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Pov Enid

Wednesday Addams I. Aquela duquesa rondava meus pensamentos e, mesmo cansada, depois de um longo dia na The Crow, me dispus a apanhar uma das rosas de seu belo jardim e seguir ao seu quarto.

Poderia soar ingênuo demais de minha parte, lhe presentear com uma simples flor e esperar que ela aceite. Aquele era um dos motivos pelo qual meu coração batia descompensado.

Afinal, eu nem entendia o motivo de estar fazendo aquilo, de sentir aquela vontade estranho de lhe agradar um pouco. Sendo assim, deduzi estar somente demonstrando cortesia com a monarca.

Nossa relação estava melhor e eu queria a retribuir, de certa forma.

Dei suaves batidas na porta de seu quarto, todavia, não recebi resposta. Era incomum e estranho.

Eu sempre sabia o paradeiro de Wednesday, fazia parte do meu trabalho, então, ter ciência de que a mesma estava em seus aposentos íntimos e não me atendeu, me deixou aflita. Ademais, a menor sempre anunciava quando não queria ser incomodada.

Adentrei o cômodo, sem medo de qualquer consequência, e tremi quando encontrei a Addams apoiada em uma parede, suando frio e parecendo sentir tontura.

- Wednesday, deite no chão! -pedi, como da primeira vez, ignorando a cama tão bem posta, com lençóis escuros, os quais certamente eram de mil fios.

A verdade era que, eu não era autorizada a tratar da duquesa em uma superfície que não fosse confiável. Onde houvesse brechas que me permitissem encostar nela, mesmo que sem intenção.

Uma das regras que eu jurei seguir desde o meu primeiro dia, mesmo sem compreender a finalidade. Por que Wednesday Addams não podia ser tocada?

Afastei aqueles pensamentos, concentrada em si e, com o maior cuidado possivel, desabotoei os botões da camisa branca da monarca, controlando tudo em mim para manter o foco.

Sua pressão estava baixa, ela precisava respirar fundo e regularizar a temperatura de seu corpo. Aquele tecido quente atrapalhava o processo.

Arrastei um pequeno banco em direção de seus pés e ela os depositou sobre ele, de modo, que estava acima da altura de sua cabeça e coração. Ajudaria a manter o fluxo de oxigênio em seu cérebro.

Eu busquei por uma toalha de rosto em seu banheiro e a molhei, deixando-a úmida e suavemente gélida. Regressei, depositando o tecido sobre sua testa e intercalando entre seu pescoço e tórax.

Aos poucos, a consciência de Wednesday foi regressando e ela piscou lentamente, com os castanhos fixos em meus azuis.

- Oi -sussurrei, sentindo vontade de afastar alguns fios de sua franja de seu rosto, contudo, me contendo.

- Oi -respondeu com notória exaustão- o que houve? -sua pergunta soou fraca e eu senti meu peito apertar em consolo.

- Sua pressão caiu -expliquei com simplicidade, descendo suavemente a toalha por seu abdômen indecente.

A duquesa inspirou fundo, fitando meu gesto, com o lábio inferior sutilmente preso entre seus dentes.

- Eu acho que me sinto melhor, senhorita Sinclair -sussurrou rouca e eu engoli a seco, me afastando de si.

A menor se apoiou nos cotovelos, levantando o tronco minimamente. Sua mão seguiu ao seu rosto, ajeitando os fios de sua franja, os que eu queria ter ajeitado.

Como se ainda sentisse leve tontura, ela voltou a depositar o braço no chão e eu tive a perfeita visão de quando seus dedos, sem intenção, tocaram a flor que eu lhe trazia.

A bela e vital rosa, com o mais vermelho dos tons e o mais agradável perfume, então, começou a murchar, de tal modo, que suas pétalas se tornaram tão secas quanto um deserto e se desfizeram como pó.

A única coisa que restou, para comprovar que aquele botão um dia existiu, foi o caule contorcido e de cor tão escura.

A rosa estava morta e os castanhos de Wednesday assustados, fixados em meus azuis. Aquilo significava que, a cena que presenciei, não deveria ter existido.

- O que foi isto? -indaguei quase sem voz. Eu não tinha medo, eu era um espírito curioso que, acima de tudo, queria compreender e aceitar o que havia acontecido.

Aquilo foi anormal demais para ter sido uma mera e pura coincidência. E, a deduzir pela falta de reação da monarca, eu tinha ciência sobre quem era a responsável.

- Wednesday? -lhe precionei, notando sua respiração descompensada.

- Corrija seu vocabulário senhorita Sinclair! Eu sou a duquesa de Nevermore! -ordenou em arrogância e rudez, afastando-se o mais depressa possível.

Mordi o lábio inferior ressentida,  inspirando fundo e fechando o cenho, pronta para abandonar o ambiente.

- Peça para Eugene Ottinger me preparar uma refeição leve e rápida -concluiu fria, sem me fitar.

- Como Vossa Mercê desejar -respondi roboticamente, carregada a ironia. Por fim, me retirando.

Eu me recusava a esquecer aquilo e possuía certeza de que, o que quer que aquilo significasse, envolvida sua regra rígida e impolida sobre toque.

E eu iria descobrir o segredo de Wednesday Addams I, fosse ela a duquesa de Nevermore ou não. Ainda que a mesma tentasse me afastar a todo custo, eu o faria.

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora