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Pov Wednesday

O toque humano, nossa primeira forma de comunicação, cuidado e conforto. Tudo em um carinho gentil de um dedo, ou os lábios sob uma bochecha macia.

O afago nos conecta quando estamos felizes, nos prepara quando estamos com medo, nos anima em diversos momentos e isso é apenas uma parte do que chamamos de amor.

A sua ausência me fez refletir que, nós precisamos do toque de quem amamos quase tanto quanto de ar para respirar.

Inspirei fundo, assustada e ofegante. Eu tossia algumas vezes, todavia, não havia mais sangue, somente meu pulmão se acostumando com o oxigênio.

Fechei o cenho desgostosa, sentindo meu corpo dolorido, e pisquei poucas vezes. As gotas de chuva sobre mim eram geladas, todavia, os braços ao meu redor me protegiam.

E por um mero momento, eu relaxei. Mal recordava o quão bom era sentir aquilo! Sentir o toque! O cheiro mais intenso! E o claro barulho do coração pulsando!

Fiquei ali, em meu abrigo, até me lembrar e ter ciência do quão perigoso aquele contato era.

Me afastei velozmente, do modo afobado, e meus castanhos, automaticamente, se fixaram nos azuis de Enid Sinclair. Eles estavam inchados e vermelhos, em adição, existia descrença em si.

- Enid! Você perdeu a razão? -rosnei exaltada, não acreditando que ela havia me tocado.

- Você não morreu -sussurrou com lábios trêmulos, como se precisasse repetir aquilo para si mesma, para entender o que estava acontecendo- você não morreu! -gritou, abrindo um largo sorriso, chocando-se contra mim.

- Enid! -clamei, sentindo o medo me invadir, contudo, ele se tornou confusão quando a mesma se encolheu contra meu tronco, apertando-me mais forte.

Meu corpo inteiro tremeu e eu não sabia como reagir. Perdi o fôlego mais uma vez e não encontrei minha voz.

Me afastei minimamente e subi meus dedos trêmulos a sua face, sentindo o quão macias suas bochechas eram, e a sensação de minhas digitais contra sua pele era engraçada, contudo, preenchia meu interior com ternura e satisfação!

Eu passei minutos acariciando seu rosto, contornando cada minúsculo traço, gravando tudo em minha mente. Entrelacei meus dedos em seus fios dourados e sorri ao sentir a textura, o quão sedosos eram.

Não me lembrava o quão diferente as temperaturas humanas podiam ser. Enid era quente e eu fria, nosso contraste era o exato equilíbrio.

Parecia que eu estava descobrindo tudo, como uma criança curiosa, que acabou de perceber sua existência no mundo. E de fato, eu estava reconhecendo a majestosa sensação do toque.

Passei meu indicador sutilmente pelos lábios de Enid, deixando-o ali, e ela deu um beijo no mesmo, esperando pacientemente por minha interação com seu corpo.

- Como? -sussurrei, ainda buscando compreender o motivo, pelo qual, Enid ainda estava viva.

- Eu não sei -usufruiu do mesmo tom, com um sorriso abobado e feliz.

Percebi a existência de uma tulipa, perto de onde estávamos sentadas, e me estiquei, a pegando. A flor permaneceu intacta, sem secar, ou se desfazer e eu me surpreendi com aquilo.

Ela havia quebrado a maldição, eu não sabia como, contudo, tinha ciência de que Enid foi a responsável. Meu coração e mente concordavam sobre isso.

- Obrigada por voltar para mim! -agradeceu, se arrumando em meu colo, enlouquecendo-me. Todos os meus sentidos em relação ao toque pareciam estar muito mais apurados.

- Obrigada por não me deixar ir -murmurei perdida, com seus lábios perto demais de mim.

- Wendy? -chamou baixo e eu resmunguei, para que continuasse- me beija! -seu pedido me fez entrar em êxtase e eu o acatei.

Juntei nossos lábios com calma, gemendo derretida ao apreciar o nosso encaixe. Era tão perfeito que parecia que nossas bocas haviam sido feitas, exclusivamente, uma para a outra.

Beijar Enid estava me levando ao paraíso, em adição, seu gosto era espetacular, de modo, que havia se tornado meu preferido de imediato.

Uma mordida selvagem foi dada em meu lábio inferior e, então, Enid sorriu travessa durante o beijo. Eu me afastei minimamente com um bico e ela riu, voltando a me beijar.

Quando Sinclair me deu passagem e nossas línguas se encontraram, por Nevermore! Eu poderia infartar com o quão delicioso era aquele laço.

As unhas da mais nova arrancavam minha nuca e ombros, e as minhas mãos deslizavam por suas costas. Aquela garota era espetaculosa e era minha! Aprecia-la daquela maneira era uma benção.

Somente encerramos o contato, quando um estrondoso trovão soou, nos trazendo de volta a realidade. Para aquela noite tardia e chuvosa.

Fitamos o céu e depois nos encaramos, rindo cúmplices uma para a outra.

- Vamos para casa, Wendy -chamou, levantando-se do meu colo e me estendendo a mão.

Somente então, notei que o fio vermelho havia estourado, ainda laçando o mindinho de Sinclair e o meu, quase como uma aliança.

Eu aceitei de bom grado e entrelacei nossos dedos, custando me acostumar com o fato de poder tocá-la.

Quando nos viramos, encontramos Yoko e Ajax paralisados na porta. Ambos assustados, contudo, Yoko parecia feliz por nós, diferente de seu irmão.

- Somente um segundo -pedi quando estávamos passando pelos dois, soltando a mão de Enid.

Encarei Ajax com o cenho franzido e fechei o punho, descontando um soco em seu rosto.

- Eu ia somente assinar um mandato, te obrigando a pagar uma taxa mais alta de imposto, mas isso foi muito melhor! -admiti, com dor em meu punho, todavia, satisfeita.

- Wednesday! -Enid me repreendeu, puxando-me pelo braço e trocando um olhar com Tanaka, que concordou, levando seu irmão para casa.

A maior me fez sentar no braço do sofá e saiu do ambiente, poucos minutos depois, voltando com uma toalha.

- Você está bem? -perguntou secando meu rosto e cabelos, de modo que os bagunçou.

- Estou ótima! -afirmei com um grande sorriso, meu físico nunca esteve tão disposto.

A Sinclair fechou o cenho, em reprovação, e eu comprimi os lábios.

- Digo, estou péssima! Consciência pesada! -concertei, roubando seu riso gostoso.

A mesma apertou a ponta do meu nariz com o tecido e me deu um selinho carinhoso e longo, fazendo durar enquanto possuía ar nos pulmões.

- Vem, vamos tomar um banho, antes que você pegue um resfriado! -mandou, pegando-me pela mão.

- Vamos? -repeti com um sorriso ladino e sugestivo, enquanto a outra revirava suas íris em diversão, corando de leve.

- Separadas Wednesday, separadas! -cortou-me e eu bufei desgostosa, ainda assim, aceitando as imposições.

Sweet TouchOnde histórias criam vida. Descubra agora