

Martirizei-me o quanto pude, entretanto, não suportei muito tempo.

De modo furtivo, enfiltrei-me em alguns aposentos que me roubaram suspiros. Eram salas esplendorosas, que me faziam confusa.

The Crow era dona de beleza sem comparação e seu interior era quente devido as diversas lareiras sempre ligadas, todavia, ao mesmo tempo, sua áurea era fria e mórbida.

Um brilho admirado me abateu, quando meu olhar se encontrou com um recinto encantador. Meu sorriso grande foi inevitável e eu deixei que meus passos me levassem ali, sem sequer reparar.

Uma espetaculosa biblioteca estava diante de mim, acalentando minha paixão indomada por livros. Eram tantos reunidos em somente um lugar, que eu, nem ao menos, saberia por qual sessão começar a me aventurar.

- Não pensa ser muita petulância de sua parte, estar em um cômodo, no qual sequer foi convidada a adentrar? -o timbre rouco e estrondoso, contudo manso, ecoou por todo o ambiente. Fosse quem fosse, apenas por ouvir sua voz, eu possuía ciência de que sua presença era marcante.

Procurei por si em meu campo de visão, encontrando sua projeção em uma exuberante poltrona, que estava posicionada a frente de uma alta janela vertical. Eu não conseguia lhe ver a face.

- Você pode ter razão, ou pode estar sendo precipitada, acaso é a dona deste lugar para saber quais partes posso ou não acessar? -minha resposta soou divertida e desafiadora.

Em mania, entrelacei meus dedos em minha frente, balançando o corpo.

A lufada descrente soou quase que com humor, deduzi que não costumavam enfrentar a garota ali sentada. O assento foi abandonado e sua identidade revelada, tornando-se um gatilho que matou o pequeno sorriso estampado em meu rosto.

- Sim, eu suponho que sou a dona de todo este pedaço de terra em que o sol toca -retrucou prepotente, enquanto limpava as lentes do fino óculos que usava antes, segundos depois, levando seu olhar ao meu.

Os castanhos, tão escuros quanto a noite, se encontraram com meus azuis e eu jurei ter sido apunhalada em minh'alma. Eu entrei em um estado de paralisia e admiração, não conseguindo reagir.

Um ruído invadiu aquele espaço e eu sabia que não estávamos mais sozinhas. As portas duplas eram pesadas, feitas de madeira bruta, certamente custosa, sendo assim, suas dobradiças, sem intenção, alertavam sobre o novo indivíduo.

- Perdoe-a Vossa Mercê! A culpa foi minha, estava a entrevistando e lhe deixei sozinha por poucos minutos, não imaginei que iria ser um infortúnio a você -senhorita Barclay clamou, com o cenho curvado e voz firme, o mais respeitosa que podia ser.

- Despertou minha curiosidade Barclay, a estava entrevistando para que cargo em específico? -mesmo que sua pergunta fosse direcionada a governanta, sua atenção não me abandonou.

- Sua mãe ordenou uma nova companhia para você, para cuidar exclusivamente de seu bem-estar e saúde -a explicação pareceu atingir a monarca em nossa frente.

Notoriamente ela discordava de sua mãe naqule aspecto, contudo, apenas assentiu com a cabeça, permanecendo calada por poucos instantes.

- Como devo me referir a você? -indagou, repousando a armação do acessório sob uma mesa solitária ao seu lado.

- Vossa Excelência gostaria de saber como me chamo? -repeti para mim mesma, tentando absorver aquela solicitação.

- Eu possuo riquezas inúmeras e um honroso título, todavia, não todo o tempo do mundo! Diga-me seu nome jovem audaciosa! -rogou seriamente e, por um momento, senti vontade de usar de um tom rude consigo, não me agradando com o modo esnobe e autoritário.

- Enid, Enid Sinclair! -respondi sem medo, mordendo meu lábio inferior sutilmente- e Vossa Graça? -me arrisquei em atrevimento, recebendo repreensão muda de Bianca Barclay.

A curiosidade, instigada em si, me deixava incerta sobre as consequências de meus atos, no entanto, a mesma parecia estar disposta a não me condenar a morte.

- Wednesday Addams I, duquesa de Nevermore -afirmou com exacerbada ênfase, se aproximando de mim.

A duquesa parecia fixada em minha pessoa, analisando-me de cima a baixo, com absoluta certeza, julgando-me por completo.

- Cancele seus demais afazeres senhorita Barclay, você vai a ensinar -declarou me surpreendendo, enquanto Bianca concordava- e providencie roupas menos vividas para a senhorita Sinclair, afinal, aparentemente, ela vai passar muito do seu tempo comigo -preceituou e eu não consegui conter uma expressão desgostosa, que foi notada. Ela sabia que não ia aderir a sua intimação.

A Addams não fez objeção alguma, somente franziu as sobrancelhas, segundos depois, voltando ao seu estado típico e deixando a sala. No entanto, eu ainda a sentia ali.

- Enlouqueceu Sinclair? Certamente foi a primeira pessoa, a qual, desafiou a duquesa e saiu impune! -Bianca se afobou em descrença.

- E ainda assim, ela me admitiu -pontuei, tão confusa quanto a outra, que somente suspirou, massageando a raiz de seu nariz.

- Eu não entendo os motivos de Vossa Mercê, mas não os questiono, então, vou lhe avisar sobre uma única coisa, senhorita Sinclair -explicou, virando-se para mim- existe somente uma regra que nunca deve ser quebrada -murmurou tão seriamente, que eu engoli a seco como reflexo.

- Que seria? -questionei, um tanto receosa.

- Nunca, em hipótese alguma, toque na duquesa! Isto é de extrema importância! E jamais deve se esquecer! -alertou soando sombria, como quem esconde um segredo mortal, e eu afirmei, lhe mostrando que entendi.

Afinal, por que eu não podia lhe tocar? Seria a duquesa tão arrogante, ao ponto de sentir repulsa com o toque de uma simples cidadã como eu?

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora